quinta-feira, 5 de junho de 2014

Merval Pereira: Não sabe

- O Globo

Ao ser perguntada por jornalistas estrangeiros recentemente por que o país cresce tão pouco em seu governo, a presidente Dilma deu uma resposta espantosa, mas coerente com a atual situação: “Não sei”. É preocupante que ela não saiba, mas a resposta confirma a impressão generalizada de que temos à frente do governo uma pessoa incapaz de dar resposta à crise em que o país está instalado.

O governo da presidente Dilma, com a previsão de que o crescimento do PIB este ano será em torno de 1%, terá o pior desempenho econômico da história republicana, com exceção de dois que tiveram crescimento negativo. O professor Reinaldo Gonçalves, da Faculdade de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, fez um ranking dos governos brasileiros com base apenas na avaliação econômica desde Deodoro da Fonseca.

Ele classifica os que tiveram crescimento do PIB abaixo de 2,3% como os piores: além dos governos com queda do PIB durante os mandatos, Collor (- 1,3%) e Floriano Peixoto (-7,5%), compõem a lista Venceslau Brás (2,1%) e Dilma Rousseff (2,0%), isso quando a previsão de crescimento era de 2,1%-2,2% em 2013-14.

Em termos de comparação, governos "medíocres" foram aqueles que tiveram crescimento do PIB entre 2,3% (Fernando Henrique) e 3,1% (Campos Salles). Entre eles estão Afonso Pena (2,5%) e João Figueiredo (2,4%). A taxa média anual de crescimento do PIB brasileiro é de 4,5% no período republicano, a taxa de crescimento médio anual do PIB mundial é 3,5%.

Para o governo Dilma chegar à classe “medíocre”, seria necessário que as taxas de crescimento médio anual do PIB fossem maiores do que 2,8% em 2013-14, impossível de se concretizar diante do crescimento pífio de 2,5% ano passado e previsão pior ainda este ano.

É por isso que os candidatos de oposição estão comparando a performance do governo Dilma às piores da República. Ontem o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos disse que o crescimento econômico do país é o pior “desde Deodoro da Fonseca”, o que, sendo uma quase-verdade, já basta para a luta política pela presidência da República.

A pesquisa do Pew Research Center dos Estado Unidos que mostra que 86% dos brasileiros consideram que a inflação é a principal causa do mau-humor generalizado no país, que resiste até mesmo a uma Copa do Mundo, toca no ponto fulcral de nossa situação.

O governo, em busca de melhorar o crescimento a qualquer custo, aceitou um pouco mais de inflação e acabou sendo atingido por sua negligência. Se a presidente Dilma não está convencida ainda de que uma das principais razões para o país não crescer é a inflação estabilizada em níveis altos que deveriam ser inadmissíveis, estamos bem parados.

A resiliência da popularidade da presidente Dilma, que ainda é vista com bons olhos pela maioria da população, é um ponto fora da curva nesse cenário brasileiro atual, mas é muito difícil afirmar-se que esse ponto se manterá até a eleição como uma exceção, enquanto os níveis das demais facetas da administração federal permanecem no negativo.

Não sendo uma política carismática, a presidente Dilma dificilmente conseguirá manter essa distância da realidade, e necessariamente será tragada pelo ambiente negativo que domina o país. O fato de não poder ir a um estádio de futebol com temor de ser vaiada é significativo de clima, mesmo numa festa como a Copa do Mundo.

O perigo de despertar na multidão um sentimento negativo é tão grande que nem o ex-presidente Lula se arrisca a colocar a cabeça fora d´água, ele que gosta tanto de futebol e foi o maior responsável pela existência do Itaquerão.

Nem mesmo a torcida do seu Corinthians pode garantir que passe imune às críticas sobre a organização do mundial de futebol, cuja desorganização começou em seu governo, responsável ao mesmo tempo pela glória de ter trazido o campeonato para o Brasil, e ter conseguido transformá-la em um ônus para os governos petistas, sem o bônus que tanto buscaram.

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