quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Eduardo Campos (1965-2014) - Tragédia muda eleição

• Queda de avião em que viajavam o candidato à presidência pelo PSB e mais seis pessoas causa comoção; aliados e adversários lamentam o desaparecimento de um nome que era apontado como esperança de renovação política

Tatiana Farah – O Globo

SÃO PAULO -O tempo estava fechado na Baixada Santista. Com sua equipe, o candidato Eduardo Campos (PSB) rumava para mais um compromisso de campanha na região. O piloto do Cessna Citation 560 XL tentou pousar na base aérea do Guarujá por volta das 9h50m. Não conseguiu. Arremeteu o avião, que acabou se chocando com casas no bairro do Boqueirão, em Santos. Morreram Campos e as outras seis pessoas que estavam no avião. Assim se desenhou, ontem, uma história de horror que abalou o país e pode mudar os rumos da eleição, com o PSB tendo de decidir seu futuro em poucos dias. O acidente deixou destroços do jato em 13 casas do bairro e seis pessoas feridas, entre elas um bebê de 3 meses.

Eduardo Campos tinha 49 anos e o sonho de ser presidente. Em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto (9%, segundo o Ibope da semana passada), estava animado: sua equipe ficou satisfeita com o resultado da entrevista do candidato no "Jornal Nacional" na noite de anteontem. A candidata a vice-presidente, Marina Silva, estava no Rio, mas não embarcou no avião. Viajou a São Paulo em voo de carreira para gravar o programa de TV que começa na semana que vem. A mulher de Eduardo, Renata, estava no Rio com o filho Miguel, de 7 meses, para acompanhar o marido, mas não foi à Baixada Santista. Voltou a Recife com o bebê.

Ontem, já em Santos, Marina não escondia o choque:

- Durante estes dez meses de convivência, aprendi a respeitá-lo, admirá-lo e a confiar nas suas atitudes e nos seus ideais de vida - disse Marina, que continuou: - Eduardo estava empenhado com esses ideais até os últimos segundos de sua vida, e a imagem que eu quero guardar dele foi a da nossa despedida de ontem: cheio de alegria, cheio de sonhos, cheio de compromissos.

Em uma campanha eleitoral de ânimos acirrados e declarações extremadas, e cujo desfecho se torna mais incerto, a morte de Eduardo Campos ontem uniu brasileiros. Os candidatos fecharam seus comitês e suspenderam as agendas de campanha. A presidente Dilma Rousseff, que concorre à reeleição, decretou luto de três dias. Agora, o PSB tem dez dias para decidir quem concorrerá às eleições no lugar de Campos. Nas eleições passadas, Marina teve 20 milhões de votos no primeiro turno, mas a decisão ficou entre José Serra (PSDB) e Dilma (PT).

- O Brasil perde uma jovem liderança, com um futuro extremamente promissor pela frente. Um homem que poderia galgar os mais altos postos do país. Sem sombra de dúvidas, é uma perda. Para além das nossas divergências, nós mantivemos sempre uma forte relação de respeito mútuo - lamentou Dilma.

Em São Paulo, o candidato do PSDB, Aécio Neves, lastimou a morte de Campos, de quem era amigo há 20 anos.

- Estou muito consternado. É um baque que demora um pouco para se recuperar - disse Aécio, antes de embarcar para o Rio de Janeiro, onde passaria a noite com a sua família.

O ex-presidente Lula, cujo Ministério Campos integrou, disse ter ficado entristecido por perder um "amigo e companheiro". Para Fernando Henrique, ainda que não vencesse as eleições, Campos "seria um líder para a renovação política que tanto necessitamos". Ex-ministros e dirigentes políticos de todo o país também se mostraram consternados.

Eduardo Campos morreu no nono aniversário de morte de seu avô, o ex-governador Miguel Arraes, a quem homenageou com o nome do mais novo de seus cinco filhos, nascido sete meses atrás. Ex-governador, ex-deputado e ex-ministro, Campos era herdeiro político de Arraes, uma das lideranças políticas perseguidas e exiladas pelo regime militar.

No avião, estavam os pilotos Marcos Martins e Geraldo Magela da Cunha, os assessores Pedro Valadares e Carlos Augusto Leal Filho, o Percol, o fotógrafo Alexandre Severo e o cinegrafista Marcelo Lyra. A Aeronáutica enviou dez investigadores ao local do acidente, e a investigação deverá levar meses para ser concluída. A caixa preta da aeronave foi resgatada pelo Corpo de Bombeiros e entregue ao Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da Força Aérea. (Colaborou Thiago Herdy)

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