quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Governabilidade é essencial

• Para analistas, crítica de Dilma a Marina é legítima, mas ressaltam que presidente não é melhor exemplo de comando de coalizão

Julianna Granjeia e Germano Oliveira – O Globo

SÃO PAULO - Analistas políticos apontam que a presidente Dilma Rousseff tem legitimidade para questionar a governabilidade da candidata Marina Silva (PSB). Porém, afirmam que seu governo, diante de problemas enfrentados na relação com diferentes partidos, não pode ser considerado um exemplo de boa coalizão.

- Não acredito que o futuro presidente tentará governar sem apoio da maioria no Congresso, isso nós sabemos que não dá certo. Agora, Dilma falando da falta de habilidade de Marina é o roto falando do esfarrapado - afirma Rubens Figueiredo, do Centro de Pesquisa, Análise e Comunicação (Cepac).

O sociólogo membro do Observatório Internacional da Democracia Participativa Rudá Ricci lembra que Dilma teve tanta dificuldade no início de sua gestão que precisou contar com o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

- A presidente teve muita dificuldade em manter a bancada, até por isso tem legitimidade para falar disso. Se consultar o segundo ano de governo dela, a Dilma distribuiu mais dinheiro para o DEM do que para o PDT, que é da base dela. Tem havido essa distribuição de verba numa inabilidade da Dilma de fazer política porque ela é muito gerentona. Até o Lula apagar incêndios e sair um acordo com o PMDB, tiveram várias ameaças.

Efeito bumerangue
Ricci afirma ainda que Dilma, ao criticar a falta de governabilidade de Marina, acaba apontando falhas na sua própria gestão.

- Muitos dos ataques que a Dilma faz à Marina são como bumerangue e se voltam pra ela. O Collor, por exemplo, apoia o governo dela e ela o está atacando. Não diria que Marina teria muito mais dificuldade do que a Dilma. Um bom político não é exatamente bom gestor, ele tem que ser muito hábil. Gestor que grita demais, como a Dilma, demonstra pouco poder.

Carlos Melo, cientista político do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), diz que, apesar da renovação natural do Congresso, sua composição não deverá ser muito alterada com a próxima eleição. Com isso, Marina, se eleita, deverá mostrar uma habilidade política que Dilma não mostrou.

- A questão é como Marina vai construir a governabilidade. Ela tem afirmado que pretende construir sua base de forma diferente. Ela precisa dizer como, isso não está claro no discurso dela, que é muito vago.

Para Fernando Abrucio, da Fundação Getulio Vargas (FGV), a questão também não é de ter experiência para governar.

- Dilma também não tinha. Falar que Marina não tem experiência é só uma suposição, porque ela ainda não está no governo. O que é importante é montar uma base de governo com os partidos e não só com os bons, como diz Marina. Levar Eduardo Suplicy e José Serra para o governo não quer dizer que terá o PT e o PSDB com ela - disse Abrúcio.

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