quarta-feira, 23 de julho de 2014

Fernando Exman: Sem sinais claros para os investidores

• Candidatos devem detalhar medidas para a economia

- Valor Econômico

Os principais candidatos a presidente da República têm cerca de cinco meses para trabalhar pela melhora do ambiente de negócios do país - três até a eleição de outubro e mais dois no período de transição para a próxima administração. Pelo menos em teoria, há tempo suficiente para se passar os sinais necessários à retomada dos investimentos produtivos. No entanto, como a situação não é das mais confortáveis para que a economia doméstica retorne a uma rota de crescimento sustentável, seria positivo se Dilma Rousseff, Aécio Neves e Eduardo Campos indicassem com clareza a agenda que pretendem adotar e em que direção querem liderar seus aliados no Congresso.

Há pelo menos dois fatores que podem atrapalhar o Brasil a afastar de forma rápida os riscos de ver a economia enfrentar uma estagflação ou até mesmo uma recessão. É natural que executivos de empresas nacionais e companhias multinacionais instaladas no Brasil só definam seus planos de negócios depois da contagem final dos votos. Além disso, atualmente a confiança e o ânimo do empresariado encontram-se em patamares críticos.

Segundo o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre), por exemplo, os índices de confiança da indústria, dos serviços e do comércio apresentam quedas consecutivas e vêm atingindo os menores níveis dos últimos anos. Não surpreende, portanto, o fato de a sondagem sobre investimentos, realizada no segundo trimestre junto à indústria pela mesma entidade, ter apurado a permanência do ambiente de desaceleração dos investimentos.

Outros indicadores apontam para a mesma direção. Em julho, o Índice de Confiança do Empresário Industrial, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), caiu pela quarta vez consecutiva. Desta vez, para o menor valor da série histórica iniciada em 1999. Uma evidência adicional da cautela do setor produtivo é a diminuição das importações de bens de capital. Entre janeiro e junho, a redução foi de 5,85% em relação ao mesmo período de 2013. Só em junho houve um recuo de 17,69%.

Não chega a servir de consolo, pois no seu mais recente Relatório de Inflação o Banco Central estimou queda de 2,4% na Formação Bruta de Capital Fixo - indicador que mede a taxa de investimento - no Brasil no quarto trimestre de 2014 e redução de 0,6% nos quatro trimestres acumulados ao fim de março de 2015. Mas o próprio BC anotou no mesmo documento que "condições financeiras relativamente favoráveis, concessão de serviços públicos, ampliação das áreas de exploração de petróleo, entre outros, sugerem expansão dos investimentos". Além disso, a vitória de um candidato visto como mais amigável pelo mercado pode ser capaz de mudar de forma súbita as expectativas do empresariado.

Hoje, o Brasil ocupa um espaço incômodo no palco mundial. O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que o investimento crescerá em praticamente todos os países desenvolvidos no ano que vem. A exceção é uma oscilação negativa de 0,2% no Japão. Entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento monitorados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apenas a Eslovênia apresenta projeções de queda nos investimentos em 2015. O México, por exemplo, deve ver um aumento de 4,8% na taxa de investimento de sua economia.
Coincidentemente, a Eslovênia, que enfrentou sérias dificuldades devido à crise financeira iniciada em 2008, acaba de passar por um processo eleitoral. Seu próximo governo deve tomar posse em setembro, e as autoridades locais já começam a enviar recados de que uma das prioridades do país deve ser justamente a promoção de um novo ciclo de investimentos.

No Brasil, todos os postulantes à Presidência da República defendem o mesmo. Por outro lado, infelizmente ainda não começaram a detalhar o que pretendem fazer para impulsionar os desembolsos privados no país e pacificar as diversas pendências existentes na definição de marcos legais de setores estratégicos.

Candidata à reeleição, a presidente Dilma Rousseff (PT) procurou alterar as regras de diversos segmentos sensíveis da economia. Alguns desses modelos ainda são alvos de questionamentos na Justiça ou seguem tramitando no Congresso, como o rateio dos royalties do petróleo, o marco regulatório da mineração, as novas regras do setor elétrico e as normas para licitações públicas.

Além das críticas do mercado à política fiscal de seu governo, Dilma foi acusada de ter adotado uma postura mais intervencionista e de pouco diálogo. Mesmo assim, por enquanto sua mensagem ao empresariado parece replicar de forma subliminar o slogan da campanha à reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: "Não troco o certo pelo duvidoso". Ou seja, busca alertar o setor produtivo de que só sua permanência no poder assegura a manutenção de desonerações tributárias, financiamentos subsidiados e políticas de estímulo. Integrantes da coordenação da campanha de Dilma acreditam ainda que, passada a eleição, o mau humor do setor privado se dissipará e a economia será reativada.

Para o comitê do candidato do PSDB, Aécio Neves, a batalha pela preferência do empresariado já está vencida e o fator de risco observado pelo mercado é a continuidade do atual governo. O PSDB acredita ter em seu currículo realizações como estabilização da economia e uma maior disciplina fiscal. Em suas conversas com empresários, a palavra-chave usada pelo tucano é "previsibilidade". Ele também vem se comprometendo a sentar e discutir as demandas pontuais de cada segmento da economia, num contraponto às críticas feitas a Dilma. Já Eduardo Campos (PSB) chegou a entusiasmar o setor produtivo no período de pré-campanha eleitoral, mas agora enfrenta questionamentos devido a propostas capazes de criar novas despesas públicas.

Na campanha de 2010, os candidatos perderam muito tempo discutindo temas alheios à economia, como o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo. A atual conjuntura econômica não dá espaço para que essa história se repita.

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