quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Eleitor do Centro-Oeste descola-se do agronegócio e adere a Marina

César Felício – Valor Econômico

BRASÍLIA - Nem o combate ao plantio transgênico, nem a oposição ao agronegócio em relação ao novo Código Florestal travaram a candidatura presidencial da ex-senadora Marina Silva (PSB) nos Estados com base econômica rural relevante. De acordo com pesquisas locais de intenção de voto divulgadas na última semana, Marina está liderando em Goiás e no Mato Grosso do Sul e fica empatada com Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) no Paraná.

A ex-senadora fica em desvantagem nos estados rurais com economia menos expressiva, como Rondônia e Tocantins, onde Dilma tem folgada dianteira.

O resultado é ainda mais expressivo pela falta de estrutura política da candidata nestes Estados. No Paraná e em Goiás, os governadores tucanos Beto Richa e Marconi Perillo lideram as pesquisas para governador, seguidos por aliados de Dilma. Em Rondônia a liderança está com o tucano Expedito Júnior e em Tocantins com o pemedebista Marcelo Miranda.

Majoritariamente fechados com Aécio, empresários do agronegócio e políticos têm dificuldade de explicar o fenômeno. Atribuem os altos percentuais de Marina ao voto útil da parcela antipetista do eleitorado, que consideraria a candidata do PSB mais competitiva em um segundo turno contra Aécio, à comoção provocada pela tragédia que matou o candidato anterior do PSB, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos e a presença forte do eleitorado evangélico no entorno das grandes cidades.

"É falso achar que a base do eleitorado vota de acordo com a base da economia local. Quem produz no campo está com Aécio, mas muita gente na periferia acha que leite e amendoim vêm de fábricas e dos supermercados, e não das fazendas", exagera Antenor Nogueira, pecuarista e presidente da Agência Goiana de Defesa Agropecuária, um órgão do governo estadual tucano. Em Goiás, de acordo com pesquisa do instituto Serpes divulgada no fim de semana pelo jornal "O Popular", Marina está com 35%, ante 31% de Dilma e apenas 18% de Aécio.

Segundo a pesquisa, Marina consegue sua maior dianteira em Goiânia, onde ganharia a eleição por maioria absoluta: 45% de intenções de voto, ante 43% da soma dos concorrentes. A capital corresponde a 20% do eleitorado do Estado.

"Em nenhum lugar do País o voto estadual e o nacional está sendo coerente. Marina preocupa o setor rural, mas o que predomina é o voto emocional", disse o deputado federal Abelardo Lupion (DEM-PR), com investimentos em pecuária e no setor madeireiro. De acordo com levantamento do Ibope divulgado dia 18, Marina e Dilma tem 29% e Aécio 28% entre os paranaenses. Já Richa conta com 44% de intenção de voto.

De acordo com Lupion, que não disputa a reeleição, a intenção de voto de Marina é diretamente proporcional ao tamanho do município. "No Paraná, Marina ganha na região metropolitana de Curitiba, que é 30% do eleitorado, mas quanto menor a cidade, maior a intenção de voto de Aécio e menor a dela, porque aí pesa o interesse do campo, que se assusta com a posição dela em relação ao uso de defensivos agrícolas, por exemplo. Aqui (no Paraná) não tem o Bolsa Família, que desequilibra o jogo nas cidades pequenas para a Dilma", disse.

O Programa Bolsa Família beneficia somente 11,2% das famílias no Paraná. Em estados de base rural com mais população beneficiada, a votação de Dilma tende a subir. É o caso do Tocantins, onde 30,7% das famílias recebem o benefício e a presidente conseguiu 43% de intenção de voto em um levantamento do instituto Serpes, ante 33% de Marina e 11% de Aécio. Entre os tocantinenses, Marina só ganha em Palmas, que corresponde a 15% do eleitorado local. Também é o que ocorre em Rondônia, com 22% das famílias dentro do Benefício. Dilma teve 35% na última pesquisa Ibope, enquanto Dilma e Marina ficaram com 24%.

A dianteira de Marina pode se reforçar nos estados de base rural em um segundo turno, alimentado pelo pragmatismo antipetista. " Ela não assusta mais o empresariado de forma alguma. Todo mundo sabe que para governar ela terá que compor", comentou o ex-deputado Saulo Queiroz (MS), secretário-geral do PSD e com investimentos em soja, gado e reflorestamento no Maranhão.

No Mato Grosso do Sul, Marina conseguiu 37%, ante 34% de Dilma e 15% de Aécio em uma pesquisa do Ibrape encomendada pela Federação de Indústrias local.

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