quinta-feira, 31 de julho de 2014

Para empresários, Campos saiu-se melhor

Eduardo Campos, Bruno Peres, Lucas Marchesini e Raphael Di Cunto - Valor Econômico

BRASÍLIA - Na avaliação dos empresários presentes na sabatina com os três principais candidatos à Presidência, promovida pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), Eduardo Campos (PSB) teve o melhor desempenho. A empatia com a plateia foi grande, não por acaso ele foi aplaudido mais vezes, mas faltaram alguns "fundamentos", principalmente na área econômica, e foi cobrada uma postura mais clara do candidato em algumas áreas como reforma trabalhista.

O candidato do PSDB, Aécio Neves, foi considerado bem preparado e sua "equipe forte" - que conta com nomes como Armínio Fraga - foi citada como um bom diferencial em diversas ocasiões. O tucano pecou, no entanto, por utilizar a maior parte de seu tempo para "bater" no governo e apresentou poucas propostas que já não fossem conhecidas da plateia. A postura crítica não agradou. Segundo um empresário, "não estamos no Congresso. A visão tem que ser sempre para frente".

A presidente Dilma discursou com uma clareza notável, listando detalhadamente as medidas que tomou para proteger e estimular a indústria no pós-crise internacional de 2008/2009. Isso foi interpretado por dirigentes empresariais como uma espécie de "apresentação da fatura" do governo ao setor.

Quando questionada, conseguiu colocar bem que conhece os desafios que o setor enfrenta, mas não convenceu a plateia de que um segundo mandato será mais do que a mera continuidade do atual.

Um empresário que acompanhou todas as sabatinas, atento às reações de seus pares, observou que Campos surpreendeu positivamente com um discurso "muito redondo", ainda que o rosário de promessas tenha sido considerado de difícil execução, principalmente porque o candidato nunca dizia de onde viria o dinheiro. Ao prometer uma reforma tributária tão logo seja empossado, seu governo teria menos recursos ainda mais à frente.

Aécio pareceu pouco inspirado, na visão desse empresário, "muitas vezes vago ou repetitivo", só melhorando no fim, quando fez uma aplaudida explanação sobre o aparelhamento das empresas estatais.

A fala de Dilma foi vista por um empresário, um parlamentar do PT e um ministro do governo ouvidos pelo Valor de maneira similar. Para eles, a presidente optou por um discurso com menos concessões, como quem apresentasse a "conta" ao empresariado. Dilma elencou todas as medidas do governo, destacando os R$ 500 bilhões em crédito subsidiado do BNDES, a desoneração permanente para 56 setores e os programas de qualificação profissional, e alertou para a plateia o risco de que, se ela não for reeleita, eles perderão todas essas benesses.

O parlamentar petista disse, ainda, que a fala de Dilma foi a forma de a presidente retrucar os pedidos para que mude sua relação com o setor privado. Ele salientou a avaliação corrente no Palácio do Planalto de que o empresariado está sendo constantemente agraciado mas pouco tem retribuído em apoio ao governo.

Apesar do apelo para que os representantes do setor produtivo nacional não se deixem "arrastar pelas avaliações pessimistas" do cenário econômico, parte dos empresários ouvidos pelo Valor afirmou que Dilma não foi convincente e deu sinais de que o eventual segundo mandato "não será mais do que uma continuidade do atual".

Um empresário observou que a própria postura de Dilma durante a sabatina foi de alguém que não pretende mudar de comportamento, abrir-se ao diálogo nem tampouco reconhecer erros.

Todos os que tinham alguma posição mais crítica à presidente Dilma preferiram falar sob a condição do anonimato.

Para o presidente do conselho de administração do Grupo Gerdau, Jorge Gerdau, Dilma "tomou posicionamento muito forte para o futuro" e ela "colocou bem" questões relativas aos impostos e à logística, que são fatores de não competitividade. Para Gerdau, o tema mais importante de todos os debates foi a reforma tributária. "Essa é a prioridade número um do próximo governo", relatou, mas não comentou por que não houve grande empenho deste governo em fazê-la nos primeiros quatro anos.

O vice-presidente da CNI e presidente da Federação das Indústrias do Ceará, Roberto Macedo, disse que o debate ressaltou os estilos diferentes dos três presidenciáveis. "O Eduardo Campos foi muito otimista, dizendo sempre 'Eu vou fazer isso, vou fazer aquilo'. O Aécio partiu muito para a crítica ao governo, apontando problemas e afirmando o que consertaria. E a presidente Dilma ficou numa posição mais defensiva, citando o que fez, mas sem apresentar grandes saídas para a economia. Acho que ela está se sentindo muito cobrada e quis dar a resposta", afirmou, sem querer opinar sobre quem se saiu melhor.

Para o presidente da Anfavea, Luiz Moan, os três candidatos apresentaram propostas diferenciadas de atuação, mas todos convergem à busca de um Brasil melhor para o setor industrial.

O presidente da Vivo, Antônio Carlos Valente, acredita que quem ganhou com o debate foi o Brasil. "Acho que o processo está muito no início e cada um, dentro do seu estilo, deu sua mensagem", disse.

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson de Andrade, classificou como muito bom o resultado da rodada de sabatinas. Segundo ele, o evento marcou o posicionamento da CNI e as propostas que a entidade está fazendo. "Deixamos claro que o empresariado da indústria está comprometido com o desenvolvimento do Brasil", disse.

Indagado se houve predominância de algum dos candidatos e por que uns foram mais aplaudidos que outros, Andrade disse que "aqui não é um fórum para dar apoio para candidato. Foi um fórum para discutir propostas dos candidatos".

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