quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Esquema beneficiou PT, PP e PMDB em 2010, diz delator

• Em depoimento à Justiça Federal, Paulo Roberto Costa afirmou que PT, PMDB e PP receberam dinheiro da Petrobras na campanha de 2010

Mario Cesar Carvalho, Samantha Lima – Folha de S. Paulo

CURITIBA - O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa disse à Justiça Federal nesta quarta-feira (8) que desvios de obras da Petrobras irrigaram as campanhas de três partidos nas eleições de 2010, segundo o advogado Antonio Augusto Figueiredo Basto, que defende o doleiro Alberto Youssef e acompanhou a audiência nesta quarta, em Curitiba.

Segundo a Folha apurou, o executivo se referia ao PT, ao PMDB e ao PP.

O dinheiro do suborno, de acordo com o ex-diretor da estatal, correspondia a 3% dos valores líquidos dos contratos. Esse percentual era dividido entre o próprio Costa e partidos políticos, segundo advogados que acompanharam o interrogatório.

Costa foi nomeado para o cargo em 2004, pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e demitido em 2012 por Dilma Rousseff. Ele foi indicado pelo PP, por sugestão do deputado José Janene (PP-PR), apontado pela PF como parceiro de Youssef. Depois conquistou o apoio do PT e do PMDB.

A acusação sobre as campanhas políticas foi feita no primeiro depoimento à Justiça após Costa ter feito acordo de delação premiada com procuradores da Operação Lava Jato, que investiga esquema de lavagem de dinheiro.

No acordo, ele prometeu revelar o que sabe em troca de uma pena menor. Costa deixou a carceragem da Polícia Federal no último dia 1º e está em prisão domiciliar em sua casa, no Rio de Janeiro.

No depoimento desta quarta, afirmou ter sido nomeado pelo cargo já sabendo que teria de levantar recursos ilícitos para os partidos, segundo o advogado Basto.

O executivo disse que o presidente da Transpetro, Sérgio Machado, ligado ao PMDB, também teria participado de irregularidades --afirmou ter recebido R$ 500 mil de Machado.

Segundo o depoimento de Costa, três ex-diretores da Petrobras fizeram parte do esquema: Nestor Cerveró, Jorge Zelada e Renato Duque.

No interrogatório, ele relatou ter recebido dinheiro da Odebrecht no exterior e citou os nomes dos diretores Márcio Farias e Rogério de Araújo como seus contatos, mas não explicitou valores. A Folha revelou que a empreiteira pagou US$ 23 milhões ao executivo em contas na Suíça.

Costa citou o nome do ex-ministro José Dirceu ao afirmar que ele nomeou Duque para a diretoria de Serviços e Engenharia da Petrobras. Segundo ele, todas as diretorias eram indicadas por políticos.

Alberto Youssef, que também prestou depoimento nesta quarta, confirmou que planilhas apreendidas pela Polícia Federal em seu escritório se referiam a suborno na obra da Refinaria Abreu e Lima, segundo ele pago pelo CNCC, consórcio liderado pela Camargo Corrêa.

O doleiro também fez um acordo de delação premiada. O consórcio CNCC detém o maior contrato da obra da refinaria, de R$ 3,4 bilhões.

Costa e Youssef citaram mais de uma dezena de executivos de empreiteiras com quem mantinham contatos.

Youssef, ainda segundo Basto, disse que o grupo político que nomeou Costa era tão forte que segurou a pauta do Congresso por três meses, impedindo votações, até que ele ganhasse o cargo de diretor de abastecimento da estatal.

Youssef comentou que essa força no Congresso havia impressionado o presidente Lula. Basto afirmou que Youssef e Costa não eram os líderes do grupo, mas seguiam ordens de políticos.

Os dois depoimentos confirmaram a principal acusação da Polícia Federal, segundo advogados: a de que Costa e Youssef operaram um esquema de desvio de recursos em obras da estatal que alimentou partidos políticos.

Os citados no depoimento negaram com veemência as acusações feitas pelo ex-diretor.

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