sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Pressão fez Lula indicar diretor, afirma doleiro

Alexandre Aragão – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Em depoimento à Justiça Federal na quarta (8), o doleiro Alberto Youssef disse que o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa foi empossado no cargo, em 2004, depois de o então presidente Lula (PT) ceder à pressão de "agentes políticos" ligados ao esquema.

Questionado sobre o motivo pelo qual um diretor que antecedeu Costa na área de Abastecimento havia sido retirado do cargo, Youssef afirmou: "Para que [Costa] assumisse a cadeira de diretor da Diretoria de Abastecimento, esses agentes políticos trancaram a pauta no Congresso durante 90 dias".

"Na época, o presidente Lula ficou louco. Teve que ceder e realmente empossar o Paulo Roberto", completou.

Nesta quinta (9) à noite, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), líder do PT na Câmara na época da nomeação de Costa, disse que é "uma mentira" a pressão do Congresso sobre Lula.

Entre março e maio de 2004, as discussões no Congresso foram obstruídas por medidas provisórias --se não votadas em até 45 dias, elas trancam a pauta. Costa foi confirmado diretor de Abastecimento da Petrobras em 14 de maio daquele ano, no lugar de Rogério Manso, ligado a peemedebistas e tucanos do Rio.

Ainda durante o depoimento, o operador do esquema afirmou que havia reuniões entre ele, Costa, representantes de empreiteiras e "agentes políticos" --não citou nomes. Essas reuniões, segundo Youssef, eram registradas em atas.

"Participávamos de reuniões (...) em hotéis no Rio ou em São Paulo, ou na própria casa --vamos falar-- do agente político, que primeiramente comandava esse assunto através da área de Abastecimento", afirmou.

"Nessas reuniões eram feitas atas (...) de cada ponto que estava sendo discutido", continuou Youssef.

Os assuntos tratados nos encontros eram valores de contratos e combinação de resultados em licitações, sempre segundo o doleiro.
"[As reuniões eram] para discutir exatamente questão de valores, questão de quem ia participar do certame, esse tipo de situação."

Procurado, o Instituto Lula afirmou em nota que não iria se pronunciar sobre o assunto.

Colaborou José Marques, de São Paulo

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