segunda-feira, 5 de maio de 2014

Ricardo Noblat: A política como ela é

Ninguém vai me separar do Lula. Sei da lealdade dele a mim e ele da minha lealdade a ele. Dilma

- O Globo

Na última segunda-feira, à tarde, o mineiro Bernardo Santana, líder do PR na Câmara, trocou a foto de Dilma que tinha no seu gabinete por uma de Lula e leu com a voz empostada um documento assinado por 20 dos 32 deputados do seu partido pedindo a volta do ex-presidente.

À noite, em um restaurante de Brasília, revelou a uma eclética plateia as verdadeiras intenções que o levaram a fazer o que fez:

Na véspera, espalhei entre os fofoqueiros que a maior parte da bancada estava disposta a romper com o governo. No dia seguinte, a imprensa publicou. Aí eu vi que correria o risco de ficar quase sozinho. Então pensei muito sobre o que fazer em seguida. Foi quando saquei que o apoio ao “Volta, Lula!”, seria capaz de atrair a maioria da bancada. Deu certo. A maioria ficou comigo. E não precisa necessariamente largar o governo nem devolver os cargos.

Era um passito à frente e dois atrás. Se tivesse dependido de mim eu teria ido direto para o rompimento. O rompimento de verdade com o governo Dilma. E aí passaria a apoiar outro candidato a presidente. Quem? A maioria da bancada quer apoiar Eduardo Campos. Eu já disse isso ao Aécio. Não tem jeito. Mas se eu tivesse ido para o rompimento teria sido abandonado pela maioria. E aí perderia uma grande vantagem.

O “Volta, Lula” é uma forma de romper com o governo sem romper, entende? Por uma questão de segurança, colhi assinaturas dos deputados. Mas garanti a eles que não publicaria os nomes de jeito nenhum. Protegi meus liderados. E ao mesmo tempo me protegi caso duvidassem que a maioria apoia minha posição. Se o PT ficou feliz? Bem, uma grande parte dele ficou feliz, sim. Não viu o Vacarezza que estava comigo naquela mesa ali?

O Berzoine me ligou. E a pedido dele fui encontrá-lo no Palácio do Planalto. Ele perguntou: “Porra, que merda é essa?” Veja: não foi ele quem me disse isso. Deduzi pelo semblante dele, pelo tom de voz dele, que estava contente com a posição da bancada de apoio ao “Volta, Lula!”. Não me ofereceu nada. Nem eu aceitaria. Ao apoiar o “Volta, Lula!”, deixei claro que o partido apoiará Dilma até deixar de apoiar.

Se Lula vai topar ser candidato? Duvido. Lula é muito inteligente. Ele sabe que o próximo presidente, seja ele quem for, será obrigado a fazer os ajustes que a Dilma não fez. Vai ter que adotar medidas duras que deixarão as pessoas insatisfeitas. Lula não entrará nessa fria. Poderá vir mais adiante se apresentando como o pai da pátria, o salvador da Nação. Mas agora, não. Ele não é tão corajoso assim.

O governo está pressionando todo mundo. Mas não tenho medo que queiram investigar a minha vida. Dizem que fui um dos deputados que mais gastaram para se eleger. Mentira! Posso ter sido um dos que mais admitiram ter gastado muito. Mas 85% do que gastei foram provenientes da minha empresa. Sou industrial. Voto no Congresso de acordo com os interesses da indústria. Mas rabo preso? Não tenho.

O Youssef [Alberto, doleiro] vai abrir o jogo. Dizem que ele vai entregar cerca de 45 parlamentares entre deputados federais e senadores. Não ligo para isso. Quem não deve não teme. Sou filho, neto, bisneto, tataraneto de políticos. Estou no primeiro mandato como deputado federal. Meu pai foi seis vezes deputado federal e quatro estadual. Tenho orgulho disso.

A Polícia Federal tem várias alas. E o governo não manda em todas. É por isso que muitas coisas estão por vir.

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