segunda-feira, 5 de maio de 2014

Preferência partidária tem queda histórica

Cristian Klein – Valor Econômico

SÃO PAULO- A queda de popularidade do governo da presidente Dilma Rousseff - além de começar a reduzir as intenções de voto da pré-candidata do PT à reeleição, como constatado pela pesquisa CNT/MDA, na semana passada - tem transformado seu mandato numa era dos extremos, com o registro de taxas recordes de eleitores sem preferência partidária e que dizem que votarão em branco ou nulo na disputa presidencial.

A eclosão dos protestos populares de rua, em junho do ano passado, mudou radicalmente alguns dos principais indicadores políticos. Um deles é o que mede a relação da população com os partidos. Pouco antes das manifestações, em março, no auge da popularidade de Dilma, 53% dos eleitores tinham simpatia por alguma legenda. De acordo com levantamentos do Datafolha, foi o ápice da série histórica iniciada pelo instituto em 1989. O auge, no entanto, desde então deu lugar, em apenas 14 meses, a um tombo brusco na preferência partidária que hoje atinge seu menor nível em 25 anos. Apenas 30% dos eleitores, segundo as pesquisas do Datafolha de fevereiro e deste mês, indicam uma sigla preferida - 66% dizem não ter simpatia por qualquer agremiação. Isso coincide com as menores taxas de avaliação de governo registradas no mandato da petista.

No governo Dilma Rousseff também ocorreu a maior lua-de-mel dos eleitores com o PT desde 1989 - com o recorde de 31% de simpáticos à legenda, em abril de 2012 - logo seguida do maior declínio na preferência pelo partido, de 14 percentuais, quando caiu para 17%, quatro meses depois. Neste caso, o tombo se deu em agosto, depois do início do julgamento dos réus dos mensalão, pelo Supremo Tribunal Federal, e que levou mais tarde à prisão de petistas históricos como os ex-presidentes da sigla José Dirceu e José Genoino.

A queda recorde na taxa de preferência partidária no país, por sua vez, coincide com outro dado que passou a superar, em muito, o registrado em anos eleitorais, desde a redemocratização: o de pessoas que dizem que votarão em branco ou nulo para presidente. À essa mesma época, a seis meses da eleição, o percentual, de acordo com o Datafolha, era de 11%, em 1989; de 12%, em 1994 e 1998; de 8%, em 2002; 7%, em 2006; e de 8%, em 2010. Agora, está em nada menos do que 20%, ou seja, uma vez e meia em relação à última corrida presidencial.

Uma marca no perfil dos desencantados com a oferta de candidatos à Presidência é, justamente, a falta de preferência partidária. Enquanto na média da população, 66% não têm simpatia por qualquer agremiação, entre os que votam em branco ou nulo, a taxa sobe a 80%. Esse grupo, em dado fornecido com exclusividade pelo Datafolha ao Valor, é caracterizado pela presença maior de pessoas do sexo feminino, na faixa entre 35 e 44 anos de idade, com escolaridade média e superior, sem religião, moradoras de capitais e cidades com mais de 500 mil habitantes, que têm carteira assinada e ganham entre R$ 2.172,01 até R$ 3.620,00.

São estes 20% de insatisfeitos que os presidenciáveis terão que trabalhar mais para conquistar o voto. É um grupo que ganhou corpo com os protestos de junho mas difere do perfil dos manifestantes que foram às ruas, no ano passado. A alta escolaridade até guarda alguma semelhança entre os grupos, mas não a idade, já que a multidão que protestou era formada em sua maioria por jovens, ressalta Mauro Paulino, diretor do Datafolha. "Não são grupos comparáveis", diz.

Paulino afirma que convencer estes eleitores será mais difícil para Dilma do que para os seus adversários: o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB).

Isso porque outra marca do grupo é a maior rejeição à presidente. No eleitorado total, todos os três despertam a mesma taxa de rejeição, de 33%, mas, entre os que votam em branco e nulo, Dilma é mais rechaçada, por 43%, enquanto Aécio é rejeitado por 32% e Campos, por 29%. "Aécio e Campos têm mais chance de convencer esse eleitorado do que Dilma", afirma.

Com o clima de mudança apontado por todos os institutos, analistas chamam a atenção para o aparente paradoxo entre a queda de popularidade de Dilma e a relativa estagnação da intenção de voto de seus adversários - o que começou a ser rompido pelos últimos levantamentos que detectaram subida de Aécio e Campos. Paulino, no entanto, não concorda com a hipótese de que os descontentes com Dilma estariam primeiro expressando o voto em branco e nulo, como um ponto de espera, para depois decidirem pela oposição. "Geralmente, essa migração ocorre para os indecisos", diz.

Para o diretor do Datafolha, a direção destes votos terá a ver com o "legado emocional" da Copa do Mundo. Ou seja, a possibilidade de novas manifestações, a imagem que o Brasil passará ao exterior como país organizador do Mundial e, inclusive, o desempenho em campo da Seleção, o que normalmente é subestimado pelos analistas, mas que desta vez, afirma, pode ter influência.

Paulino lembra que o índice de eleitores que dizem ter mais vergonha do que orgulho de ser brasileiro, 20%, também é muito superior às taxas de 2010 (9%), 2006 (10%) e 2002 (13%), e estão similares aos 19% do pós-junho de 2013. O diretor do Datafolha afirma que a vantagem de Dilma ainda é a situação de pleno emprego, embora a sensação de piora do mercado de trabalho, que derrubou o PSDB em 2002, tenha aumentado.

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