terça-feira, 7 de outubro de 2014

Míriam Leitão: A ideia da oposição

- O Globo

Durante um ano o economista Armínio Fraga com andou um grupos de cerca de 60 especialistas para estudar os diversos problemas do país e suas soluções. O programa, divulgado em partes por Aécio Neves no fim do primeiro turno, tem como base a retomada do investimento. "Nossa ideia é de que a economia está com um problema de oferta por que passa por um apagão de credibilidade", diz Armínio.

O governo Dilma acha que o problema da economia é a falta de demanda e por isso tem estimulado o consumo. —Quero deixar claro que nada temos contra a demanda, ela é necessária, mas tem que haver um equilíbrio. Se não houver oferta cria- se a situação em que o Brasil está agora, de alta inflação e recessão ao mesmo tempo. Isso é livro-texto e o nosso diagnóstico é que estamos com problema na oferta. Se há demanda então seria normal o empresário aumentar a produção. É assim que funciona. Com a imensa necessidade de investimento em infraestrutura no Brasil, por que não se investe?

Nas rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos, saneamento. Isso deveria ser uma tremenda oportunidade para o Brasil crescer. Não está acontecendo pela incerteza. Ele acha que essas dúvidas vêm da alta da inflação, da afirmação do governo de que está tudo bem, do excesso de artificialismos e do intervencionismo. Há intervenção em vários preços importantes do sistema. As empresas diante disso ficam paralisadas. A saída é desmontar vários desses problemas. Armínio usa a imagem de um carro indo pela estrada em direção a um despenhadeiro. —Essa é a minha caricatura para a economia. Se você é uma passageira desse carro obviamente quer sair dele. Mas se o carro faz a volta e vai no sentido contrário, há um alívio geral. O veículo é o mesmo, só que está se afastando do risco.

O que a gente tem de potencial passa, de cara, por uma mudança de expectativa. É preciso fazer a economia aterrissar com a inflação mais baixa sem provocar recessão. E mais: como fazer essa economia crescer? As coisas estão juntas. Têm que estar juntas. Armínio acha que tudo passa por acertar o macro. —O primeiro passo é aumentar a transparência. O que está acontecendo aí é gravíssimo. Não é apenas que, ao fazermos as contas, vemos que há na verdade um déficit primário e não superávit. É um atentado à democracia porque há gastos orçamentários que não estão explícitos. Todos os gastos tem que estar no orçamento porque isso força uma discussão de qualidade. Se as pessoas acham que o dinheiro do BNDES é de graça, é mágica, fica todo mundo usando.

É preciso escolher o que fazer com o dinheiro do banco e saber quanto custa. Armínio sugere acertar o macro e o monetário, ou seja, o Banco Central perseguir sua meta de inflação. —Eu acho que se o governo fizer a sua parte na área fiscal e não abusar do crédito dos bancos públicos, o trabalho do BC será facilitado. Mas o que se fez foi tentar derrubar os juros e ao mesmo tempo expandir o crédito dos bancos públicos sem controle. Se o país racionalizar o uso dessas instituições, sem prejuízo de manter os programas relevantes e de qualidade que precisam ser mantidos, e ao mesmo tempo o governo segurar o fiscal, o BC vai atingir sua meta.

A pergunta que vem naturalmente é o que e onde cortar? Segundo Armínio há muita coisa que pode ser cortada, muita gordura, por estar o governo "aparelhado e mal administrado " há bastante tempo . —Eu acho que muitos dos subsídios aos empresários não serão necessários se for feita a reforma tributária, com simplificação e desoneração de exportação e investimento. O custo do capital pode ser reduzido com uma política fiscal e creditícia mais arrumada, fazendo uma blitz de custo Brasil, essas centenas de regras que atrapalham a vida dos empreendedores.

Se isso for feito, esses subsídios não serão necessários. Armínio explica que é preciso fazer o ajuste também gradualmente, enquanto a economia vai melhorando, o investimento aumenta. Ele acha factível o país voltar acrescer ao ritmo de 4% a 4,5% ao ano. — Os ajustes fiscal e da inflação têm que ser feitos em dois, três anos. Mas logo no primeiro ano já se sente a diferença. Toda a agenda micro pode começar a ser feita imediatamente.

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