segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Dilma é cobrada por Petrobras em debate

• Presidente diz que foi ela quem demitiu diretor envolvido em corrupção; Marina abordou política do etanol

Germano Olveira, Renato Onofre, Sérgio Roxo e Tiago Dantas – O Globo

SÃO PAULO — Ao ser o principal alvo de ataques durante o debate entre os candidatos à Presidência da República, realizado neste domingo pela TV Record, Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, fez questão de tentar rebater as críticas. Confrontada com denúncias de corrupção no seu governo, especialmente envolvendo a Petrobras, Dilma chegou a pedir três direitos de resposta em uma hora.

O candidato Aécio Neves, do PSDB, disse que não vê a presidente Dilma indignada com os escândalos que envolvem a Petrobras e políticos do PT, PMDB e PP, que ele classificou como “vergonhosos”. Pastor Everaldo, do PSC, e Levy Fidelix , do PRTB também criticaram as denúncias durante suas falas.

Combate à corrupção
No único direito de resposta que foi aceito, a presidente saiu em defesa do seu governo:

— Uma coisa tem que ficar clara, quem demitiu o Paulo Roberto (ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, preso na Operação Lava-Jato) fui eu. E a Polícia Federal, no meu governo, foi quem investigou todo esses ilícitos. Eu fui a única candidata que apresentou propostas para o combate da corrupção.

Ela voltou a falar sobre o assunto no segundo bloco, ao ser questionada por uma jornalista sobre segurança pública:

— Queria dizer ainda que eu tenho tido tolerância zero com a corrupção. Não varri nada para debaixo de tapete. Não criei nenhum engavetador geral da República.

No início do debate, Dilma havia pedido dois direitos de resposta para inutilizar os ataques feitos por Aécio Neves, Marina Silva e Pastor Everaldo (PSC) quando não estava sendo questionada. Os dois pedidos foram rejeitados pela direção do debate. O terceiro pedido não tinha a ver com os casos de corrupção. Ela foi acusada pelo pastor Everaldo de ser autoritária por “tirar um minuto do programa de TV”.

O ataque mais contundente às denúncias da Petrobras foi feito por Aécio Neves, ao responder uma pergunta feita pela própria Dilma. A presidente quis saber se o senador mineiro poderia se comprometer a não privatizar a Petrobras, citando um discurso feito por ele em março de 1997, quando o tucano disse que poderia discutir a privatização da estatal.

— Não vamos privatizá-la. Vou tirar das mãos desse grupo político que tomou conta da Petrobras. É vergonhoso. As denúncias não cessam. E não vejo a senhora dizendo: ‘não é possível que fizeram isso’. Essa indignação está faltando.

O assunto voltou à tona em uma pergunta feita pelo pastor Everaldo para Levy Fidelix:

— Dilma disse que não tinha ideia do que estava acontecendo. O senhor acha que ela não tinha ideia mesmo?

O candidato do PRTB respondeu que acredita que a presidente “não tem a menor ideia disso (escândalo da Petrobras), como de outras coisas” e citou problemas no orçamento e gastos públicos.

Até o início do segundo bloco, Marina Silva não havia feito nenhum comentário sobre corrupção. A candidata do PSB preferiu centrar os ataques do governo na crise do etanol.

A presidente aproveitou o tempo da resposta para falar de outros assuntos que haviam sido levantados por outros candidatos: citou o programa federal de remédios gratuitos, a modernização das Forças Armadas e a produção de energia por meio de hidrelétricas.

Polêmica da CPMF
Dilma havia partido para o ataque contra Marina logo na primeira pergunta do debate, declarando que a candidata do PSB havia sido contra a aprovação da CPMF:

— A senhora mudou de partido quatro vezes, mudou de posição de um dia para outro em temas como CLT, homofobia e pré-sal.

Em sua resposta, a ex-senadora do Acre disse que votou a favor da CPMF, uma vez para a criação do fundo de combate a pobreza e lembrou que as principais liderança do PT à época eram contrárias. A candidata falou sobre ataques que vem recebendo:

— Mudei de partido para não mudar de ideias e princípios — disse Marina. — Não sou nem oposição raivosa nem situação cega. Tive prática coerente vida toda. Defendi CPMF para fundo de combate a pobreza e essa é mais uma das conversas que o PT tem colocado para deturpar.

Enquanto os candidatos com mais intenção de voto trocavam farpas, presidenciáveis com índices menos expressivos também travaram embate particular. Luciana Genro (PSOL) perguntou a Eduardo Jorge (PV) por que ele havia dado “uma risadinha” ao perguntar o que ela faria “se ganhasse a eleição”. Depois, disse que os dois partidos tinham pautas semelhantes:

— É difícil avançar nas pautas progressistas ao ver as alianças que tu e teu partido costumam fazer. O senhor foi secretário do (José) Serra e do (Gilberto) Kassab, (na prefeitura de São Paulo).

“Luciana faltou à aula”
A resposta de Eduardo Jorge veio na sequência:

— Luciana faltou à aula de história do século XX. O PV é um partido ambientalista, diferente dos partidos que são de esquerda de base marxista. Se tivermos que ajudar governo conservador ou de esquerda vamos ajudar.

Depois do debate
A presidente Dilma reclamou ao final do debate na Record que não teve direito de resposta quando o seu governo foi atacado.

— Eu deveria ter tido mais tempo para me defender dos ataques. Teve hora que eram quatro contra um — disse ela.

Já o tucano Aécio Neves disse ter certeza que estará no segundo turno.

— A atual presidente perdeu as condições de governabilidade e Marina está cheia de boas intenções mas com enormes contradições. Tenho certeza de que estarei no segundo turno porque a população está reconhecendo isso nas ruas.

Marina Silva, por sua vez, admitiu que votou contra a CPMF no Congresso. A presidenciável explicou que foi favorável a um projeto que previa a criação do tributo para abastecer um fundo de combate à fome.

— Eu votei favoravelmente na comissão. Quando foi dentro da discussão em plenário houve mudança que reduziu os recursos pela metade, e aí obviamente que não iríamos compactuar com isso.

Marina ainda acusou Dilma e Aécio de tentaram polarizar o debate.

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