quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Dora Kramer: Motor acelerado

• Movimento das pesquisas sinaliza desejo de decidir eleição no primeiro turno

- O Estado de S. Paulo

Para cima e para baixo os índices das intenções de votos captados pelas pesquisas estão se mexendo com rapidez. O aumento do ritmo não se deve à influência do horário eleitoral.
Políticos e especialistas na análise desse tipo de consulta popular concordam num ponto: o sentimento de rejeição à presidente Dilma Rousseff, o desgaste do PT e o desejo de mudança encontraram em Marina Silva um canal de expressão e por meio dele sinalizam o desejo de encerrar o jogo no primeiro tempo.

O apressado, como se sabe, corre o risco de comer cru e quente. Mas vontade é coisa difícil de segurar. Orienta-se pelo emocional. Não passa pelo rigor do crivo intelectual. As palavras ditas não precisam ter alcance muito profundo. Basta que façam algum sentido aos ouvidos do senso comum.
Mal comparando, algo como a "quase-lógica" muito bem detectada pela cientista política Luciana Veiga nos discursos do então presidente Lula logo nos primeiros momentos de governo. Por esse critério, a comunicação não precisa ter compromisso com a exatidão nem com a lógica formal. Convence porque é verossímil.

E pelo que estamos vendo no movimento do eleitorado, uma quantidade considerável de brasileiros vê em Marina Silva uma saída perfeitamente viável para consertar "tudo isso que está aí". Assim é porque lhe parece ser, conclui o eleitor.

Aécio Neves, com toda substância programática, equipe experiente, cancha de governo, respaldo político e empresarial não desperta esse sentimento. Representa a alternativa lógica, mas pelo visto as pessoas necessitam de fascínio. O real é combatente frágil ante a força do imaginário.

De onde analistas de pesquisas e políticos não estão enxergando espaço para mudanças no cenário. Ressalvada a ocorrência de algo grave que atinja Marina na pessoa física ou jurídica, como diz o cientista político Antonio Lavareda, e mantida a tendência paulatina de subida nas pesquisas ao ponto de abrir uma dianteira de 13 pontos em relação a Dilma, uma decisão em primeiro turno "pode ser fortemente cogitada".

É uma impressão que já faz parte das conversas de bastidores em todas as campanhas. Justamente pelo fato de o eleitorado ter visto em Marina a possibilidade concreta de derrotar a presidente e o PT, hipótese que o eleitor não identificava tão firmemente em Aécio Neves.

Muito bem, mas se a rejeição ao PT e a Dilma é tão grande, por que ela está em segundo lugar e não em terceiro? Duas explicações. Saulo Queiróz, secretário-geral do PSD e leitor arguto de pesquisas, aponta que a presidente tem percepção positiva nas regiões Norte e Nordeste, onde se concentra um terço do eleitorado. "É o que segura, porque o mau humor se espalha pelo Sul, Sudeste e Centro-Oeste."

Lavareda também parte dessa base nítida de apoio social e acrescenta o volume de propaganda do governo. Mas, atribui esse patamar, sobretudo, ao "lulismo". É a sustentação do ex-presidente quem garante hoje à presidente a vaga no segundo turno.

O grande problema para ela é justamente a vantagem de Marina: o índice de rejeição. Supondo que a pressa sinalizada pelo eleitorado não se consolide e haja uma segunda etapa, esse fator torna quase impossível uma virada na final.

A menos que Dilma conseguisse tirar a diferença de mais de 20 pontos porcentuais que a separam de Marina no quesito "não voto de jeito nenhum".

Bateu mal. Um petista candidato a governo de Estado esteve com Lula e não ouviu boa avaliação sobre a comparação que a campanha de Dilma fez de Marina com Collor.
Segundo relato, considerou o ataque pueril e de fácil rebate. "É só dizer que Collor não caiu por falta de apoio no Congresso, caiu por corrupção".

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