sexta-feira, 2 de maio de 2014

Eliane Cantanhêde: Perna curta

- Folha de S. Paulo / EBC

O pronunciamento de Dilma Rousseff para o Primeiro de Maio, a dois dias da convenção de dilmistas e lulistas, que ocorre hoje em São Paulo, foi um risco político com requintes de crueldade.

A mesma Dilma que aumentou o IOF para viagens internacionais bem no início das férias agora anuncia a correção de 4,5% na tabela do IR na fonte no último dia para a entrega das declarações deste ano. O Leão lambia os beiços enquanto os brasileiros ouviam a presidente anunciar um saco de bondades --para o ano que vem e o próximo governo.

Alguém acredita que Dilma possa ganhar um só voto da classe média e da massa de contribuintes com essa jogada marqueteira?

Na outra ponta, a presidente anunciou um aumento de 10% no Bolsa Família, que atinge em torno de 36 milhões de pessoas de um universo de eleitores já naturalmente de Dilma, ou melhor, de Lula.

Alguém acredita que Dilma possa ganhar um só voto a mais dos beneficiários do programa a partir do pronunciamento na TV?

Bem, então o capital adorou o discurso, certo? Pelo contrário, só viu mais gastos e mais inflação.

Assessores palacianos julgam o pronunciamento capaz de estancar a queda na popularidade e nas intenções de voto, vendendo Dilma como "boazinha" diante de Aécio e Campos, "malvados" prontos para sacar medidas impopulares.

Parece pouca areia para o caminhão de críticas à presidente, ao seu governo e ao seu partido. E, além disso, o histórico de pronunciamentos de Dilma é meio constrangedor.

Num, ela meteu o dedo na cara dos bancos privados, jactando-se da queda dos juros. Mas... os juros voltaram a subir e já são maiores do que quando ela assumiu.

Noutro, capitalizou politicamente a redução na conta de luz. Mas... a conta já voltou a subir e vem aí aumento impostos para cobrir medidas estabanadas no setor elétrico.

Esperteza costuma ter perna curta.

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