quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Raquel Ulhôa - Comando do PMDB em xeque

• Eleições e denúncias podem mudar PMDB

- Valor Econômico

O presidente da República a ser eleito, seja Dilma Rousseff (PT) ou Aécio Neves (PSDB), já conta com apoio de metade da bancada do PMDB na Câmara dos Deputados. Segundo o líder, Eduardo Cunha (RJ), dos 66 deputados federais eleitos no dia 5 de outubro, 33 apoiam a presidente e os outros 33, o tucano.

O equilíbrio de forças indica que eventual vitória de Aécio mudará a correlação de forças no comando do partido, hoje nas mãos do vice-presidente da República, Michel Temer.

Mais preocupante do que o resultado da eleição, no entanto, é a delação premiada de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, que entregou à Polícia Federal nomes de políticos envolvidos em suposto esquema de superfaturamento e distribuição de propinas. Foram citados integrantes do grupo do PMDB que controla o Congresso e tem interlocução direta com o Palácio do Planalto. Entre eles, os presidentes da Câmara, Henrique Alves (RN), e do Senado, Renan Calheiros (AL). Nada ainda foi provado.

Como o acordo foi aceito pela Justiça, a avaliação no Congresso é que as denúncias têm consistência e alto poder de estrago em partidos da base governista, principalmente na base de poder de Temer.

A ala aecista já deu demonstração de força em reunião com Cunha, na terça-feira. Protestou contra a veiculação, pela propaganda eleitoral de Dilma, da informação de que ela tem apoio de toda a bancada do PMDB. Exigiu que o líder negasse que essa posição seja majoritária. Entre eles, estavam os deputados reeleitos Lúcio Vieira Lima (BA) e Danilo Forte (CE).

"Como é que ela pode contabilizar meu apoio se estou com Aécio? Isso é fraude, usada pela propaganda para a presidente mostrar uma força no Congresso que não tem", afirmou Vieira Lima.

Cunha atendeu. "A bancada está literalmente dividida. Qualquer lado que ganhar já tem apoio da metade. O problema é quem vai comandar o processo depois da eleição. Se a Dilma ganhar, o comando continuará do jeito que está. Se for o Aécio, o comando vai ser contestado. Não tenho dúvida. Se Dilma perder, obviamente a interlocução do partido não continuará com Temer", avalia o líder, que passou os últimos dias em conversas com eleitos e reeleitos.

Não se pode falar em "grupo aecista" do partido, por sua heterogeneidade política. Mas as conversas paralelas já começaram, para tentar articular um núcleo político no PMDB, caso Aécio vença.
Embora nada tenha sido tratado com Aécio, o grupo acredita em participação em eventual governo tucano, mas com nomes escolhidos livremente pelo presidente - e não indicados pelo partido, como acontece hoje. "A estratégia de como lidar com o PMDB precisa ser montada após toda a evolução desse quadro eleitoral", avalia o governador eleito capixaba, Paulo Hartung.

O presidenciável do PSDB disse a Danilo Forte, com quem esteve terça-feira, que, se eleito, vai logo reunir bancadas partidárias e chamar o Congresso para o diálogo, "em busca de uma coalizão nacional para aprovar reformas estruturais ao país".

A cúpula pemedebista hoje aliada a Dilma sabe que, se Aécio ganhar, vai precisar do PMDB no Congresso, mas sua dependência será menor do que seria a de Marina Silva, caso ela vencesse.

Marina precisaria conquistar cerca de 200 votos. Já Aécio, pela estrutura partidária que o apoia, precisará de mais 140, 120, dependendo da proposta legislativa. Experiente no processo político, o tucano terá mais facilidade de construir maiorias. Ou seja, o PMDB prevê redução do seu poder de barganha, apesar das bancadas numericamente fortes.

Cunha não revela publicamente a qual metade da bancada pertence. Quer manter "neutralidade" com relação à disputa presidencial, para, depois da eleição, ter autoridade para "tentar reunir os cacos" e comandar o processo de interlocução da bancada com o governo, independentemente de quem for o presidente da República.

Nome natural do partido para disputar a Presidência da Câmara dos Deputados, o líder assume apenas a candidatura à reeleição no comando da bancada. Ele nem fala em presidência da Câmara, mas aliados observam que a relação com o PT já começa tensa, com o pré-lançamento de petistas para a disputa - Marco Maia (RS) e Arlindo Chinaglia (SP).

"Não estou no Aezão nem no Dilmão", diz Eduardo Cunha, referindo-se às alas do PMDB do Rio de Janeiro que, embora apoiem a reeleição do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), estão divididas entre Aécio e Dilma para o Palácio do Planalto. "Estou no Eduardão."

No PMDB que apoia Dilma, cresce a preocupação com o risco de derrota. A situação de cada Estado é acompanhada com lupa nesta semana. Por enquanto, a conclusão é que Dilma continua favorita e não perdeu votos no PMDB para Aécio no segundo turno. Mas é uma eleição difícil.

Ganhe quem ganhar, em um ponto os dois lados concordam: a necessidade de uma reforma política. Ninguém aguenta os altos custos e reconhecem que a sociedade não aceita mais a forma que ocorrem as negociações partidárias e a relação com o governo. Para Cunha, os pontos principais a enfrentar são a coincidência de eleições, redução do tempo de campanha, fim da coligação partidária em eleição proporcional e cláusula de barreira. "É difícil, mas em algum momento a gente tem que enfrentar isso. Água mole em pedra dura tanto bate até que fura."

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