terça-feira, 1 de julho de 2014

Para governador do PSB, radicalismo de Marina dificulta crescimento de Campos

Raphael Di Cunto – Valor Econômico

BOA VISTA - Governador de Roraima e candidato à reeleição, Chico Rodrigues (PSB) verbaliza uma crítica à ex-senadora Marina Silva (PSB) que está latente no partido: as posições radicais da ex-ministra do Meio Ambiente contra o agronegócio e na composição de alianças estão prejudicando a candidatura do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB) à Presidência.

Em entrevista exclusiva ao Valor PRO, serviço de tempo real do Valor, concedida no Palácio do Setentrião, sede do governo, na noite de quinta-feira, dois dias antes da convenção do PSB que referendou Marina como vice de Campos, o governador diz que seu palanque no Estado só não vai ter espaço para o PT e critica as desonerações do governo federal que estão diminuindo os repasses para Roraima.

Rodrigues assumiu o cargo há três meses, no lugar do ex-governador José de Anchieta Júnior (PSDB), que se desincompatibilizou para disputar a eleição para o Senado. O atual governador era filiado ao DEM até outubro, mas trocou de partido por desentendimentos com o presidente do diretório local e agora vai disputar a reeleição em uma chapa com 20 legendas. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Valor: A Marina é muito criticada pelos produtores rurais de Roraima. Como viu a aliança com o PSB?

Chico Rodrigues: A ex-senadora Marina Silva radicaliza muito em relação às questões ambientais. Somos um país continental, que tem o que qualquer nação do mundo gostaria de ter: mais de 22% da água doce do planeta, a maior biodiversidade do mundo e as maiores reservas de minerais estratégicos. O Brasil é um país de vanguarda, não é conservador. Queremos proteger nossos mananciais, nossas florestas, nossas reservas. Agora, desde que exploremos e coloquemos essas riquezas a serviço da população brasileira. Não é justo que, com esse radicalismo ambiental, a ministra dificulte o crescimento do Eduardo Campos.

Valor: De que modo ela tem dificultado a candidatura?

Rodrigues: Ela não tem compreendido a composição de alianças em alguns Estados. Aqui e acolá, tem criado dificuldades. Política é a convivência dos contrários, não é a exclusão dos contrários. E, por conveniência, questão ambientalistas ou outras teses, ela quer sempre excluir os contrários.

Valor: O Eduardo ganhou muita visibilidade por causa da Marina, mas não subiu nas pesquisas. O sr. acha que as posições dela prejudicaram a campanha?

Rodrigues: Diria com toda segurança que sim. Sou engenheiro agrônomo de formação, tenho relação com o agronegócio no Brasil inteiro. Hoje, 68% do PIB brasileiro vem do agronegócio [na verdade, o correto é 23%]. Há um medo geral no setor com esse radicalismo e aí, obviamente, reflete negativamente na candidatura do Eduardo.

Valor: Mas isso vai impedi-lo de ir ao segundo turno?

Rodrigues: Vai ser necessário existir unidade pelo menos no essencial para que possa ser uma chapa com condições de sair vitoriosa. O Eduardo tem teses muito importantes para o Brasil e tem mostrado isso nos debates que tem participado nos grandes centros do país. É o menos conhecido entre os candidatos, segundo as pesquisas, e por isso quando se apresentar na televisão, quando olhar olho no olho com todos os brasileiros, acredito que vai ter crescimento muito expressivo, com chances inclusive de chegar ao segundo turno.

Valor: O senhor era filiado ao DEM. Escolheu o PSB por causa da candidatura presidencial?

Rodrigues: Eu estava sem espaço no Democratas. O partido tem um deputado federal em Roraima, Paulo César Quartiero, que me hostilizava muito, mesmo eu sendo vice-governador. Fui deputado federal com o Eduardo, que é meu amigo, assim como o ex-prefeito da capital, que é do PSB. Os dois me convidaram e, como os incomodados se retiram, foi um estuário natural ir para o PSB.

Valor: PSDB e PMDB estão na sua coligação. O sr. vai fazer campanha para o Aécio Neves (PSDB) e para a presidente Dilma Rousseff?

Rodrigues: O palanque nosso, em função da coligação, só não tem lugar para o PT. Até para o pastor tem [Everaldo Pereira, do PSC]. O PMDB é uma colcha de retalhos. Tem gente que apoia a Dilma, gente que apoia o Aécio e quem apoia o Eduardo. O Aécio foi meu colega de Câmara por vários mandatos, é meu amigo, mas, por conta do partido, vou dar apoio para o Eduardo.

Valor: Mas por que excluir o PT?

Rodrigues: O PT só provocou danos ao Estado. O sentimento da população de Roraima sobre o PT é de absoluta exclusão, o partido não é bem-vindo em Roraima. Prova é que o PT não tem nenhum deputado estadual nem federal aqui e quase não tem vereadores e prefeitos.

Valor: Há dificuldade de relacionamento com o governo federal?

Rodrigues: Assumi há 86 dias. Não poderia nem elogiar nem criticar o governo federal. Estive apenas três vezes em Brasília nestes três meses. Meu tempo é pouco e os projetos que levei estão em tramitação, espero que sejam atendidos. A presidenta Dilma, em relação ao Estado, tem atendido vários projetos de emendas parlamentares. Não no tamanho que a demanda reclama, mas não fomos esquecidos.

Valor: O senhor decretou estado de emergência na educação e saúde há menos de um mês por falta de verbas. O governo federal tem promovido desonerações que diminuem o repasse de recursos para os Estados. Vê situação financeira de Roraima melhorar no futuro?

Rodrigues: Não vivemos um momento republicano no Brasil. Essas desonerações para melhorar a opinião pública sobre o governo no ano eleitoral prejudicam ainda mais a vida dos Estados em que a receita própria é muito pequena e dependem das transferências compulsórias, como Roraima. Espero decretar o fim do estado de emergência até o fim do ano, mas não vejo a situação melhorando em menos de dois anos. Espero que, com a vitória do Eduardo Campos, esse quadro seja revisto. O Brasil é a sétima economia do mundo e precisa de uma gestão diferente.

Valor: O governo de Roraima é muito criticado pela oposição pelos gastos com propaganda...

Rodrigues: A lei eleitoral determina que os gastos com comunicação sejam inferiores [no ano eleitoral] à média dos três anos anteriores, e estamos absolutamente abaixo desta média.

Valor: Mas não é contraditório decretar estado de emergência e não cortar gastos com publicidade?

Rodrigues: Houve uma redução. Mas se a situação é tão difícil e você não mostra para a população o que está fazendo de bom, aí é que afunda, vai para o buraco negro. Temos melhoras visíveis no transporte escolar, recuperação de pontes, de escolas. Não é justo que deixemos de levar ao conhecimento da população o que estamos fazendo.

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