terça-feira, 10 de junho de 2014

Raymundo Costa: Não está fácil para ninguém

• Um ponto de vista do Planalto sobre as pesquisas de opinião

- Valor Econômico

Com todos os olhares voltados para as pesquisas de intenção de voto para presidente da República, pouca ou quase nenhuma atenção resta para as sondagens que medem a popularidade dos governadores estaduais. Quando juntam-se as peças deste mosaico, a presidente Dilma Rousseff não está tão mal quanto parece quando se olha apenas para a sucessão presidencial. O mau humor do eleitorado é generalizado. E datado: junho de 2013.

Coordenador da área de pesquisas de opinião pública da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, o cientista político Wladimir Gramacho é quem monitora e coteja as pesquisas para o governo federal. Uma a uma. Comparando-as, Gramacho acha que o problema não é com a Presidência da República "Não existe uma bronca concentrada no governo federal, mas um grande mau humor com a qualidade dos serviços públicos e da representação política", diz.

No cotejo das pesquisas, Gramacho registra que não foi só a presidente da República que não conseguiu recuperar os índices de popularidade de que dispunha antes das manifestações populares. Todos foram mais ou menos atingidos pelos protestos. Hoje apenas uma dezena está melhor que a presidente da República. A saber, os governadores de São Paulo, Amazonas, Pernambuco, Acre, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Paraíba, Ceará e Espírito Santo. Um grupo suprapartidário.

A lista tem tanto o PSDB de Geraldo Alckmin e Antonio Anastasia (que já deixou o governo para disputar uma cadeira ao Senado por Minas), como o PT do governador Tião Viana (AC) e o PSB do candidato a presidente Eduardo Campos (ele deixou o governo estadual em abril, para disputar a Presidência, mas a pesquisa analisada ainda levou em conta a avaliação de seu período), de Ricardo Coutinho (PB) e de Renato Casagrande (ES). Os novos partidos aparecem na lista com Cid Gomes (Pros), Omar Aziz e Raimundo Colombo (PSD).

Ao todo são dez os governadores que se recuperaram em relação a junho e hoje estão em situação melhor que Dilma. Alguns, como Geraldo Alckmin, estão de volta ao grupo dos bem avaliados com a régua do ótimo e bom, território que frequentaram até as manifestações de junho do ano passado. Antes dos protestos, Alckmin chegou a ter 52% de aprovação. Antes mesmo da virada de junho para julho o governador já estava com 38%. Recuperou-se e na última pesquisa do Datafolha chegou aos 41% - em dezembro de 2013 estava com 31%, segundo outro instituto, o Ibope.

Dilma tinha 57% de ótimo e bom no início do mês de junho, segundo o Datafolha, e caiu para 30%, no fim do mês. Depois começou uma recuperação gradual, chegou a ter 41% em fevereiro último e agora está com 33% de ótimo e bom. É bem verdade que o Datafolha do fim de novembro do ano passado já mostrava Alckmin com 41% de aprovação. O governador de São Paulo parece ter consolidado sua recuperação, mas é fato que também oscilou como a maioria dos governadores - e a presidente da República - desde os acontecimentos de junho.

Também espalhados por diversos partidos, os governistas e os de oposição, há quatro governadores que se mantêm com a popularidade igual à que detinham em junho do ano passado, considerando-se a margem de erro de cada uma das pesquisas: os do Paraná, Rondônia, Rio Grande do Sul e do Piauí. O petista Tarso Genro, para citar um exemplo, estava em julho de 2013 com 25% de aprovação. Recuperou-se gradualmente e em dezembro do ano passado chegou a 34% de ótimo e bom - o que os especialistas em pesquisa ainda consideram pouco para quem planeja se manter no cargo.

A grande maioria dos governadores, no entanto, está pior que Dilma no quesito ótimo e bom, segundo o levantamento feito por Gramacho das pesquisas estaduais de opinião pública. São 13, também agraciados os principais partidos políticos.

A relação inclui governadores que deixaram o cargo em abril, como Sergio Cabral (RJ), pois as pesquisas disponíveis, nesses casos, são de antes de abril, o fim do prazo de desincompatibilização dos candidatos às eleições deste ano: Rio Grande do Norte (DEM), Distrito Federal (PT), Rio de Janeiro (PMDB), Amapá (PSB), Pará (PSDB), Mato Grosso (PMDB), Tocantins (PSDB), Roraima (PSDB), Sergipe (PMDB), Bahia (PT), Alagoas (PSDB), Maranhão (PMDB) e Goiás (PSDB).

Ou seja, quando se compara o desempenho de Dilma com o dos 27 governadores de Estado, o dela é melhor que o de 13, igual ao de quatro e pior que o de dez. E nem todos os dez devem se considerar em uma posição confortável. Em resumo, o desempenho de Dilma está acima da maioria. A "bronca", como diz Gramacho, parece mesmo com os serviços públicos e com a classe política, o que acaba por atingir a todos, independentemente de cor partidária.

O sintoma da desconfiança com a representação política pode ser visto no índice de rejeição dos candidatos: 35% dos entrevistados do Datafolha responderam que não votariam de jeito nenhum na presidente Dilma Rousseff. Mas 29% deram a mesma resposta quando apresentados aos nomes de Eduardo Campos e Aécio Neves, os candidatos do PSB e do PSDB, respectivamente. Dilma é uma política conhecida da grande maioria da população, enquanto Aécio e Campos são marinheiros de primeira viagem, recém-chegados à cena nacional. Em tese, deveriam estar num patamar de rejeição menor. Na pesquisa de abril do Datafolha os três apareciam com 33% de rejeição do eleitorado.

Há outro aspecto que deve ser levado em consideração na análise das pesquisas, segundo os estudos de Gramacho, que é a relação que os entrevistados fazem ao avaliar os governos federal e estadual. Quando o eleitor reprova o governo estadual, diminui a probabilidade dele considerar ótimo ou bom o desempenho do o governo federal. "Isso só reforça a percepção de responsabilidade federativa que as pessoas têm ao avaliar as diversas instâncias do governo", entende Wladimir Gramacho.

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