quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Aécio retorna ao Senado e diz que vai liderar 'exército' da oposição

Gabriela Guerreiro – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Cercado por militantes e aliados políticos, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) retornou nesta terça-feira (4) à cena política depois da derrota nas eleições para a Presidência da República.

Com a promessa de ser o principal líder da oposição no Congresso, o tucano disse que não pretende dialogar com o governo federal se não houver mudanças na postura da presidente Dilma Rousseff e do PT.

"Eu chego hoje ao Congresso Nacional para exercer o papel que me foi delegado pela grande maioria da população brasileira, por 51 milhões de brasileiros. Vou ser oposição sem adjetivos. Se quiserem dialogar, apresentem propostas que interessem aos brasileiros", disse.

"Somos hoje um grande exército a favor do Brasil e prontos para fazer a oposição que a opinião pública determinou que fizéssemos", completou.

Aécio Neves no Senado
Ao chegar à entrada principal do Congresso, onde vai retomar nesta terça suas atividades como senador, Aécio foi saudado por cerca de 200 pessoas que aguardavam sua chegada –a maioria delas, militantes e servidores do Legislativo que apoiaram a candidatura do tucano. Depois das eleições, Aécio descansou por uma semana ao lado da família no interior de Minas.

Com gritos de "Aécio presidente" e "Fora PT", o tucano arrastou os simpatizantes até a entrada do plenário, sempre cercado por deputados e senadores do PSDB e partidos de oposição. No seu desembarque no aeroporto de Brasília, o senador também foi cercado por militantes e aliados políticos que criticaram o governo federal e o PT.

Na rampa que dá acesso ao Congresso, Aécio desceu do carro e foi cercado pelos militantes –que soltaram fogos de artifício no gramado em frente à sede do Legislativo no momento da chegada do tucano.

Ao ironizar a presidente Dilma, o senador disse que o governo tem que "tomar cuidado para não chegar em janeiro com certo cheiro de fim de festa", quando Dilma será empossada para mais um mandato na Presidência.

Aécio disse que cabe ao governo federal dar "gestos objetivos e claros" sobre as suas futuras direções para dialogar com a oposição. "Se for na direção que caminhou nos últimos quatro anos, essa oposição que já é de 51 milhões de brasileiros que foram às urnas tende a crescer nos últimos anos", afirmou.

Emocionado, o tucano disse que não esperava uma recepção "tão forte", o que comprova que o Brasil "despertou" e não deseja mais acompanhar à distância os atos do governo federal.

"É uma mobilização inédita na nossa história contemporânea. É o sentimento de que quando o governo olhar para a oposição, eu sugiro que não contabilize mais o número de assentos no senado ou na Câmara, olhe bem que vai encontrar mais de 50 milhões de brasileiros que vão estar vigilantes, cobrando atitudes desse governo, cobrando investigação em relação às denúncias de corrupção."

Aécio disse que está "revigorado" após conquistar o apoio de 48% dos brasileiros nas urnas e pronto para fazer oposição "com a mesma coragem e com a mesma honradez que me preparei para governar o Brasil".

Auditoria
Sobre a auditoria nas urnas da Justiça Eleitoral solicitada pelo próprio PSDB, Aécio afirmou ser "absolutamente natural" que um partido peça para ter acesso ao resultado da votação. Mas negou que a intenção do PSDB seja questionar a reeleição de Dilma.

"O que houve foi uma auditoria para acesso ao sistema do TSE, absolutamente natural. Tem que respeitar as partes envolvidas querendo informações sobre os resultados dos votos. Até no sentido de tranquilizar a sociedade. O resultado está aí. Fui o primeiro a ligar para a presidente e dar os parabéns", afirmou.

O tucano disse que o acesso à totalização e à remessa dos votos é um "direito" de todas as partes envolvidas no processo eleitoral. "Não tenho dúvida em relação à lisura. Se fosse o inverso, a outra parte teria utilizado também."

Intervenção militar
Questionado sobre as manifestações em favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff e o resultado das urnas, Aécio disse que os atos políticos não têm o seu apoio e são condenados pelo PSDB –especialmente os que defendem intervenção militar no país. Segundo o tucano, há pessoas "infiltradas" nos atos políticos para tentar associá-los à oposição.

"Eu respeito a democracia permanentemente. Qualquer utilização dessas manifestações no sentido de qualquer tipo de retrocesso à democracia terá a nossa mais veemente oposição. Eu fui o candidato das liberdades, da democracia, do respeito. Aqueles que agem de forma autoritária e truculenta estão em outro campo político, não estão em nosso campo político."

No último sábado (1°), cerca de 2.500 pessoas protestaram em São Paulo contra o resultado das urnas e o governo petista. Alguns militantes carregaram faixas em defesa de intervenção militar no país e o impeachment da petista.

"Infelizmente, o governo da presidente Dilma venceu essas eleições perdendo. E lembro Marina Silva: perdi essas eleições vencendo", disse Aécio.

Protesto pede impeachment de Dilma

Mais protestos
Nesta terça, o PT convocou em sua página no Facebook seus seguidores nas redes sociais para "rebater" manifestantes que pedem o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Em publicação intitulada "Militância, às armas", o partido afirma que os adversários dos petistas são "representantes do atraso" e "verdadeiros fantasmas do passado". "A vitória de Dilma Rousseff revelou o desespero de setores que insistem em ignorar a vontade da população demonstrada nas urnas", diz a mensagem.

Novos eventos de pedido de impeachment da presidente Dilma foram marcados nas redes sociais para o feriado de Proclamação da República, no dia 15, em São Paulo, no Rio e em Brasília. O evento está sendo convocado por dois grupos.

Um deles é puxado pelo deputado federal eleito Eduardo Bolsonaro (PSC-SP) e por Paulo Batista, que foi candidato a deputado estadual pelo PRP. O outro é organizado pelo empresário Marcello Reis. Ambos dizem não ser responsáveis pelos pedidos de intervenção militar na última manifestação. "Lógico que tem um grupo que quer intervenção militar, mas não somos um deles", afirmou.

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