sábado, 18 de outubro de 2014

Candidatos mantêm ataques na TV, contrariando decisão do TSE

• Advogados das campanhas dizem que não haverá mudança nos programas

Carolina Brígido e André de Souza

BRASÍLIA — Um dia após a recomendação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que o horário eleitoral gratuito seja destinado à apresentação de propostas, e não a ataques entre os candidatos, Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) voltaram a trocar acusações mútuas na propaganda de televisão exibida nesta sexta-feira. Os advogados das duas campanhas afirmaram que, mesmo com a decisão do tribunal, não haverá mudança no conteúdo dos programas apresentados no horário eleitoral gratuito. Segundo eles, as campanhas não fazem ataques a ninguém.

Nos programas transmitidos ontem na televisão, Dilma e Aécio reproduziram trechos do debate no SBT em que fizeram ataques ao adversário. Os trechos usados por cada um deles foram editados pelos comandas das campanhas e mostraram os ataques feitos pelos candidatos sem as respostas do adversário ou os comentários em réplicas ou tréplicas.

Dilma citou, por exemplo, a denúncia de que o ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra, já falecido, recebeu propina para não investigar irregularidades na Petrobras, acrescentando que os corruptos dos escândalos tucanos estão todos soltos. Apontou problemas no governo de Minas Gerais — que, segundo ela, é pouco transparente e avesso às investigações de irregularidades.

Dilma também condenou a construção de um aeroporto na fazenda do tio de Aécio, dizendo que isso é errado e feio. E acusou o adversário de querer usar o desemprego, o arrocho salarial e a falta de investimento para combater a inflação. Dilma ainda mostrou no programa cenas de debates anteriores em que Aécio e a candidata Marina Silva (PSB) trocavam acusações. Fora do segundo turno, Marina agora é aliada de Aécio. Segundo a apresentadora do programa, Aécio muda de posição de acordo com as conveniências de momento.

Usando imagens do debate no SBT, Aécio lembrou a ligação com o PT do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. E voltou a dizer que o irmão da presidente, Igor Rousseff, ocupou cargo em comissão na prefeitura de Belo Horizonte durante a gestão de Fernando Pimentel, do PT. Segundo o tucano, Igor não aparecia para trabalhar.

O programa de Aécio também rebateu a acusação previamente feita pela campanha petista de que uma escola estadual de Minas estava fechada para obras, mas as construções estavam paralisadas. O programa tucano mostrou os depoimentos de um operário da obra e do porteiro da escola dizendo que a obra funciona de segunda a sábado. A campanha de Dilma teria feito imagens da obra no domingo, quando não tinha ninguém trabalhando.

— A campanha trata de trajetória política e projetos futuros sem ataques pessoais. A nossa campanha respeitará integralmente a decisão do TSE. Vai continuar igual, não muda nada. Nunca teve ataque, é apenas a comparação entre os dois — argumentou Flávio Caetano, advogado do PT.

O advogado Flávio Henrique Costa Pereira, que representa o PSDB, também disse que nada vai mudar na campanha de Aécio. Ele ressaltou que a decisão tomada pelo TSE foi para retirar uma ofensa feita pela campanha petista ao candidato tucano. Portanto, seria uma prova de que os excessos foram cometidos por Dilma, não por Aécio.

— Não muda nada na campanha. Temos uma conduta de acordo com aquilo que o TSE decidiu. Essa decisão do TSE é uma resposta à postura da campanha do PT de agressão contra nós neste segundo turno. Vamos manter nossa linha de propostas e críticas administrativas ao governo da candidata Dilma — alegou Pereira.

Na quinta-feira à noite, o presidente do TSE, Dias Toffoli, disse que a campanha eleitoral para presidente da República precisa ser mais propositiva e ter menos “pirotecnia”. Ele criticou os ataques mútuos entre os candidatos e disse que o tribunal não iria mais tolerar esse tipo de conduta no horário eleitoral gratuito. A declaração foi dada num julgamento em que o tribunal determinou que a campanha de Dilma não repetisse mais trecho em que acusou Aécio de perseguir jornalistas.

A recomendação foi genérica para não haver mais ofensas entre os candidatos. Não houve explicação específica sobre o que pode e o que não pode ser feito no horário eleitoral gratuito. Segundo Toffoli, o julgamento vai orientar a atuação do TSE em processos semelhantes, seja qual for o candidato.

— Esse julgamento muda a jurisprudência da Corte, sinaliza um novo tipo de propaganda eleitoral. Em programas eleitorais gratuitos, as propagandas devem ser programáticas e propositivas, mesmo com embates duros, em relação às candidaturas do segundo turno — afirmou Toffoli.

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