sábado, 5 de abril de 2014

Prefeitos opositores denunciam perseguição na Venezuela

Dos 76 eleitos, 23 são alvos de procedimentos abertos no MP ou no Judiciário, segundo a Associação de Prefeitos

Deputada cassada María Corina Machado voltou a pedir que a presidente Dilma se solidarize com a oposição venezuelana

O Globo

CARACAS — No mesmo dia em que o líder opositor Leopoldo López foi acusado pelo Ministério Público venezuelano por quatro crimes relacionados aos protestos no país, o também opositor Carlos Ocáriz, prefeito da cidade de Sucre — uma das que formam a região metropolitana de Caracas — denunciou uma perseguição contra políticos não chavistas eleitos no pleito municipal de dezembro passado. Segundo Ocáriz, desde então, 23 dos 76 opositores eleitos para prefeituras são alvos de procedimentos abertos no MP ou no Judiciário.

— Isto é muito grave para o Estado de direito e a liberdade democrática de nosso país. Pedimos que, na próxima visita de chanceleres da Unasul, possamos ter uma audiência privada com eles para explicar a perseguição de que os prefeitos são vítimas — disse, em reunião da Associação de Prefeitos da Venezuela, formada por opositores.

Segundo o Ministério de Relações Exteriores venezuelano, chanceleres de Brasil, Argentina, Equador, Colômbia e Suriname estarão na Venezuela segunda e terça-feira para dar continuidade ao “processo de acompanhamento e apoio ao diálogo com todos os setores da sociedade venezuelana”.

A opositora María Corina Machado, cujo mandato de deputada foi cassado com apoio de chavistas no Legislativo e no Judiciário, voltou a pedir que a presidente Dilma Rousseff se solidarize com a oposição venezuelana. María Corina esteve nesta sexta-feira em São Paulo, onde reuniu-se com o governador Geraldo Alckmin (PSDB), após passar por Brasília.

— O governo deseja uma guerra do povo contra povo, mas o que há é uma guerra contra os civis por parte de um regime que é um dos mais corruptos de nossa História — disse a opositora, que volta neste sábado para Caracas.

María Corina voltou a negar que a oposição queira dar um golpe de Estado e criticou a influência do Executivo chavista sobre os outros Poderes.

— Não cremos em golpes. Golpe foi dado por Maduro quando, a partir da Presidência, controla todos os demais Poderes, viola a Constituição, viola os direitos humanos — acusou.
A opositora foi cassada por falar na Organização dos Estados Americanos (OEA) como integrante da delegação do Panamá. O governo afirma que atitude de María Corina foi inconstitucional, o que a oposição nega.

Em paralelo às denúncias de opositores, a procuradora-geral da Venezuela, a chavista Luisa Ortega Díaz, informou que Leopoldo López foi acusado pelos crimes de incitação à violência e associação para o crime, além de ser apontado como o mandante de danos a propriedades e de incêndio criminoso. No fim da tarde, milhares de militantes da oposição se reuniram numa praça de Caracas para defender a libertação de López, cujos 45 dias de prisão preventiva se esgotam neste sábado.

— Queremos ratificar a natureza antidemocrática deste governo — acusou Freddy Guevara, um dos dirigentes do partido Vontade Popular, de López. — Convocamos um protesto permanente de 24 horas contínuas. Não temos medo, será uma grande assembleia de 24 horas.
Segundo a procuradora-geral, 67 pessoas foram indiciadas por crimes em protestos. O presidente Nicolás Maduro declarou nesta sexta-feira que a depredação nas manifestações desde fevereiro deixou um prejuízo de US$ 15 bilhões.

O custo humano dos embates entre governistas, opositores e forças de segurança nas ruas também permanece alto. Segundo balanço do MP, 39 pessoas morreram e 608 ficaram feridas em manifestações. Os civis são maioria entre as vítimas: 31 mortos e 414 feridos. O restante é formado por militares, policiais e outros funcionários públicos. (Colaborou Germano Oliveira, de São Paulo)

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