terça-feira, 9 de setembro de 2014

Dilma diz que 'não tinha menor ideia' de crimes na Petrobras

• Dilma diz que não sabia sobre corrupção na estatal, mas afirma que problema já foi resolvido

Luiza Damé, Catarina Alencastro e Fernanda Krakovics – O Globo

BRASÍLIA - Após as denúncias de supostos casos de corrupção na Petrobras envolvendo políticos da base aliada do governo, a presidente Dilma Rousseff saiu ontem em defesa da estatal e de sua presidente, Graça Foster. O vazamento dos primeiros nomes que teriam sido delatados pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, entre eles governadores e ex-governadores aliados de Dilma, além do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, jogaram a empresa no centro do embate eleitoral. Candidata à reeleição, a presidente disse que "não tinha a menor ideia" de que havia um esquema criminoso na empresa. Com a frase, Dilma lembrou seu antecessor, o ex-presidente Lula, que disse que nada sabia quando veio à tona o caso do mensalão.

Dilma, que foi ministra de Minas e Energia e presidiu o Conselho de Administração da Petrobras durante o governo Lula, evitou ficar na defensiva com as novas denúncias e apresentou o governo como o responsável pela investigação.

- Se houve alguma coisa, e tudo indica que houve, eu posso te garantir que todas, vamos dizer assim, as sangrias que eventualmente pudessem existir estão estancadas - disse a presidente.

Na tarde de ontem, em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", Dilma disse ter pedido informações à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal para tomar providências em relação aos funcionários do governo denunciados por Costa. A presidente não citou o nome de Costa, mas disse que, embora tenha mudado a direção da Petrobras mais de um ano após assumir a Presidência, não recebeu pressão dos partidos aliados para mantê-lo e que não havia desconfiança sobre seu comportamento.

- Eu substituí aqueles que não considerava que eram os melhores para a minha equipe. Eu não tinha nenhuma avaliação de valor quanto a nenhum deles, quanto a malfeitos e atos de corrupção, porque, se tivesse, teria tomado as providências cabíveis - afirmou a candidata, ressaltando que Costa era funcionário de carreira da Petrobras.

Acusações de telhado de vidro
Mais tarde, em entrevista coletiva, Dilma partiu para o ataque contra seus principais adversários, a ex-senadora Marina Silva (PSB) e o senador Aécio Neves (PSDB). Indagada se havia "exploração eleitoreira" dos problemas na Petrobras, a presidente rebateu:

- Hoje há. Os dois candidatos não podem esquecer seus telhados. Eu não vou ficar aqui falando do telhado de ninguém, mas eles devem olhar os seus telhados. O meu telhado tem a firme determinação da investigação, então ele é cobertinho pela Polícia Federal investigando, Ministério Público com autonomia e lei anticorrupção que aprovamos - afirmou a presidente.

Aliado de Marina Silva, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), morto em um acidente aéreo, é citado pelo ex-diretor da Petrobras, segundo a revista "Veja", como um dos beneficiários do esquema de corrupção na estatal. Para minar Aécio, Dilma citou na entrevista o acidente que levou ao afundamento de uma plataforma de petróleo durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Mais uma vez, Dilma defendeu a presidente da Petrobras e o corpo de funcionários.

- Acho que a Graça é uma gestora extremamente competente e capaz e que tomou todos os cuidados para que, cada vez mais, as práticas mais transparentes, efetivas e corretas sejam adotadas dentro da Petrobras - afirmou.

A presidente também disse ter pedido informações ao ministro Edison Lobão, que, segundo ela, negou com veemência qualquer participação no caso. Ela afirmou, no entanto, que se for comprovada ligação de funcionário do governo federal com esquema de desvio de dinheiro, ele será demitido:

- Eu determinei ao ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) que fizesse um ofício à Polícia Federal pedindo que, se houvesse algum funcionário do governo federal envolvido, eu gostaria de ter acesso às informações para tomar todas as providências. É prudente saber primeiro se isso é verdade. Como a Polícia Federal respondeu que não pode, fiz um ofício para o Procurador Geral da República, pedindo ao Ministério Público que me informe para proceder com as providências cabíveis. E elas serão proporcionais ao comprometimento da pessoa. Se a pessoa estiver comprometida, é afastamento puro e simples do governo.

A presidente destacou que, até este momento, as acusações partem apenas da imprensa, que teve acesso a políticos citados por Costa. Segundo Dilma, como presidente da República, ela precisa de informações oficiais da PF e do Ministério Público Federal para decidir o que fazer. Se for o caso, recorrerá ao Supremo Tribunal Federal para ter acesso às declarações de Costa.

- Eu não quero dentro do meu governo quem esteja comprometido com qualquer malfeito, mas também não quero dar à imprensa um caráter que não tem perante as leis brasileiras. A imprensa não tem fórum inequívoco para dizer para mim se uma pessoa é corrupta ou não - afirmou.

Petrobras pede acesso a depoimentos
A Petrobras também se pronunciou ontem pela primeira vez desde que surgiram as novas denúncias. Em nota, a estatal informou que solicitou à PF, encarregada da Operação Lava-Jato, o acesso ao depoimento prestado pelo ex-diretor da estatal. A empresa destaca que continua trabalhando em todas as suas atividades e que eventuais irregularidades cometidas por uma pessoa ou um grupo não representam a maioria dos funcionários.

De acordo com a revista "Veja", Costa teria dito que os políticos envolvidos no esquema da Petrobras recebiam 3% de comissão sobre o valor de cada contrato da estatal no período em que ele comandava a diretoria de Abastecimento, de 2004 a 2012. A Petrobras afirmou que pediu ao juiz responsável pela Lava-Jato acesso às informações sobre a Petrobras que Costa já teria fornecido no âmbito da delação premiada, "bem como enviou cartas às empresas citadas nos veículos de comunicação, solicitando informações sobre a existência de seus contratos com empresas ligadas ao Sr. Alberto Youssef e sobre qualquer envolvimento com as atividades objeto desta investigação". (Colaborou Ramona Ordonez)

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