domingo, 13 de julho de 2014

Luiz Carlos Azedo: A bola que vai rolar

- Correio Braziliense

A Copa do Mundo do Brasil acaba hoje, com um jogão entre a Argentina e a Alemanha no Macaranã. Quem tem ingresso será um privilegiado. Assistirá de corpo presente a uma partida de futebol inesquecível, com a torcida urrando nas arquibancadas tomadas por argentinos e, em menor número, por alemães. Quem não tem ingresso que reserve um lugar para assistir pela televisão. Será mais uma partida imperdível.

Os brasileiros farão parte do show, muitos com a camisa do Flamengo, cores da Alemanha, outros com a do Grêmio, da Argentina, a maioria com a da nossa Seleção. Estarão divididos em relação aos dois times: somente com a bola rolando é que saberemos quem vai ganhar o coração da maioria da torcida tupiniquim.

Não importa o resultado do jogo de ontem, entre Brasil e Holanda, no Mané Garrincha, pela disputa de um honroso terceiro lugar. A festa acabou para nós na terça-feira passada, com aquele 7 x 1 vexatório que levamos dos alemães. Entretanto, o jogo de hoje será um colírio para quem ainda chora o fracasso da nossa Seleção. Mais uma vez, haverá um duelo entre as melhores escolas europeia e latino-americana de futebol.

Não se pode mais falar de futebol-arte contra futebol-força, como antigamente, ma non troppo. A Argentina dependerá da raça e da criatividade de seus jogadores, liderados por Messi e Di María. A Alemanha contará com mais preparo físico e a aplicação técnica de seu time, além de craques do naipe de Klose e Müller.

Vaia anunciada
A bola que vai rolar a partir de agora, porém, é a outra: a disputa pelo poder político, com a campanha eleitoral pegando fogo. A propósito, Dilma Rousseff corre o risco de ser vaiada e xingada no Maracanã, que não costuma perdoar os políticos que se apresentam naquele templo do futebol. O consenso criado em relação à Copa pela Seleção Brasileira se perdeu com a derrota no Mineirão.

Mas, diferentemente do que aconteceu no jogo de abertura, no Itaquerão, desta vez a presidente da República não pretende ser nada discreta. Quer entregar a taça ao time vencedor, mesmo que debaixo de apupos da torcida. Por mais constrangedor que seja, é um gesto de coragem. Mas também há muito de cálculo político nessa decisão.

As pesquisas mostraram que Dilma ganhou muito mais do que perdeu com as vaias e xingamentos recebidos na abertura do torneio em São Paulo, na qual pretendia ter a presença mais discreta possível. A maioria considerou essa atitude uma tremenda falta de educação. Com o sucesso da Copa do Mundo, pelo menos até a goleada alemã, Dilma subiu 5% nas pesquisas de opinião. Com o fim dos jogos, analistas acreditam que voltará aos índices anteriores, mas isso ainda é puro "achismo". É preciso aguardar as próximas pesquisas para saber o que aconteceu.

Evento político
Dilma convidou o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, que está se aposentando, para acompanhá-la na final dos jogos. Ex-peladeiro (um problema na coluna o afastou da bola), o ministro aceitou com gosto. Outro companheiro de tribuna de honra será o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), candidato à reeleição, esse, sim, outro forte candidato às vaias da torcida.

Candidata à reeleição, Dilma ainda quer fazer da final da Copa do Mundo um evento político a seu favor. Aécio Neves (PSDB e Eduardo Campos (PSB), seus principais concorrentes nas eleições, já subiram o tom das críticas ao governo, inclusive em relação à Copa. Depois do torpor da opinião pública por causa do futebol, a oposição acredita que voltarão à pauta os problemas do país, principalmente os que mais interferem na vida dos cidadãos.

Uma das estrelas internacionais aguardadas por Dilma no Maracanã é Angela Merkel, primeira-ministra da Alemanhã, que vem com a esperança de levar a taça pra casa. As duas se tornaram amigas depois de descobrirem que estavam sendo espionadas pelos serviços de inteligência dos Estados Unidos. Merkel acaba de expulsar do país um espião da CIA, a agência de inteligência dos EUA. Na entrevista que deu à rede norte-americana CNN nesta semana, Dilma pegou leve. Disse que Barack Obama não sabia dos grampos.

Também estarão aqui os presidentes da Rússia, Vladimir Putin; da China, Xi Jinping; e da África do Sul, Jacob Zuma; além do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, líderes dos países que formam os Brics, juntamente com o Brasil. Na reunião que farão em Fortaleza, na terça-feira, será criado um banco de desenvolvimento conjunto e uma espécie de fundo de estabilização econômica de US$ 100 bilhões.

A grande ausente, porém, será a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, que vai assistir ao jogo na Casa Rosada, em Buenos Aires. Teme a "Síndrome de Menem", alusão à fama de pé-frio do ex-presidente Carlos Menem, que viajou à Itália em 1990 para presenciar o jogo de estreia da Argentina, que era a favorita da Copa e perdeu para a seleção de Camarões, em Milão, por 1 x 0.

Nenhum comentário: