segunda-feira, 16 de junho de 2014

Ricardo Noblat: Dilma merece respeito

Não foi uma ofensa à presidente, foi um ato de cretinice. A nossa vitória será a nossa vingançaLULA, ex-presidente da República

- O Globo

Sem essa de que “Dilma foi xingada, mas...” Não existe mas, porém, isso significa que... Nem Dilma Rousseff, presidente da República, nem Dilma simplesmente uma mulher poderia ter sido ofendida como ela foi durante o jogo que abriu a Copa do Mundo.

Tratamento como aquele não deveria ser dispensado a quem quer que fosse. Nenhum precedente o justifica, nenhum. Nada o ameniza ou o torna menos bárbaro.

O “New York Times” enxergou no coro contra Dilma o “reflexo da ansiedade e da insatisfação” dos brasileiros com a desaceleração econômica do país, os gastos com estádios e recentes denúncias de corrupção na Petrobras.

“A raiva era evidente no estádio, dirigida tanto à FIFA como ao governo brasileiro”, escreveu o “Washington Post”. Cabe aos veículos de comunicação explicar o que houve. E deplorar.

Dilma reagiu ao episódio sem ferir a majestade do cargo que ocupa. “Superei agressões físicas quase insuportáveis e nada me tirou do rumo”, observou, fazendo menção à tortura que sofreu quando pegou em armas para enfrentar a ditadura de 64.

Quanto aos xingamentos... Ela disse: “O povo brasileiro não age assim. É civilizado e extremamente generoso e educado”.

Não é civilizado. Não foi. Muito menos generoso ou educado.

Compreensível o empenho de Dilma em separar o povo que lotava o estádio do resto do povo que não estava lá. Advoga a seu favor. Mas ao fim e ao cabo, o povo é um só.

Nada garante que a agressão teria sido menos cruel ou ruidosa se a plateia reunida para assistir a Seleção derrotar a Croácia fosse menos vip ou “mais moreninha”.

Qualquer assíduo frequentador de jogos é testemunha dos maus modos do distinto público. De jogos, não, de jogos de futebol. O que as torcidas gritam nas arenas espalhadas por aí não ecoa nos ginásios onde se disputam outros esportes coletivos.

A quantidade maior de gente reunida libera os instintos mais primitivos da multidão. Coitado de quem é alvo do mau humor da turba descontrolada. Coitada da Dilma.

Aliados da presidente ficaram lhe devendo manifestações de solidariedade mais numerosas e convincentes. De fato, somente Lula e Rui Falcão, presidente do PT, saíram em seu socorro.

Adversários na corrida pela presidência da República não estiveram à altura do posto que sonham alcançar. Pelo contrário. Aproveitaram a ocasião para tentar tirar proveito político. Que feio!

Aécio Neves, candidato do PSDB à vaga de Dilma, fez dois comentários – um na manhã do dia seguinte e outro à tarde ao perceber que o primeiro repercutira mal.

O primeiro: “Ela colhe o que plantou ao longo dos últimos anos”. O segundo: “A manifestação deve se dar no campo político sem ultrapassar os limites do respeito pessoal”.

Eduardo Campos, pré-candidato do PSB, repetiu Aécio sem se corrigir depois.

“A gente sabe que há na sociedade um mau humor, uma insatisfação que se revela nesses momentos”, argumentou Campos. “Talvez a forma possa não ter sido a melhor de expressar esse mau humor. Mas o fato é que vale o ditado: na vida a gente colhe o que planta”.

Espera-se que os comentários infelizes de Aécio e de Campos não antecipem o que estamos por ver na campanha eleitoral a se iniciar em agosto.

“Talvez a forma possa não ter sido a melhor...” Talvez? Campos ainda tem dúvida quanto ao baixo nível da forma encontrada pela multidão para expressar seu mau humor?

“Na vida a gente colhe o que plantou...” Quer dizer que Dilma fez por merecer ser insultada? E da maneira que foi?

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