terça-feira, 3 de junho de 2014

Com consumo em queda, indústria dá férias coletivas

• Férias coletivas chegam às fábricas de eletrodomésticos e eletrônicos

• Após montadoras, setor é afetado pelo desaquecimento da economia

• Estoques altos e feriados da Copa do Mundo afetam empresas de diferentes setores

Lino Rodrigues / Ronaldo D’Ercole – O Globo

SÃO PAULO - O ritmo morno da economia levou indústrias de diferentes áreas, especialmente dos setores de eletrodomésticos e de motocicletas, a dar férias coletivas aos empregados a partir deste mês. Além disso, os feriados previstos para a Copa também têm efeito na indústria. Desde segunda-feira, a Electrolux colocou em férias coletivas cerca de 4.600 dos 8.600 funcionários de suas três fábricas no país — localizadas em Curitiba, São Carlos (SP) e Manaus. As paralisações vão variar de 10 a 30 dias. De acordo com a empresa, a decisão de reduzir a produção se deve à “economia desacelerada e à Copa do Mundo”. A Whirlpool, dona das marcas Consul e Brastemp, também colocou funcionários em férias coletivas, como informou Míriam Leitão, na edição de sábado do GLOBO.

Levantamento junto a 550 empresas do setor feito pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) constatou que 58% delas preveem perdas na produção por causa dos horários diferenciados dos jogos da Copa. E que um terço delas programou “jornada especial” para os dias das partidas a fim de “amenizar as perdas”.

Na Whirlpool, todo o pessoal do setor administrativo das quatro fábricas da empresa no país — localizadas em Manaus, Joinville, Rio Claro e São Paulo — ficará parado entre os dias 12 e 25 deste mês. Na fábrica da Whirlpool da Zona Franca de Manaus, as férias coletivas, que sazonalmente ocorrem em julho, foram antecipadas para o dia 9, com volta prevista só para 8 julho. Em Rio Claro, a parada vai de de 16 a 25, e em Joinville, de 12 a 25. Ao todo, um terço dos cerca de cinco mil empregados da empresa terá férias neste mês.

Nas montadoras, 20 mil afetados
As paralisações na produção de eletrodomésticos ocorrem menos de dois meses depois de as principais montadoras do país darem um freio de arrumação para ajustar a produção ao ritmo fraco das vendas. O desempenho do setor foi afetado pelo desaquecimento do mercado interno e pelos problemas econômicos da Argentina, o principal destino das exportações brasileiras de veículos.

Com estoques em alta, as empresas passaram a alternar medidas para adequar a produção: antecipação de férias coletivas, suspensão temporária de contratos de trabalho (o chamado lay off) e antecipação de folgas foram medidas adotadas para evitar demissões. Ao todo, mais de 20 mil trabalhadores foram afetados.

O resultado do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) no primeiro trimestre mostrou forte acúmulo de estoques, com impacto de 1,1 ponto percentual na taxa de crescimento da economia, que foi de 0,2%. Ou seja, se não fosse o acúmulo de estoques, o PIB teria recuado 0,9%.

Lourival Kiçula, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), informa que, com exceção dos televisores (aparelhos da chamada linha marrom), cujas vendas nos primeiros cinco meses do ano superavam em 45% as do mesmo período de 2013, o setor vive um momento de vendas mais lentas.

— As famílias só têm um dinheiro e optam por comprar uma TV nova. A Copa, naturalmente, tira atração dos outros itens, como fogões, geladeiras e lavadoras de roupas — disse Kiçula.

Na LG, que também produz televisores, não haverá expediente entre os dias 12 e 15 nas áreas administrativas. E nos outros dias de jogos do Brasil o pessoal do turno da manhã sai uma hora e meia mais cedo, enquanto os trabalhadores da tarde entram uma hora e meia mais tarde.

Em Manaus, o Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam) confirmou que boa parte das grandes fabricantes de eletroeletrônicos (Semp Toshiba, Panasonic, Samsung, Sony) e de motocicletas (Honda e Yamaha) está antecipando o início das férias coletivas para junho.

— Certamente, alguns segmentos esperavam vendas melhores nos últimos meses. Não foi uma calamidade, mas muitas empresas não atingiram as metas de vendas esperadas — disse Ronaldo Motta, diretor-executivo do Cieam, lembrando que as empresas também estão aproveitando a alta dos estoques para liberar os funcionários na Copa.

Aposta em recuperação após Copa
Para Valdemir Santana, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Amazonas (Sindimetal), as paralisações no segmento de eletroeletrônicos foram uma surpresa, diferente do que acontece com as motos, cujo mercado já não vai bem há algum tempo. Ele calcula que entre 30% e 40% dos trabalhadores nas principais fabricantes vão ficar em casa durante os primeiros dez dias da Copa:

— No total, serão cerca de 25 mil trabalhadores que ficarão em casa por 10 dias a partir da semana que vem.

Segundo o sindicalista, até os fabricantes de televisores estariam com problemas de estoque excessivo, já que a produção foi acelerada a partir de dezembro, quando as empresas reduziram a tradicional folga de fim de ano em 10 dias.

— As empresas produziram muita TV, e os boatos de que a Copa seria ruim acabaram prejudicando as vendas.

Kiçula, da Eletros, informou que a expectativa dos fabricantes de televisores é superar as 16 milhões de unidades vendidas este ano, mais de 10% mais que os 14,6 milhões de 2013. As TVs de tela grande e as novas tecnologias, como as Smart TVs com Wi-Fi integrado são o chamariz. No Extra, do grupo Pão de Açúcar, por exemplo, no primeiro bimestre o volume de vendas desses aparelhos com mais tecnologia cresceu 150% em relação ao mesmo período de 2013.

A Eletros não dispõe de dados sobre as vendas da linha branca ( geladeiras, e máquinas de lavar), mas aposta numa recuperação após a Copa, a partir de agosto até o fim do ano, impulsionada por itens que continuam com as alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) menores do que tinham no início de 2013.

— Claro que, quando foi anunciado o corte do IPI, muitas vendas foram antecipadas. Mas a expectativa é que as vendas da linha branca cresçam de 3% a 5% este ano, em volume — disse Kiçula.

Nenhum comentário: