segunda-feira, 23 de junho de 2014

Por bancadas, PSB derrota Marina e adere a tucanos e petistas em SP e RJ

Cristian Klein, Renata Batista e Guilherme Serodio – Valor Econômico

SÃO PAULO e RIO - O pragmatismo do PSB venceu os "sonháticos" e derrotou o grupo da ex-senadora e pré-candidata a vice-presidente da República Marina Silva nas convenções realizadas entre sexta-feira e sábado nos maiores colégios eleitorais do país.

De olho na eleição das bancadas de deputados estaduais e federais, o partido homologou alianças com o PSDB, para reeleger o governador Geraldo Alckmin, em São Paulo, e com o PT, para apoiar a candidatura do senador Lindbergh Farias, no Rio de Janeiro.

Em Minas Gerais, uma convenção tensa delegou a decisão sobre a candidatura ao governo estadual para a Executiva regional, que terá até o dia 30 para definir o rumo. O adiamento aumentou o racha entre os integrantes do PSB e o Rede Sustentabilidade, grupo ligado à Marina Silva que defende a candidatura própria. A delegação da decisão para a Executiva estadual foi interpretada pelo Rede como uma manobra para que o PSB apoie a candidatura do ex-ministro Pimenta da Veiga, do PSDB.

Com isso, o pré-candidato dos "marineiros", o ambientalista Apolo Heringer, retirou-se da disputa e disse que se desfiliará da legenda.

"Eu acreditei em Marina e Eduardo, acreditei que eles queriam uma terceira via em Minas. PT e PSDB compram as pessoas", afirmou Apolo, numa referência à adesão da sigla às candidaturas de Alckmin, em São Paulo, e Lindbergh Farias, no Rio.

Em outros Estados, o PSB também estará ao lado de tucanos e petistas - o que, na visão do grupo ligado à Marina, enfraquece o discurso de terceira via e a candidatura ao Planalto dela e do cabeça de chapa, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, presidente nacional do PSB, que está baseada em críticas à "velha política".

As pressões das bases do partido, no entanto, explicam a tendência ao aliancismo. Pré-candidatos a deputados estaduais e federais preferem associar suas campanhas a nomes mais competitivos na corrida a governador - ainda que de legendas adversárias na disputa presidencial - a embarcar numa uma candidatura estadual própria com pouca chance.

Em São Paulo, o presidente regional do PSB, deputado federal Márcio França, provável candidato a vice de Alckmin, afirmava ao Valor, na convenção de sexta-feira, que uma das vantagens da coligação com o PSDB é o maior tempo de propaganda eleitoral no rádio e TV que a sigla terá para divulgar a chapa proporcional com 250 candidatos a deputado federal e estadual que o PSB acabava de homologar. "Sozinhos [com uma candidatura própria] teríamos só 54 segundos para atender a todo esse pessoal aí. Coligados, nosso tempo será maior. A aliança do governador [Alckmin] tem mais de dez minutos", disse, sem precisar para quantos segundos aumentaria a exposição dos candidatos proporcionais do PSB no horário eleitoral.

A meta da agremiação é aumentar a bancada de sete deputados federais eleitos em 2010 para nove neste ano, e de seis - três deles foram filiados durante a legislatura - para nove estaduais.

Preocupado com os efeitos da cisânia para a sua candidatura, Eduardo Campos frisou, em discurso na convenção, a necessidade de união do partido.

Braço-direito de Marina Silva e um dos coordenadores do Rede, Bazileu Margarido, no entanto, reage à decisão do PSB de se aliar aos tucanos. "O Rede tem definição clara de não apoiar coligações com o PSDB. Não fará campanha [para Alckmin], o que inclui o Márcio França, como vice", afirmou ao Valor.

A demanda do Rede, agora, ressalta Margarido, é de indicar um nome independente para concorrer ao Senado. Durante a convenção, Márcio França levou o tema à deliberação dos delegados, que o aprovaram. Mas em entrevista coletiva, logo em seguida, ao lado do secretário estadual da Casa Civil, Edson Aparecido (PSDB) - que leu a carta-convite em que Alckmin oferecia a vaga de vice ao PSB - o dirigente minimizou a possibilidade de haver mais de um candidato da base ao Senado. O mais cotado a concorrer é o ex-governador José Serra.

Em Minas Gerais, o presidente estadual do PSB, Julio Delgado, ele mesmo um pré-candidato a governador, mas muito ligado aos tucanos, procurou reduzir a tensão com o Rede. Disse que prorrogar a decisão é apenas uma "estratégia" para tentar garantir bons espaços para a legenda neste ano e que não haverá necessariamente desistência do PSB de lançar um nome.

"Pão com pão não dá. PSB com PSB só não dá. Temos que pensar na nossa chapa proporcional, em uma coligação que não vá prejudicar a nossa chapa de deputados federais e estaduais", justificou, citando que lançar uma chapa puro sangue reduziria "significativamente" o número de parlamentares eleitos pela legenda.

O principal defensor de uma aliança entre PSB e PSDB em Minas, o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), compareceu à convenção e considerou "prudente" o adiamento da decisão. "O PSB fez acordo com o PT no Rio de Janeiro, com o PSDB em São Paulo, e a turma aqui está se sentindo pressionada. Por que aqui tem que ir para o sacrifício? Os deputados querem uma boa coligação proporcional. Candidatura própria tornaria isso realmente quase impossível", afirmou.

No Rio de Janeiro, a base do PSB tanto fez que levou o deputado federal Miro Teixeira (Pros) - ligado a Marina Silva - a desistir da pré-candidatura, por falta de apoio, às vésperas da convenção. Com isso, os concorrentes a deputado da legenda farão campanha a governador para o senador petista Lindbergh Farias, numa reviravolta de última hora. Eleito na convenção presidente estadual da sigla, o deputado Glauber Braga, por exemplo, ameaçava concorrer a deputado estadual, em vez de tentar a reeleição, caso a sigla apoiasse Miro Teixeira. De acordo com o parlamentar, seria difícil a legenda atingir o quociente eleitoral necessário.

O PSB participará da chapa majoritária com o deputado federal e ex-jogador Romário, que concorrerá ao Senado. O vice de Lindbergh Farias é Roberto Rocco, do PV, numa coligação que conta ainda com o PCdoB.

O discurso da coligação é de que a oposição ao PMDB - cujo candidato é o governador Luiz Fernando Pezão - e a preocupação em fortalecer as bancadas está conseguindo, no Rio, o que nem a ditadura conseguiu: unir a esquerda.

O vice-presidente nacional pessebista, Roberto Amaral, afirmou que a coligação com o PT no Estado atende aos interesses do PSB. "Estamos em um processo de reorganização partidária que coincide com essa formação à esquerda. Todos temos objetivos particulares e a prioridade para nós é a eleição para o Senado. A candidatura do Romário é o encontro da esquerda com o povo, com a antiga geral do Maracanã que está sendo expulsa dos estádios", comentou. "Temos a pretensão de fazer o máximo possível com a bancada".

Na convenção, a aliança com o PT recebeu 113 votos. Houve 24 votos contrários, quatro nulos e um branco. Em discurso, Lindbergh disse apostar que o ex-governador Sérgio Cabral vai desistir de concorrer ao Senado agora que a disputa está polarizada entre ele e Romário. A previsão está prestes a acontecer. O presidente do PMDB fluminense, Jorge Picciani, convocou para a manhã de hoje uma entrevista na qual deve ser anunciada a adesão do DEM à coligação de Pezão e a candidatura do ex-prefeito Cesar Maia ao Senado, no lugar de Cabral. O prefeito Eduardo Paes (PMDB), desafeto de Maia, chamou a proposta de "bacanal eleitoral".

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