quarta-feira, 16 de abril de 2014

Refinaria não foi bom negócio, diz Graça Foster

Na avaliação do governo, depoimento não conseguiu esvaziar pressão por CPI

Presidente da Petrobras endossou Dilma ao afirmar que relatório que norteou a aquisição estava incompleto

Aguirre Talento e Matheus Leitão – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Em seis horas de depoimento ontem no Senado, a presidente da Petrobras, Graça Foster, admitiu que a compra da refinaria de Pasadena (EUA), em 2006, "não foi um bom negócio", mas endossou a versão de Dilma Rousseff ao afirmar que estava incompleto o resumo em que se baseou a aquisição.

"Não existe operação 100% segura, imagino que em nenhuma atividade comercial e certamente não na indústria de petróleo e gás", afirmou.

Na avaliação de parlamentares da oposição e do próprio governo, as explicações não surtiram o efeito desejado pelo Palácio do Planalto, que era esvaziar a pressão para a instalação de uma CPI da Petrobras no Congresso.

Senadores de oposição voltaram a defender a investigação durante e após o depoimento de Graça. Já os governistas reconheceram, nos bastidores, que ela conseguiu apenas reforçar a versão da presidente Dilma, que deu o aval ao negócio em 2006.

Na época, Dilma presidia o Conselho de Administração da estatal e apoiou a compra. Em março, no entanto, afirmou que o fez com base em um parecer jurídica e tecnicamente "falho".

Assim como a presidente, Graça criticou o ex-diretor da área internacional Nestor Cerveró, que fez o resumo executivo "sem citação a duas cláusulas contratuais completamente importantes".

"Quando fazemos uma apresentação ao Conselho de Administração e tratamos o resumo executivo, ele deve conter todas as informações necessárias e suficientes para a devida avaliação do que se pretende fazer. Além disso, é obrigação apontar os pontos fracos e frágeis", disse a presidente da Petrobras.

A executiva foi cobrada pela oposição a explicar qual foi a punição dada ao então diretor quando se descobriu o parecer supostamente falho.

Graça deu então a entender que a transferência de Cerveró para a diretoria financeira da BR Distribuidora representou uma espécie de rebaixamento, por se tratar, segundo ela, de um cargo menor, mais modesto.

Mau negócio
Segundo Graça, a refinaria de Pasadena provocou perdas de US$ 530 milhões à estatal e só começou a dar lucro neste ano, contabilizado em US$ 58 milhões nos dois primeiros meses.

"Não foi um bom negócio. Isso é inquestionável do ponto de vista contábil. É um projeto de baixa probabilidade de recuperação do resultado", afirmou.

Ela, porém, ressaltou que as informações que o conselho tinha à época apontavam que a aquisição aparentava ser um bom negócio.

Graça ainda rebateu a informação de que a Astra Oil, de quem a Petrobras comprou inicialmente a metade de Pasadena, havia adquirido a refinaria anteriormente por apenas US$ 42,5 milhões.

Segundo ela, a Astra Oil pagou ao menos US$ 360 milhões, incluindo US$ 112 milhões em investimentos. Já a Petrobras desembolsou, ao fim do negócio, ao menos US$ 1,25 bilhão.

O esforço de Graça em responder os questionamentos de 27 senadores não evitou a queda de 3,83% das ações da estatal na Bolsa de Valores.

Em dos embates com a oposição, a presidente da estatal rebateu a afirmação do senador Pedro Taques (PDT-MT), que insinuou que a estatal estaria sendo gerida como uma quitanda. "Quando os senhor fala que a Petrobras é uma quitanda quero dizer que não é uma quitanda. Mas uma [empresa] absolutamente séria pelo desafio que enfrentamos todos os dias."

A presidente da estatal também reconheceu que a prisão do ex-diretor Paulo Roberto Costa pela Polícia Federal provocou "grande constrangimento" na empresa.

Costa é um dos alvos da Operação Lava Jato, que apura esquema de lavagem de dinheiro e de repasse de dinheiro de empreiteiras e fornecedoras da Petrobras a partidos políticos.

Colaborou Samantha Lima, do Rio

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