sábado, 20 de setembro de 2014

Dilma diz que papel da imprensa não é investigar

• Presidente vai pedir informações ao STF sobre caso da Petrobras; ela afirmou que não pode agir ‘com base em disse me disse’

Cristiane Jungblut – O Globo

BRASÍLIA — A presidente Dilma Rousseff disse que vai pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) acesso ao depoimento do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa dentro do processo em que ele é beneficiado pela delação premiada. Enfática, Dilma disse que "não é possível" a imprensa ter informações e que, como presidente da República, não pode tomar providências com base no "disse me disse". A petista disse que vai fazer o pedido ao ministro Teori Zavascki, que é o relator do caso no STF. Para a candidata, o papel da imprensa "não é de investigar e sim de divulgar informações".

A reação de Dilma ocorreu porque o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, negou acesso ao depoimento de Paulo Roberto Costa. Ela disse que não faz prejulgamentos e que, sem as informações oficiais, não pode "tomar providências". Para Dilma, a impunidade é o maior mal do país atualmente.

— Pedirei ao ministro Teori a mesma coisa: quero ser informada se no governo tem alguém envolvido. Não tenho porque dizer que tem alguém envolvido, porque não reconheço na revista "Veja" e nem em nenhum órgão de imprensa o status que tem a PF, o MP e o Supremo. Não é função da imprensa fazer investigação e sim divulgar informações. Agora, ninguém diz que a informação é correta. Não prejulgo, mas também não faço outra coisa: não comprometo prova. Porque o câncer que tem nos processos de corrupção é que a gente investiga, investiga, investiga e ainda continua impune — disse Dilma, acrescentando:

— Não é possível que a revista "Veja" saiba de uma coisa e o governo não saiba quem é que está envolvido. Pedi primeiro para a PF, que me disse: não posso entregar, a investigação está em curso e peça ao MP. E o MP me disse a mesma coisa: se ele me disser, ele contamina a prova. Se ele me disser, ele contamina a prova.

E reiterou, irritada:

— Quando sai uma denúncia na "Veja" ou em qualquer outro jornal, eu não tomo medida, porque sou presidente da República, baseada no disse me disse. Tomo medida baseada inclusive naquilo que sou a favor, que é da investigação absoluta. Vamos deixar uma coisa clara aqui: Quem é que descobre as práticas de corrupção no Brasil? A PF. Porque a PF tem hoje uma autonomia integral para investigar quem quer que seja. No Sempre que vazam informações que estão em investigação, sabe o que acontece? Compromete-se a prova. O MP denuncia e não pode ser condenado, porque a prova foi comprometida. Não é possível que alguém queira que a fonte de investigação no Brasil não sejam os órgãos oficiais. E são PF, MP e Judiciário.

Para Dilma, os crimes ficam impunes no Brasil por causa do vazamento de informações.

— O que queria saber? Queria saber sim, para eu tomar providências. O que eles me dizem? Se entregar a prova para você, estarei comprometendo a investigação. Acho que nessa investigação, ela está sendo diferente. A própria revista Veja diz que o inquérito, os depoimentos, a delação estão criptografados e guardados num cofre. Isso significa que nenhuma das falas é garantida. Ninguém sabe o que é — disse a presidente, afirmando que tem um "imenso compromisso contra a impunidade":

— O pai no sentido de protetor, o compadre do crime de corrupção, do crime de lavagem de dinheiro, do crime financeiro é um só: a impunidade. Pode saber que criar condições para (combater ) impunidade, é uma coisa que o país tem de avançar. Antes, tinha o engavetador- geral da república. Hoje, tem um procurador-geral da República que investiga e tem autonomia.

A presidente se irritou ao ser perguntada sobre a declaração de Paulo Roberto de que teria recebido R$ 1,5 milhão de propina no processo de compra da refinaria Pasadena. Ela já tinha encerrado a entrevista e voltou para falar sobre o assunto.

— Se você me disser para quem ele disse, quem disse e como é que disse, eu respondo. Recebo informações de juiz, de procurador e de delegado da PF. Sou a favor de investigar, nada colocar para debaixo do tapete. Acho que o maior mal atual é a impunidade. Se investiga, descobre o mal feito e não condena, cria a sensação de que não teve pena nenhuma. Sabe por que protege com a impunidade? Porque você não prende, não pune e só tem um jeito: tem que punir. Por isso é que se diz: tolerância zero — disse ela, irritada e falando enquanto caminhava na rampa interna do Palácio da Alvorada.

Dilma ainda criticou a especulação na Bolsa de Valores e no mercado financeiro com base no resultado de pesquisas eleitorais.

— Acho ótima a reação da Bolsa. Quando a Bolsa cai, eu falo: será que eu subi? Tá ficando ridículo isso. Especulação tem limite! E acho que tem gente ganhando com isso. Eu não sou, eu perco, tá? Acho desagradável o fato de acharem que uma coisa está vinculada à outra. Quando sobe, ou quando desce. Não comentei e não comento pesquisa nem quando sobe e nem quando desce. Nunca comentei na vida — disse, irônica.

Escândalos iniciados na imprensa

Collor. Pedro Collor de Mello, irmão de Fernando Collor, deu entrevista à revista “Veja”, em 1992, que acabou resultando no impeachment do presidente. Ele dizia que PC Farias era “testa de ferro” do irmão, com grande influência nas decisões do governo. O GLOBO publicou que o Fiat Elba de Collor fora pago com cheque do fantasma José Carlos Bonfim, provando que o presidente não estava fora do esquema PC.

Anões do Orçamento. Em 1993, José Carlos Alves dos Santos, ex-assessor da Comissão Mista de Orçamento, contou à “Veja” que parlamentares faziam emendas destinando dinheiro a entidades ligadas a familiares e também a laranjas. O esquema incluía ainda acertos com empreiteiras.

Mensalão. Roberto Jefferson denunciou ao jornal “Folha de S.Paulo”, em 2005, o esquema do mensalão. Afirmou que levou o assunto a vários ministros do governo Lula e ao próprio presidente.

Mensalão Mineiro. Em julho de 2005, O GLOBO publicou que Marcos Valério, operador do mensalão do PT, já havia montado o mesmo esquema para a coligação do tucano Eduardo Azeredo, em Minas.

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