quarta-feira, 21 de maio de 2014

Pressão pela CPI Mista

Étore Medeiros, Paulo de Tarso Lyra – Correio Braziliense

No dia em que terminou o prazo para a indicação, pelos líderes partidários, dos nomes para integrar a CPMI Mista, governo e oposição seguem em pé de guerra. Partidos adversários do Planalto cobraram a demora da base em apresentar os nomes. Aliados do Planalto admitem convocar Paulo Roberto Costa para depor na CPI do Senado e esvaziar os trabalhos da Comissão Mista. Nos bastidores, o diretor corporativo e de serviços da Petrobras, José Eduardo Dutra, afina o discurso de diretores e ex-diretores da estatal para amenizar os estragos.

Na Câmara, apenas o PT ainda não indicou os integrantes da CPI Mista. No Senado, a base aliada não apresentou nenhum nome e torce para que Renan demore o máximo para indicar os integrantes governistas. A expectativa é que a CPMI seja instalada na próxima terça-feira. A oposição ameaçou instalar hoje a CPMI, uma vez que, regimentalmente, já foi ultrapassado o mínimo de 17 das 32 indicações para que a comissão comece a funcionar.

Com o risco de não contar com o apoio de todos os integrantes da comissão, no entanto, os oposicionistas preferiram esperar pelo fim do prazo para indicações por Renan. "Eu não posso garantir é que, mesmo havendo 19 indicações, 17 deputados e senadores compareçam a uma reunião. Na terça-feira inexoravelmente teremos os 32 nomes", explicou o senador José Agripino (DEM-RN).

No início da tarde de ontem, deputados e senadores da oposição exibiram, em um telão instalado no Salão Verde da Câmara, a relação dos parlamentares já indicados para a CPMI, e cobraram dos partidos da base governista que indiquem os nomes que ainda faltam. A iniciativa é "para que o povo saiba os partidos que estão inviabilizando a CPMI para investigar a Petrobras", explicou o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE).

O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), garante que "a CPMI vai acontecer, assim como a CPI do Senado está acontecendo". A estratégia, contudo, é chamar o máximo de depoentes possível — incluindo o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa — para depor antes na CPI do Senado, blindada pelos governista e desidratar a outra comissão, que conta com a presença dos parlamentares da oposição.

Para ganhar um dia no prazo para a indicação de nomes, deputados da base tentaram prolongar uma sessão solene em homenagem aos 90 anos da Coluna Prestes, na Câmara, de forma a inviabilizar a sessão ordinária que começaria logo em seguida — e que contaria no prazo para a instalação da CPI Mista. A tentativa foi frustrada pelo deputado Inocêncio Oliveira (PR-PE), que encerrou a homenagem abruptamente, iniciando um grande bate-boca. "Isso é um absurdo!", esbravejava a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA). "Não vou permitir.

Todos sabiam que tinha que encerrar antes das 14h", retrucava Oliveira.

Crítica de Campos
O pré-candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, voltou a atacar, ontem, o governo pela investigação sobre o Porto de Suape, em Pernambuco, ter sido incluída na CPI da Petrobras. "Alguns têm medo desta investigação e querem colocar Suape. Não tem problema, que se investigue Suape também. A nossa atitude será completamente diferente", afirmou Campos, em Paulo Afonso (BA), onde participou de ato com políticos. Depois de dizer que a inclusão de Suape foi um "ato de desespero" do governo, Campos ironizou: "Será um prazer mostrar como a gente geriu bem Suape".

Personagem da notícia Dutra vira bombeiro
José Eduardo Dutra tem utilizado todo o seu livre trânsito no governo e na Petrobras para ajustar o discurso em torno da compra da refinaria de Pasadena, no Texas. Atual diretor Corporativo e de Serviços da Petrobras, Dutra presidiu a estatal no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. Foi sucedido por José Sérgio Gabrielli. Em 2010, como presidente eleito do PT, coordenou a campanha da presidente Dilma Rousseff ao Planalto. Há cerca de um mês, Dutra passou a atuar como bombeiro. As declarações de Dilma, Gabrielli e da atual presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, só aumentaram as controvérsias em torno do assunto. Para piorar, Gabrielli e Foster — que não acha necessário comparecer à CPI do Senado — não são amigos e a divisão interna joga contra o governo. O primeiro sinal de êxito foi dado ontem: Gabrielli adotou, no Senado, um discurso mais alinhado com o Planalto. (PTL) Colaboraram André Shalders e Naira Trindade

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