domingo, 24 de agosto de 2014

Marina perde metade dos apoios estaduais fechados por Campos

• Ex-governador de PE havia acertado alianças em todos os Estados, mas muitas não tinham o aval da candidata

• Campanha da ex-ministra corre o risco de ficar esquálida em colégios eleitorais relevantes, como Minas

Daniela Lima, Diógenes Campanha, Patrícia Britto e Felipe Bächtold – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO, PORTO ALEGRE - A candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, deve perder ou abrir mão de cerca de metade dos palanques estaduais que tinham sido articulados por seu antecessor no posto, Eduardo Campos.

O ex-governador de Pernambuco, que morreu em um acidente aéreo, havia negociado apoios em todos os Estados. Dos 27 acordos fechados por ele, ao menos 14 devem naufragar com a substituição da candidatura.

Nesses locais, ou as alianças foram fechadas contra a vontade de Marina --que defendia candidatura própria--ou são protagonizadas por políticos que atuam em campo completamente diverso ao da ex-senadora.

Há ainda o risco de a campanha ficar esquálida em colégios eleitorais importantes, com a defecção de puxadores de votos que desistiram de disputar cargos após a morte de Campos.

Foi o que ocorreu em Minas Gerais, onde o candidato a governador do PSB, Tarcísio Delgado, não alcança dois dígitos. Os pessebistas, então, apostavam na candidatura de Alexandre Kalil, presidente do Atlético Mineiro, para assegurar uma boa bancada de deputados federais, e, por consequência, divulgar a candidatura presidencial. Mas ele desistiu de concorrer.

"Nada neste partido [PSB] me interessa. O que me interessava caiu de avião", disse, ao explicar a decisão.

Herança
Adversários de Marina esperam herdar parte do capital político que está se afastando da ex-senadora.

O PSDB, por exemplo, acredita que "naturalmente" deve haver uma aproximação maior entre seu candidato, Aécio Neves (MG), e candidatos de Estados como Mato Grosso do Sul, Alagoas e Santa Catarina.

Neste último, Campos havia costurado um acordo para que Paulo Bauer (PSDB) mantivesse um palanque duplo, indicando o candidato a senador da coligação, Paulo Bornhausen (PSB).

O pessebista tem dito que a coligação continuará ajudando Marina. Ele foi a uma das reuniões que o partido fez em Brasília que decidiu o futuro da campanha presidencial --mas ficou do lado de fora da sala onde foram tomadas as resoluções.

Há ainda dificuldades ideológicas no alinhamento de Marina com candidatos defendidos por Campos no resto do país. No Mato Grosso do Sul, Nelson Trad Filho (PMDB) havia feito um acordo com Eduardo Campos, que indicou a candidata a vice na chapa do peemedebista.

Muito ligado ao agronegócio, Nelson Trad encontra resistência entre os marineiros, e, por sua vez, teme a resistência de seus aliados e financiadores a Marina.

A escolha do novo vice de Marina, Beto Albuquerque, deputado gaúcho com trânsito entre os ruralistas, foi vista como uma tentativa da ex-senadora de facilitar o contato com esse grupo ou ao menos reduzir a antipatia do setor à sua candidatura.

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