segunda-feira, 18 de agosto de 2014

A tristeza cruzou o Capiberibe

• Enterro de Eduardo Campos reúne 160 mil, com presença de adversários de todas as correntes

Sérgio Roxo, Júnia Gama, Eduardo Bresciani, Mariana Sanches e Letícia Lins – O Globo

RECIFE - Os pernambucanos foram às ruas ontem para se despedir de Eduardo Campos. Marcadas por um forte tom político, as cerimônias, que reuniram mais de 160 mil pessoas no Recife, tiveram gritos de hostilidade ao PT e palavras de apoio a Marina Silva, herdeira da candidatura, e a Renata, mulher do ex-governador. Marina ficou o tempo todo ao lado de Renata. A frase "Não vamos desistir do Brasil", dita por Campos na véspera de morrer, em entrevista ao "Jornal Nacional", foi impressa em camisetas e faixas, transformando-se em espécie de novo slogan da campanha, que será retomada esta semana.

No PSB, a retomada oficial da agenda política se dará por meio de um acerto de arestas com Marina. Para lhe garantir a cabeça de chapa, o partido coloca como condição básica o respeito aos acordos políticos feitos para as eleições estaduais. A ex-senadora deve ter maior presença mesmo em estados onde antes se negava a fazer campanha por causa das diferenças locais de seu grupo político com o de Campos. Há quem defenda que seja revista a postura de não deixar sua imagem ser usada pelo PSB nas regiões onde não houve acordo com a Rede.

Viúva dará palavra sobre nome de novo vice
Ontem à tarde, antes mesmo do sepultamento, o PSB divulgou nota dizendo que iniciaria as consultas para definir de forma consensual a nova composição da chapa. Renata, Marina e os partidos serão os primeiros a serem procurados. Dentro da legenda, a palavra da viúva é tida como o início do processo para definir o vice. Caso ela decida não opinar, o líder da legenda na Câmara, Beto Albuquerque (RS), passa ser o favorito para ficar com o posto.

Apesar de empecilhos a serem superados, a vice de Campos já é tratada como nova candidata tanto por lideranças partidárias quanto pela população que compareceu ao sepultamento. Quando o caixão chegou ao Palácio do Campos das Princesas, sede do governo de Pernambuco, na madrugada, a multidão que tomava a praça gritou em coro o nome da ex-senadora.

O velório começou ainda na madrugada, após um cortejo em carro aberto do Corpo de Bombeiros que percorreu 11 bairros da cidade e prosseguiu até o fim da tarde. Renata e os cinco filhos do casal permaneceram o tempo todo no Campo das Princesas. O grande número de pessoas dispostas a prestar a última homenagem ao ex-governador fez com que o sepultamento só acontecesse às 18h40m, sob aplausos, com o céu já escuro no Cemitério Santo Amaro, após 19 minutos de queima de fogos.

Pouco antes de o caixão ser colocado na sepultura, o grito "Eduardo, guerreiro do povo brasileiro" tomou o local, seguido por aplausos e uma grande queima de fogos.

Antes, os filhos e a mulher beijaram o caixão. O papel ativo dos filhos havia começado ainda no cortejo da madrugada. Pedro, Maria Eduarda e João, os três mais velhos, percorreram a cidade no carro do Corpo de Bombeiros, boa parte do tempo com os punhos cerrados, acenando para o povo e cantando palavras de ordem.

Dilma foi vaiada e depois aplaudida
Os três vestiam uma camiseta amarela com a frase "Não vamos desistir do Brasil". A frase também estampava uma faixa pregada no caminhão que carregou o caixão pela cidade.

A forte hostilidade ao PT também marcou a cerimônia. Os gritos de "Fora, PT" e "Fora, Dilma, agora é Marina" foram ouvidos inúmeras vezes. Uma pequena vaia, logo abafada por aplausos, foi ouvida no momento da chegada da presidente Dilma Rousseff. O candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, também compareceu e tentou demonstrar afinidades com as ideias defendidas por Campos.

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