domingo, 3 de agosto de 2014

Oposição reage e pede anulação dos depoimentos da CPI da Petrobras

• Aécio anunciou que PSDB acionará conselhos de ética. Líder do DEM na Câmara defendeu a anulação dos depoimentos à CPI do Senado

Isabel Braga e Flávio Ilha – O Globo

BRASÍLIA e PORTO ALEGRE — O senador Aécio Neves, candidato do PSDB à presidência, anunciou neste sábado, em Porto Alegre, que o partido irá ingressar na segunda-feira com representações junto aos conselhos de ética do Senado, da Presidência da República e da Petrobras para investigar as denúncias de que houve farsa nos depoimentos da CPI da Petrobras.

As denúncias foram reveladas pela revista Veja que começou a circular no sábado. A publicação teve acesso a uma gravação apócrifa (sem fonte) em que o chefe do escritório da Petrobras em Brasília, José Eduardo Sobral Barrocas, conversa com Bruno Ferreira, advogado da estatal, sobre a combinação de depoimentos de servidores públicos e diretores da empresa nas sessões da Comissão.

No vídeo, Barrocas revela que houve combinação entre perguntas e respostas e treinamento para os depoentes. A conversa envolve os senadores Delcídio do Amaral (PT/MS), Vanessa Graziotin (PCdoB-AM) e José Eduardo Dutra (PT-SE).

Segundo Aécio, as denúncias, se comprovadas, são de “extrema gravidade”.

— A reportagem mostra servidores públicos da Presidência, senadores e funcionários da Petrobras enganando a sociedade brasileira. Se de fato isso ocorreu, é um enorme desrespeito. Uma verdadeira farsa. O PSDB irá tomar as medidas judiciais necessárias — disse.

O candidato informou que a direção do PSDB vai se reunir durante o final de semana para preparar os recursos. Outras medidas poderão ser sugeridas, como representar denúncia contra os citados junto à Procuradoria-Geral da República. Aécio lamentou a “judicialização” da campanha e atribuiu a proliferação dos recursos à dificuldade do PT em “separar público e privado”.

Na quinta-feira, a Executiva do PSDB acionou a Justiça contra a presença de ministros na sabatina da presidente Dilma Rousseff na CNI, ocorrida um dia antes. Na sexta, o PT respondeu acionando Aécio pela suposta utilização irregular de pistas de pouso nos municípios de Claudio e Montezuma, em Minas Gerais. A acusação é de que houve “atentado contra a segurança aérea”.

— Todas as denúncias contra nós serão devidamente respondidas. Essa representação (do PT) não merece nem reposta de tão ridícula. As agências reguladoras é que deveriam ser investigadas pela demora em conceder licenças, que podem levar até dez anos. Isso mostra a incapacidade de gestão do PT e o esfacelamento das agências reguladoras. Iremos à Justiça sempre que acharmos necessário — afirmou.

Depois do encontro com a imprensa, Aécio e Ana Amélia participaram de um comício no Gigantinho. Os dois candidatos não participaram da caminhada dos militantes do PP que participaram do ato.


LÍDERES DA CÂMARA DEFENDEM ANULAÇÃO DE DEPOIMENTOS
O líder do DEM na Câmara dos Deputados, Mendonça Filho (PE), defendeu a anulação dos depoimentos de Foster e dos ex-dirigentes da estatal à CPI do Senado e a apuração se esse tipo de prática por parte de parlamentares governistas também ocorreu na CPI Mista da Petrobras. O DEM quer ainda a convocação, na CPI mista da Petrobras, dos assessores da Petrobras e do governo, citados na reportagem da Veja, além do ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini.

— Temos que apurar essa denúncia de armação na CPI do Senado e apurar a extensão na CPI mista, saber se ela também está envolta neste tipo de prática nefasta. Anular os depoimentos dados à CPI do Senado, que sempre foi uma farsa para encobrir as irregularidades e por isso a oposição, publicamente não compactuou com essa CPI —disse Mendonça Filho, acrescentando:

— Vou falar com o senador Vital do rego, que é presidente das duas CPIs e pedir apuração. O fato da oposição não compactuar com o teatro da CPI do Senado não significa transformar o instrumento da CPI — instrumento importante do Legislativo — em departamento de manobra do Planalto. Isso fere a imagem do Legislativo. Uma atitude que não pode ser tolerada.

A oposição questionou a CPI da Petrobras exclusiva do Senado e não participou dos depoimentos. Segundo a revista Veja, as perguntas e respostas de senadores da base aliada foram enviadas à Foster e aos dirigentes da estatal (Sérgio Gabrielli e Nestor Cerveró) para participar de depoimentos na CPI exclusiva do Senado.

O líder do Solidariedade na Câmara, Fernando Francischini (PR), também condenou, por meio de sua assessoria, "a encenação orquestrada por pessoas ligadas" à Petrobras e ao governo:

— Agora entendemos porque a senadora Gleisi Hoffmann dizia que o governo e a presidente Dilma não tinham medo da CPI. Porque estava tudo vergonhosamente ensaiado! Um teatro que o governo Dilma fez para enganar o Brasil. O PT faz de tudo para esconder a roubalheira. Transforma políticos em atores para repetir o mantra do PT de que não existe roubalheira — diz Francischini.

O líder do Solidariedade diz que a oposição ficará atenta à CPI mista, onde eles estão presentes, mas o governo tem maioria:

— Agora temos que ficar atentos para a CPMI da Petrobras porque lá o governo tem maioria. É provável que este teatro esteja acontecendo também na CPMI. Com perguntas e respostas já previamente combinadas. O PT debocha do povo brasileiro ao ser conivente com a corrupção.

O lider do DEM pedirá a convocação de Ricardo Berzoni à CPI mista e também ao plenário da Câmara e em duas comissões da Câmara (Fiscalização Financeira e Segurança Pública). De acordo com a reportagem da Veja, um dos envolvidos na denúncia de envio de perguntas dos senadores governistas aos que iriam depor da CPI é o assessor especial da SRI, Paulo Argenta.

Mendonça Filho também pedirá a convocação de Argenta à CPI, além do chefe do escritório da Petrobras em Brasília, José Eduardo Sobral Barrocas; do advogado da estatal, Bruno Ferreira; do assessor da Liderança do Governo no Senado, Marcos Rogério de Souza; do assessor da Liderança do PT na Casa, Carlos Hetzel; e dos senadores Delcídio Amaral (PT-MS) e José Pimentel (PT-CE), todos citados na denúncia da revista Veja.

Procurada, a Secretaria de Relações Institucionais disse que não irá se pronunciar neste sábado. O senador Pimentel, por meio de sua assessoria, também não falará hoje. Irá analisar as denúncias na segunda-feira, quando retornar a Brasília.

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