segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Dilma, Marina e Aécio se revezam em ataques e desmentidos em debate

Raphael Di Cunto – Valor Econômico

SÃO PAULO - A sete dias da eleição, os três principais candidatos à Presidência da República se enfrentaram em confrontos diretos no debate na TV Record, na noite de domingo e madrugada desta segunda-feira. Pelo formato do encontro, em que o candidato que responde é escolhido por ordem determinada pela organização, o debate tornou-se um revezamento de ataques entre Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB). E também uma oportunidade para Marina e Aécio enfatizarem que estão sendo vítimas de "boatos" sobre propostas que não são suas de fato.

Logo na primeira oportunidade, Dilma questionou mudanças de postura de Marina, em estratégia que já é usada nas propagandas eleitorais da petista.

“A senhora mudou de partido quatro vezes. Mudou de posição de uma hora para outra em temas de extrema importância, como a CLT [Consolidação das Leis do Trabalho], o Banco Central e o pré-sal”, afirmou Dilma. “No debate da TV Bandeirantes, a senhora disse que tinha votado a favor da CPMF, mas os anais do Senado mostram que não”, acusou.

Marina disse que mudou de partido para não mudar de “ideais e princípios”. Disse que quando era senadora votou a favor da Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras (CPMF) contra a vontade do PT, seu partido na época, como uma das fontes do fundo de combate à pobreza, proposto pelo ex-senador Antônio Carlos Magalhães (PFL).

“Mesmo com a oposição séria do PT, que na época diziam que eu estava favorecendo um senador de direita. E foi por isso exatamente que digo que não faço oposição por oposição, não só no caso da CPMF”, afirmou, e citou outros projetos, como o protocolo de Kyoto. Marina não explicou, contudo, os votos contrários à criação da CPMF em outras ocasiões.

Dilma tentou questionar Marina novamente no segundo bloco de perguntas, mas foi impedida pelas regras do debate, que impedia fazer perguntas duas vezes ao mesmo candidato. A ex-senadora também mirou em Dilma quando teve a oportunidade de perguntar: disse que a mudança na política para o etanol fechou 70 usinas e 60 mil empregos. “O que aconteceu para que você mudasse o rumo da política do presidente Lula e causasse esse fracasso?”

A presidente rebateu dizendo que desonerou impostos do setor e aprovou legislação que permite aumentar de 25% para 27,5% o percentual de etanol na gasolina. “A política de etanol do meu governo foi baseada naquilo que voc ê é contra: subsídio”, afirmou Dilma. A presidente foi alvo na maioria das falas dos demais candidatos e pediu dois direito s de resposta, que foram negados porque a organização entendeu que não se tratavam de injúria à candidata.

Aécio Neves, terceiro colocado nas pesquisas, não teve oportunidade de perguntar para as duas líderes no começo do debate. Suas falas foram concentradas na Petrobras – citou a empresa em duas das quatro vezes em que pode responder perguntas no primeiro bloco do debate. O tucano disse que a empresa está “sucateada” e é usada por um grupo político para se manter no poder e citou as denúncias de corrupção na estatal.

O presidenciável do PSDB disse que as denúncias de desvio feitas por um diretor indicado pelo PT e mantido no governo (Paulo Roberto Costa) permitiriam colocar 40 mil crianças em creches e construir 50 mil casas. “É isso que a corrupção impacta na vida das pessoas”, disse.

Dilma, em um pedido de resposta à ataques do pastor Everaldo (PSC) e Levy Fidelix (PRTB), disse que foi ela que demitiu Paulo Roberto Costa e que as investigações foram feitas pela Polícia Federal em seu governo. “Fui a única candidata a propor projetos de combate à corrupção, como, por exemplo, tornar caixa dois crime eleitoral”, afirmou.

No terceiro bloco do debate, o senador Aécio Neves (PSDB) questionou a presidente Dilma Rousseff (PT) sobre as propostas para a área de segurança pública. O tucano criticou o governo por manter metade dos recursos dos fundos de segurança intactos e defendeu projeto de lei do PSDB de permitir que menores de idade cumpram pena de prisão como maiores de 18 anos se cometerem crimes hediondos.

Dilma respondeu que sua proposta é alterar a legislação para permitir que o governo federal atue em parceria com os governos estaduais no combate à criminalidade. “Se os índices de violência aumentam em Estados como Minas Gerais, que por tantos anos foram governados pelo candidato Aécio Neves, a responsabilidade hoje é do governo estadual”, disse.

Aécio fez uma dobradinha com o pastor Everaldo Pereira (PSC), que foi o primeiro a perguntar e resolveu questionar o tucano sobre as ações de “terrorismo do PT para dizer que todos nós vamos acabar com o Bolsa Família” e o discurso de Dilma na Organização das Nações Unidas (ONU) a favor do diálogo com as nações islâmicas.

O tucano afirmou que Dilma protagonizou “um dos mais tristes episódios da política externa brasilei ra”, ao fazer um autoelogio na tribuna da ONU e, “para perplexidade dos diplomatas”, propor diálogo com o Estado Islâmico. “O Estado Islâmico está decapitando pessoas”, afirmou ele.

Dilma mirou Marina Silva (PSB) em sua pergunta e questionou a proposta da candidata de reduzir o peso dos bancos públicos na economia brasileira. “A senhora não sabe, mas o crédito direcionado é de R$ 1,3 trilhão. Isso significa que toda a estrutura do Brasil, a produtiva e a social, está ligada a esse crédito”, afirmou.

Marina respondeu que não vai alterar o papel da Caixa Econômica Federal e Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “Vou fortalecer os bancos públicos. Isso [reduzir o peso dos bancos públicos] é mais um boato que está sendo dito sobre a nossa aliança”, disse. “O que não vamos é permitir que os recursos do BNDES sejam usados para meia dúzia de selecionados”, afirmou.

Marina foi a última entre os principais candidatos a fazer uma pergunta no terceiro bloco do debate e não podia mais perguntar para Dilma e Aécio. Questionou então Eduardo Jorge (PV) sobre as propostas para a saúde e disse que seu compromisso é investir 10% da receita corrente bruta da União no setor.

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