segunda-feira, 28 de abril de 2014

Ricardo Noblat: O que o PT teme

“Esta eleição vai ser um lamaçal. Todo mundo jogando lama para todo lado” Paulo Bernardo, ministro da Comunicações

- O Globo

Um doleiro é um doleiro, um doleiro, um doleiro. Pode até se apresentar como se fosse também outra coisa – um “homem de negócios”, talvez. Ou um empresário de qualquer ramo – quem sabe? Mas não deixará de ser um doleiro.

Sua fama o precede. Sua movimentação o expõe. Seus hábitos o denunciam. É impossível, por isso mesmo, conviver com ele e ignorar que se trata de um doleiro. Certo? Depende.

Submeta ao deputado federal Luiz Argôlo (PSD-BA) as mensagens eletrônicas que ele trocou no último dia 28 de fevereiro com Alberto Youssef, preso há pouco mais de um mês pela Polícia Federal sob a suspeita de chefiar um esquema de lavagem de dinheiro que movimentou cerca de R$ 10 bilhões.

E pergunte se na ocasião ele sabia que Youssef era doleiro. Com toda certeza dirá que não.

“Bom dia!”, saudou Argôlo. “Bom dia!”, respondeu Youssef. “Você sabe que tenho um carinho por você e é muito especial”, continuou Argôlo. “Eu idem”, retrucou Youssef. “Queria ter falado isso ontem. Acabei não falando. Te amo”, derramou-se o deputado. “Eu amo você também. Muitooooooooooo”, retribuiu o doleiro. “Sinto isso. E aí? Já melhorou? Melhorou?”, insistiu Argôlo. “Por favor, me diga alguma coisa”.

Não se sabe se Youssef atendeu ao apelo de Argôlo e disse mais alguma coisa. Acabou por ali a transcrição da conversa que consta de um relatório da Polícia Federal. Foi Felipe Patury, colunista da revista ÉPOCA, quem a publicou primeiro.

Procura-se quem tenha conhecido Youssef como doleiro antes de ele ser preso. A autoridade policial (61 3223-2302/2024-8450/8452) agradece desde já por qualquer informação.

Forçado pelo PT a renunciar à vice-presidência da Câmara e a se desfiliar do partido, o deputado André Vargas admitiu que é amigo de Youssef há mais de 20 anos.

Pediu a Yousseff que providenciasse um jatinho para que ele e a família voassem do Paraná à Paraíba? Pediu, sim.

Uma vez pediu que lhe reservasse a mais luxuosa suíte de um hotel em Londrina de propriedade de Youssef? Pediu.

Vargas cobrou de Youssef pagamento supostamente devido a um dos seus irmãos? Cobrou. E falou sobre negócios com Youssef? Bem, em termos.

Agiu para favorecer um laboratório de Youssef em suas relações com o Ministério da Saúde, conforme indicam diálogos interceptados pela Polícia Federal com autorização da Justiça? Ah, nunquinha. Apenas “orientou” Youssef a como proceder quanto a isso.

Vargas sabia que Youssef era doleiro? Imagina! Vargas já disse e repetiu que jamais soube que Yousseff fosse doleiro.

Tampouco sabia Carlos Borges, diretor do fundo de pensão dos economiários Federais, o terceiro maior fundo do país, com um orçamento de R$ 52 bilhões. Borges confirma que se reuniu com Youssef no ano passado a pedido de Vargas. Mas daí a saber que ele fosse doleiro vai uma longa distância, argumenta.

O deputado Cândido Vacarezza (PT-SP) se recusa a “negar peremptoriamente” que tenha recebido Yousseff em seu apartamento de Brasília. Se isso ocorreu, porém, foi porque Youssef “estava na companhia de Vargas”.

Yousseff doleiro? Não. Youssef empresário – o mesmo que fez parte de uma comitiva oficial do governo brasileiro que visitou Cuba em 2008 ou 2009. O deputado Vicente Cândido (PT-SP) o viu por lá. E depois voltou a vê-lo em São Paulo.

Na época, Yousseff não era um desconhecido. Seu nome fora citado no escândalo que sacudira o Banestado. E depois no escândalo do mensalão.

A CPI do Correio começou investigando o pagamento de uma reles propina e acabou por descobrir o mensalão. O PT teme que a história se repita com a CPI destinada a investigar malfeitos na Petrobras.

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