quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Defesa de Alberto Youssef tenta evitar pena de 300 anos

• Para advogado, com delação doleiro pode obter direito a prisão em regime aberto

Germano Oliveira – O Globo

CURITIBA - O advogado Antonio Figueiredo Basto, que representa o doleiro Alberto Youssef, disse ontem ao GLOBO que o doleiro poderia ser condenado a até 300 anos de cadeia, se não tivesse optado pela delação premiada, ou colaboração com a Justiça, como ele prefere se referir ao acordo entre seu cliente e a Justiça Federal do Paraná. A investigação é sobre desvios superiores a R$ 10 bilhões da Petrobras.

Com o acordo, Youssef poderá sair do processo com uma condenação cuja pena ainda não é estimada pelo advogado, mas que pode lhe garantir até a prisão em regime aberto. Ele classifica a delação como um “fato histórico”, pois com ela será possível desvendar um dos maiores escândalos do país. Agora, ela espera que sejam atingidos também os políticos que estavam por trás da corrupção na estatal.

— Beto (como chama o doleiro) era apenas um operador do esquema, assim como Marcos Valério era o operador do mensalão. Se o operador sai, entra outro, e a corrupção continua. Ele não era o mentor da corrupção na Petrobras, pelo contrário. Aliás, meu cliente optou pela colaboração processual exatamente tendo em vista o caso do mensalão, onde o operador pegou uma pena de mais de 40 anos e os políticos pegaram penas bem mais leves, e quase todos já estão em casa. Esperamos que, desta vez, seja o contrário — disse Basto.

Para o advogado, que tem o doleiro como cliente desde 2000, quando negociou também a delação premiada no caso Banestado (Youssef poderia pegar 478 anos de prisão e saiu “zerado”, sem pena a cumprir), seu cliente está ajudando a desvendar a corrupção na Petrobras.

— Meu cliente não é santo, não é herói, mas também não é o demônio que falam por aí, um delinquente. Ele não era diretor da Petrobras, não era funcionário de órgão público ou dirigente de uma empreiteira, que representam todos os elos do esquema de corrupção na empresa. Então, é evidente que tinha muita gente acima dele, muito mais poderosa, que comandava o esquema. E é isso que ele está revelando à Justiça, mas para se defender e não ter que passar o resto da vida na prisão — disse.

Basto lembra que Youssef já responde a quatro ações penais (da Labogem, dos desvios na Petrobras, da lavagem de dinheiro na GDF e no caso da CSA-Dunel), além de uma centena de inquéritos policiais:

— Cada empreiteira denunciada, cada empresário preso, virou um inquérito. São centenas. E em todos está Youssef. Por isso, o acordo de colaboração vai unificar todos os processos, o diminuirá sua pena.

Basto disse que o doleiro também colaborou com o fornecimento de documentos:

— Colaboração não é só de “ouvi dizer”. Tem de apresentar fatos que podem ser comprovados.

O advogado disse que a corrupção na Petrobras tornou-se endêmica e estava se transformando em “ameaça ao estado de direito e à democracia”:

— Era uma roda-viva. A ganância e a intimidação dominaram o Estado, que ficou impassível, sem forças para combater a corrupção. Quem deixa a corrupção sem combate também está contribuindo para a sua disseminação. A Petrobras movimenta bilhões, e isso alimentou o esquema. Os políticos executam obras públicas e precisam do dinheiro para financiar suas campanhas. Os diretores da Petrobras, indicados por partidos políticos, montam o esquema para o desvio desse dinheiro, e Youssef era um dos operadores para lavar esse dinheiro, fazer chegar o dinheiro desviado da empresa para os políticos se manterem no poder.

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