sábado, 26 de abril de 2014

Cientistas políticos acham que suposto envolvimento de Padilha com doleiro dificulta sua campanha

Roberto Romano, da Unicamp, acha que Padilha pode ter sido “imprudente” ao indicar ex-assessor para empresa de doleiro

Germano Oliveira – O Globo

SÃO PAULO - O suposto envolvimento do ex-ministro Alexandre Padilha com a quadrilha liderada pelo doleiro Alberto Youssef, ao indicar seu ex-assessor Marcus Cezar Ferreira de Moura para cargo executivo da Labogen, traz problemas éticos para a campanha petista em São Paulo e aumenta as dificuldades do partido de derrotar o PSDB, há 20 anos no governo paulista. Segundo cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO, como Roberto Romano, professor de ética pública da Unicamp, Padilha cometeu no mínimo uma "imprudência" ao indicar um auxiliar para um doleiro, dizendo que ele deveria antes de mais nada levantar de quem se tratava a pessoa à qual indicaria um executivo.

Ele acha que a campanha fica abalada e respinga também na reeleição de Dilma, que depende dos votos de São Paulo. Já Claudio Couto, da FGV, diz que não é nada bom para um candidato que precisa se explicar, mas para se saber se ele deve ser substituído como pré-candidato ainda vai depender dos desdobramentos da investigação da PF.

— O prejuízo é enorme para a campanha de Padilha. Do ponto de vista ético, foi no mínimo falta de prudência. Antes de empreender qualquer ação, Padilha deveria ser se informado de quem se tratava a pessoa para a qual estaria indicando um ex-assessor. Agora, ele tem que assumir a responsabilidade por essa falta de prudência. Afinal, a Labogen era mais um laranjal do que uma indústria farmacêutica. Essa história de que uma autoridade nunca sabe de nada precisa acabar no Brasil — disse Romano.

Do ponto de visto político, o cientista da Unicamp entende que o futuro da candidatura de Padilha vai depender do desenvolvimento das investigações da PF.

— Se vier a aparecer nas investigações que houve dolo e que o ex-ministro sabia de quem Youssef se tratava, sua situação tende a piorar e o desgaste aumentar. Para quem começou a pré-campanha na ofensiva, com críticas ao governador tucano Geraldo Alckmin, não é nada confortável ter agora que ficar na defensiva exatamente no momento em que Padilha tentava consolidar sua candidatura como uma cara nova no cenário político estadual —disse Romano.

Segundo Romano, ainda é cedo para se falar em trocar o pré-candidato petista.

— Até porque, o PT não tem outros candidatos fortes. Os ministros Aloyzio Mercadante (Casa Civil), José Eduardo Cardozo (Justiça) e Marta Suplicy (Cultura) não se desincompatibilizaram e não podem ser candidatos e Rui Falcão (presidente nacional do PT) não tem apelo popular.
Para Cláudio Couto, da FGV. o fato de Padilha ter que passar a dar explicações, aumenta as dificuldades de sua candidatura.

— Tudo vai depender das explicações que o ex-ministro vai dar para o caso. Mas esse episódio, somado às dificuldades que o PT enfrenta a nível nacional com as denúncias envolvendo a Petrobras, agrava o quadro do palanque eleitoral da Dilma em São Paulo. Agora, é preciso esperar os desdobramentos das investigações da PF e ver se surgem novos indícios de vinculos nefastos para o pré-candidato petista. Esses fatos podem desembocar em consequências mais graves para a candidatura petista ou morrer na praia como muitos casos morrem — disse Couto.

Já o historiador Marco Antonio Vila, da Universidade de São Carlos (Ufscar), acredita que o diálogo do deputado André Vargas (PT-SP) com o doleiro Alberto Youssef sobre a indiciação de Padilha para um cargo de executivo da Labogen cai como "uma bomba" na campanha petista, no exato momento em que o partido costura alianças e percorre o interior do Estado em busca de apoios da sociedade.

— Isso é péssimo para a campanha do PT em São Paulo, assim como foi ruim para o PSDB de Minas com o Pimenta da Veiga tendo que explicar os R$ 300 mil recebidos do Marcos Valério. É difícil sustentar candidaturas com denúncias como essas. Dos dois, a situação mais difícil é a de Padilha. Afinal, a presidente Dilma, que está em queda nas pesquisas, contava com um palanque forte em São Paulo para alavancar sua eleição no maior colégio eleitoral brasileiro.

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