sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Campanha de Aécio mira insatisfeitos com Marina

Raquel Ulhôa e Marcos de Moura e Souza – Valor Econômico

BRASÍLIA e BELO HORIZONTE - O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, buscará atrair os aliados de Eduardo Campos (PSB) nos Estados em que a ex-ministra Marina Silva, nova candidata a presidente pelo PSB, não apoia as alianças articuladas pelo ex-governador pernambucano, morto em um acidente aéreo no dia 13 de agosto.

Este é um dos "ajustes pontuais" a serem feitos na campanha de Aécio por causa da mudança no cenário eleitoral, provocada pela entrada de Marina na disputa presidencial. Aécio vai buscar o apoio formal ou informal do PSB e aliados nos Estados em que Marina não subirá nos seus palanques. É o caso do deputado Paulo Bornhausen (PSB), candidato ao Senado em Santa Catarina, em aliança com o senador Paulo Bauer (PSDB), que disputa o governo.

O assunto foi discutido na avaliação feita em reunião com Aécio, em São Paulo, na quarta-feira, da qual participaram o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador Geraldo Alckmin (PSDB), candidato à reeleição, o ex-governador José Serra (PSDB), que disputa o Senado por São Paulo, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), vice na chapa presidencial, o senador José Agripino (DEM-RN), presidente do seu partido e coordenador-geral da campanha, e o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM).

Marina já comunicou ao PSB que não subirá no palanque de Alckmin, que está aliado ao PSB, de Bauer (SC) e do governador Beto Richa (PSDB), no Paraná, que disputa a reeleição com apoio do PSB. Mas há problemas do grupo da ex-ministra, o Rede Sustentabilidade, com alianças do PSB em outros Estados, como Rio de Janeiro, Alagoas e Mato Grosso do Sul. Há, ainda, setores do PMDB que estavam com Eduardo Campos e podem não manter o apoio a Marina. Todos estarão no radar de Aécio.

O comando da campanha do tucano acredita que Marina deve manter alta pontuação nas próximas pesquisas de intenção de voto, por seu recall e pelo bombardeio do noticiário sobre a morte de Campos, que deu muita visibilidade a ela como vítima. Mas a expectativa é que o crescimento não seja consistente, principalmente por causa da falta de experiência de gestão, que esperam, ficará explícita durante a campanha eleitoral.

Aliados de Aécio dizem que a candidata deverá ser prejudicada pela divergência com o ex-coordenador da campanha de Campos, Carlos Siqueira, primeiro-secretário do PSB, que abandonou a função com críticas a Marina. O raciocínio é que o eleitor vai questionar se uma pessoa que não consegue unir seu partido vai conseguir unir o país.

"Agora está sendo testada a consistência da aliança entre o grupo da Marina, a Rede, e o PSB. E ela tem essa rigidez meio fundamentalista e vai colher os ônus e os bônus do que é essa suposta nova política defendida por ela. Os problemas dela estão só começando", disse o deputado federal Marcus Pestana (PSDB-MG). As disputas internas no campo da adversária eram previsíveis, segundo o deputado. Pestana lembrou que Marina já mostrou seu estilo ao "chutar o balde" contra o governador paulista quando se opôs à aliança do PSB com o PSDB no Estado. Apesar das críticas de Marina, Márcio França, do PSB, passou a ser candidato a vice de Alckmin.

Pestana reafirmou que, com o novo cenário eleitoral, a ideia da campanha tucana é reforçar a imagem de Aécio como candidato com experiência em gestão pública e com preocupação com a eficiência. Esse era um perfil semelhante ao do ex-governador de Pernambuco. "A faixa de Aécio agora se ampliou. Ele é o único nome da oposição com experiência em gestão, equilíbrio, sem fundamentalismos e capaz de processar mudanças no país sem riscos de radicalismos".

Apesar dos eventuais ajustes com a entrada da ex-senadora na corrida presidencial, Aécio e seus articuladores querem manter o foco na disputa com a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição. Para eles, a petista é a principal adversária, e não Marina. Por isso a campanha deve sofrer apenas "ajustes pontuais" em virtude do novo quadro.

Ontem, o candidato passou o dia em intensa agenda no Nordeste. Primeiro visitou a fábrica da Guararapes, em Natal, no Rio Grande do Norte. O tucano ainda fez uma caminhada pelo bairro de Alecrim antes de embarcar para Pombal, na Paraíba, onde participou de um comício.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou ontem o pedido de registro de candidatura de Aécio. A Corte também rejeitou o pedido da ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Denise Abreu (PEN) para anular a convenção do PEN que determinou o apoio ao tucano. O pedido de impugnação da convenção estava impedindo a confirmação da candidatura de Aécio pelo TSE.

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