segunda-feira, 12 de maio de 2014

Festa de casamento de Picciani vira beija-mão a Aécio Neves

• Parlamentares e prefeitos do PMDB fizeram fila para cumprimentar o pré-candidato à Presidência no casamento de Jorge Picciani, líder do movimento ‘Aezão’

Alexandre Rodrigues, Cássio Bruno - O Globo

RIO — Os protagonistas eram o presidente regional do PMDB, Jorge Picciani, e sua noiva, Hortência Oliveira, mas foi o senador Aécio Neves (PSDB-MG) quem roubou a cena na festa de casamento para cerca de 700 pessoas que reuniu a elite política do Rio na noite de sábado. O pré-candidato do PSDB à Presidência foi praticamente o último a chegar, já depois da cerimônia evangélica realizada numa luxuosa casa de festas do Itanhangá, Zona Oeste do Rio, mas virou a estrela principal numa espécie de beija-mão. Parlamentares e prefeitos, a maioria do PMDB, fizeram até fila para cumprimentar Aécio, ciceroneado pelo ex-governador Sérgio Cabral (PMDB).

O tucano se mostrou um bom aluno, chamando quase todos pelo nome. Ele se esforçou para potencializar a debandada de peemedebistas fluminenses da campanha de reeleição de Dilma Rousseff (PT) para a do PSDB. O motivo é a candidatura do senador petista Lindbergh Farias ao governo estadual, que rompeu a aliança PT-PMDB com o governador Luiz Fernando Pezão, candidato à reeleição e atrás nas pesquisas.

— Ali ficou muito claro que a maior parte do PMDB do Rio, principalmente os prefeitos, vai pedir votos para o Aécio e não para a Dilma. Ninguém se conforma com o fato de o PT ter abandonado o Pezão. Mesmo que o PMDB mantenha a aliança nacional com o PT, a maioria no Rio não vai seguir — confidenciou um cacique do PMDB sobre o movimento dos correligionários, já apelidado de “Aezão”. — Aécio foi muito simpático, mas só falou amenidades.

Apesar da descontração, o tom das conversas era mesmo político. Aécio passou a maior parte do tempo em pé, passeando entre as mesas na companhia de Cabral, de quem é amigo desde a juventude. Já Pezão ficou mais tempo na mesa com a mulher, onde também ficaram as esposas de Cabral, Adriana Ancelmo, e de Aécio, Letícia Weber, que está grávida. O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), conversou rapidamente com Aécio e foi embora cedo.

O movimento “Aezão” tem a liderança de Picciani, mas Cabral, Pezão e Paes se dizem comprometidos com Dilma. Mesmo assim, Cabral não economizou esforços para enturmar Aécio. O alvo principal eram os prefeitos fluminenses, como Nelson Bornier (PMDB), de Nova Iguaçu — cidade que foi administrada por Lindbergh até 2010 —, que já declarou apoio ao tucano. Também estavam lá os prefeitos Alexandre Cardoso (Duque de Caxias), um dos coordenadores da campanha de Dilma no Rio; Rogério Cabral (Nova Friburgo) e Helil Cardozo (Itaboraí), entre outros.

A cada um que Cabral apresentava, Aécio brincava: “Cabral, libera!”, referindo-se a um apoio formal do PMDB do Rio. Ele deu a mesma atenção a deputados estaduais e vereadores, dizendo “preciso de vocês”. O presidente da Câmara do Rio, Jorge Felippe (PMDB), saiu elogiando a “humildade” dele.

Como O GLOBO mostrou ontem, peemedebistas fluminenses articulam uma aliança para Pezão com três presidenciáveis: Aécio, Dilma e Pastor Everaldo (PSC), este último também entre os convidados de Picciani. O presidente regional do PT, Washington Quaquá, ironizou a ideia:

— Acaba sendo o palanque da traição. Não contempla nenhum dos três candidatos. É incoerente!

Líder do governo na Assembleia, o deputado André Correa (PSD), que também esteve na festa, rebateu:

— Ter três palanques não é traição. Poderíamos dizer que traição é o PT ter participado de sete anos do governo Cabral e ter lançado o Lindbergh. Mas acho legítima a candidatura dele. Se a Dilma pode ter quatro palanques (Pezão, Lindbergh, Marcelo Crivella e Anthony Garotinho), Pezão pode abrir palanque para três. A chapa “Aezão” já pegou.

Quando Aécio, Pezão e pastor Everaldo posaram juntos para uma foto, houve quem brincasse:

— Só falta a Dilma!

Em outro momento, Aécio tentava organizar um encontro de apoio à sua pré-candidatura com prefeitos de cidades que fazem divisa entre Minas Gerais e Rio. A conversa sobre o assunto foi com o prefeito de Três Rios (RJ), Vinícius Farah (PMDB).

— Aécio precisa dos prefeitos do PMDB, já que o PSDB só tem um, o de Itaguaí. Ali estava a cúpula da política fluminense, e Aécio conseguiu uma empatia muito grande — disse a vereadora tucana Teresa Bergher.

O presidente regional do PROS, deputado Hugo Leal, conversou muito com os deputados estaduais Luiz Paulo Correa da Rocha (PSDB) e Comte Bittencourt (PPS). Os tucanos têm dificuldade de aderir a Pezão, por causa da oposição que fizeram a Cabral e não concordarem com o apoio do candidato a Dilma, mas também relutam em subir no palanque de Cesar Maia (DEM). Falou-se numa alternativa com o PROS, embora o partido já tenha lançado a pré-candidatura do deputado Miro Teixeira, com apoio do pré-candidato à Presidência pelo PSB, Eduardo Campos.

Nas mesas do PMDB, com a definição da candidatura de Cabral ao Senado, o senador Francisco Dornelles (PP) confirmou que não vai concorrer à reeleição e pôs seu nome à disposição como vice de Pezão. Outro nome ventilado para a posição foi o da deputada estadual Cidinha Campos (PDT), também entre as convidadas da festa.

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