segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Delação desmonta estratégia de Dilma

Andrea Jubé, Bruno Peres e Lorenna Rodrigues – Valor Econômico

BRASÍLIA - As revelações do delator da Operação Lava Jato e ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa colocaram em xeque uma das estratégias orquestradas pela campanha de Dilma Rousseff para conter a escalada de Marina Silva nas pesquisas: a importância do pré-sal. Um trunfo da Petrobras que, agora, na campanha, virou sinônimo de corrupção. A própria Marina já fez a defesa da Petrobras e do pré-sal em seu programa eleitoral do sábado, um antídoto permitido pela citação do PT e aliados na delação.

Um dos coordenadores da campanha petista admitiu ao Valor que teme o impacto da delação de Costa sobre a defesa do pré-sal, um contraponto que Dilma passou a fazer em relação a Marina, depois que o programa de governo divulgado pelo PSB reduziu a prioridade da exploração dessa riqueza natural. A valorização dessa fonte de energia como "passaporte para o futuro do Brasil", ao lado da "ameaça" de enfraquecimento dos bancos públicos - com reflexos em programas como Minha Casa, Minha Vida e financiamento da agricultura familiar - são discursos que ganharão corpo na propaganda dilmista.

O temor de que os desdobramentos das denúncias enfraqueçam esse discurso ronda a cúpula da campanha petista. Por ora, a palavra de ordem é cautela, até porque o delator citou encontros com o ex-presidente Lula e incluirá nos depoimentos a refinaria de Pasadena, mau negócio da empresa feito tendo no Conselho a própria presidente Dilma. O governo está também informado de que a lista de parlamentares envolvidos é mais extensa do que a conhecida.

A avaliação até agora é de que não há provas concretas das declarações de Costa, mas persiste a apreensão quanto ao que ainda virá a público nos próximos dias.

Por enquanto, está mantida a estratégia de acusar Marina de reduzir a prioridade do pré-sal. Na propaganda eleitoral de Dilma veiculada também no último sábado esta retórica foi reforçada. Ontem, a presidente voltou a afirmar que teme a redução da importância do pré-sal, durante entrevista no Palácio da Alvorada, após assistir ao desfile cívico-militar em comemoração ao 7 de Setembro.

Questionada sobre as denúncias de improbidade na Petrobras, Dilma afirmou que gostaria de ter acesso a "informações oficiais".

"Ninguém foi oficialmente acusado. Enquanto não me derem os dados (oficiais), não tomarei nenhuma providência. Não posso me pautar pelo que dizem, não os órgãos de investigação, mas a imprensa", rebateu.

Perguntada sobre a permanência do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB), no governo, Dilma se esquivou, dizendo que não falou com ele "nos últimos dias". Seu nome teria sido citado na delação premiada. Dilma arrematou destacando que é próprio do presidente da República "ser pressionado". "Eu também aguento a pressão bem", afirmou.

O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, que acompanhou Dilma ao desfile de 7 de setembro, classificou as denúncias como "boataria de um vazamento de um procedimento". Para ele, trata-se de uma coisa "em geral dirigida", com a finalidade de "proteger um e beneficiar outro". Para Carvalho, "estão tentando usar a notícia da delação premiada para mudar o rumo da campanha eleitoral". Em defesa dos parlamentares da base aliada (PT, PMDB e PP) citados na delação, Carvalho disse que "o que importa é a defesa das bandeiras das mudanças".

Diferentemente de outros desfiles, em que surgiu acompanhada de familiares, com todos os ministros e suas mulheres ao seu redor no palanque, a presidente apareceu sozinha neste ano, desembarcou do Rolls-Royce presidencial sob aplausos. Em pontos mais distantes do palanque de autoridades, vaias foram dirigidas a Dilma.

O vice-presidente Michel Temer à esquerda, o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), à direita, e o ministro da Defesa, Celso Amorim, dividiram o palanque com Dilma. Chamou a atenção a ausência de autoridades que prestigiaram o evento nos anos anteriores, como o ministro Edison Lobão e o segundo e terceiro na linha sucessória, os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), todos citados na delação.

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