segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Campanha de massa

• Com o início do horário eleitoral em 19 de agosto e a arrecadação ainda tímida, candidatos à Presidência da República adaptam a estratégia e apostam nos grandes centros para conseguir atingir o maior número possível de eleitores

Paulo de Tarso Lyra – Correio Braziliense

Depois de um mês de campanha exclusivamente pé no chão (veja quadro ao lado), os candidatos ao Palácio do Planalto inauguram neste mês de agosto uma nova etapa da corrida eleitoral: a disputa televisiva. Além da apresentação das propostas nos principais telejornais, eles se preparam para os programas eleitorais que irão ao ar a partir de 19 de agosto. Dilma Rousseff (PT), Eduardo Campos (PSB) e Aécio Neves (PSDB) terão de encaixar nas agendas horários para as gravações em estúdio. E cada um deles montou sua estratégia nesta fase inicial de tevê, aliada às viagens escolhidas a dedo para agregar valor ao discurso de campanha.

Segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, oscilando na casa dos 20% das preferências, o tucano Aécio Neves vai se dedicar à apresentação ao eleitorado. Segundo apurou o Correio, a estratégia dos marqueteiros do PSDB, neste primeiro momento, será contar a história do candidato, sua origem em uma família de tradição política, o parentesco com Tancredo Neves (eleito presidente de forma indireta após o fim da ditadura militar) e a trajetória como deputado federal, presidente da Câmara dos Deputados, governador por dois mandatos e senador da República.

De acordo com aliados, mesmo tendo uma pauta clara de propostas a serem apresentadas para convencer o eleitorado a aderir à sua candidatura, Aécio ainda precisa tornar-se conhecido nacionalmente — ele tem o nome muito associado ao Sudeste. Há um ano, quando lutou para assumir a presidência do PSDB, Aécio tinha em mente esta necessidade: ao optar por liderar os correligionários, ele também fazia uma opção pragmática por criar uma linha de diálogo própria com um exército de peessedebistas que multiplicaria sua imagem pelo Brasil.

O roteiro de viagens também é diversificado. Neste fim de semana, o tucano voou de Paraná e Rio Grande do Sul, para atrelar sua imagem à de dois líderes nas pesquisas para governador: Beto Richa (PSDB-PR) e Ana Amélia (PP-RS). No próximo fim de semana, a intenção é voar para o Acre, estado comandado há muito tempo pelo PT, e para Manaus, governado pelo correligionário Arthur Virgílio. Na semana seguinte, o Nordeste terá atenção total. A intenção é visitar todos os estados da região nos dias 12,13 e 14. "O Nordeste merecerá uma atenção toda especial, não na campanha, mas no governo. Levaremos o exemplo do que fizemos em Minas Gerais, onde, no fim do nosso mandato, tínhamos gasto três vezes mais per capita na região mais pobre de Minas do que nas regiões mais ricas", anunciou ele, após evento de campanha em Minas Gerais.

Conciliar agendas
A presidente Dilma Rousseff deve equilibrar mais, neste mês agosto, a agenda de campanha e a oficial, como presidente. Em julho ela foi, dos três principais candidatos, a que menos viajou. Mas, agora, o comando de campanha avisou que ela mudará a estratégia. "Pretendemos centralizar as viagens neste momento nos quatro principais colégios eleitorais brasileiros: São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia", disse o presidente nacional do PT, Rui Falcão.

Além de aproveitar para, de uma vez só, atingir um número maior de eleitores, Dilma precisa atuar fortemente nesses estados para reverter a rejeição que enfrenta em relação aos principais adversários na corrida pelo Planalto. O Nordeste, tradicional reduto eleitoral do PT, não será esquecido. Mas lá ela contará com a presença de um companheiro luxuoso. "Estamos aguardando o ex-presidente Lula definir a agenda de viagens dele com Dilma para os estados nordestinos", confirmou Falcão.

Na propaganda eleitoral, a equipe do marqueteiro João Santana está preparando um bombardeio de informações sobre os principais programas sociais do governo: Mais Médicos, Minha Casa Minha Vida e Bolsa Família. Será apresentada uma presidente que aprofundou as transformações e a inclusão no país, aliado a um slogan que ela deixou escapar durante a sabatina dos presidenciáveis na Confederação Nacional da Indústria (CNI). "Eu tenho que mostrar o que eu fiz. E, se eu fiz, sou capaz de fazer mais, e melhor."

Não será só um balanço dos quatro anos de governo. A propaganda petista servirá também para debater a necessidade de acelerar as melhorias nos serviços públicos — educação, saúde e mobilidade urbana — e um debate acirrado com a oposição em torno da plataforma econômica. "Eduardo disse que reduziria a inflação a 3%. Dilma lembrou que isso gera desemprego e ele calou-se", comemorou o vice-presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP).

O PSB reforçará ainda mais no horário eleitoral o discurso de que Eduardo Campos e Marina Silva representam a oportunidade de mudança após 20 anos de polarização entre PT e PSDB no governo federal. Interlocutores do candidato socialista apostam na exposição de imagens de ambos nas caminhadas feitas com o povo, para mostrar que o discurso do PSB está em sintonia com as demandas feitas pelas ruas em junho do ano passado. Com menos tempo de televisão e menos dinheiro em caixa, as viagens tendem a se concentrar nos grandes centros, para atingir com menos gastos o maior número de eleitores possível.

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