segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Geração de empregos deve ser a pior desde 99

Camilla Veras Mota e Marina Falcão – Valor Econômico

SÃO PAULO e SALVADOR - Depois do inesperado fechamento de 30,3 mil vagas pela economia formal em outubro, conforme mostrou o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) na sexta-feira, a geração de postos no país em 2014 se encaminha para ser a pior desde 1999, quando começa a série histórica disponibilizada pelo Ipea Data.

Até o mês passado, o registro do Ministério do Trabalho e Emprego acumula 730,1 mil vagas com carteira na série sem ajuste, que só contabiliza as informações enviadas dentro do prazo legal. Se dezembro mantiver a sazonalidade negativa dos anos anteriores e fechar entre 400 mil e 500 mil empregos, o saldo do ano não deve chegar a 500 mil, avalia José Márcio Camargo, economista-chefe da Opus Investimentos. "Novembro é que vai definir o patamar", comenta. No mesmo mês, Em 2013, foram abertos 47,4 mil postos.

Priscilla Burity, do banco Brasil Plural, observa que a desaceleração do Caged neste ano deve-se principalmente ao desempenho das contratações. Em outubro, elas caíram pelo quinto mês consecutivo em relação ao mês anterior, 7%. Mantida essa tendência, um aprofundamento do ritmo de demissões pode comprometer novembro, avalia.

O resultado de outubro surpreendeu a média de estimativas colhidas pelo Valor Data, de 56,7 mil novas vagas, e levou a LCA Consultores a revisar a projeção para o ano de 445 mil postos para 250 mil, na série sem ajuste. No ano passado, o país criou 730,6 mil empregos. Em 2009, auge da crise, o saldo foi de 995,1 mil.

Na série com ajuste, a projeção passou de 700 mil para 400 mil - número bastante inferior à expectativa do governo no início do ano, de abertura de 1,4 milhão de vagas. O ministro do Trabalho, Manoel Dias, afirmou na sexta-feira que o resultado do ano será "provavelmente" menor do que a projeção atual, de um milhão de vagas. Ele não detalhou, contudo, a estimativa oficial.

Apesar dos resultados bastante negativos da indústria e da construção civil - com saldos líquidos negativos de 11,8 mil e de 33,5 mil, respectivamente -, o desempenho dos serviços foi a principal surpresa negativa, afirmam economistas.

No mês passado, o setor abriu apenas 2,4 mil postos com carteira assinada, longe da média dos anos anteriores, em torno de 30 mil. "Essa perda de fôlego indica que o setor não deve ajudar mais a criação de vagas como nos meses anteriores", pondera Romão, da LCA. Ele chama atenção para o segmento bastante heterogêneo de administração de imóveis e serviços técnicos, que fechou 8,8 mil postos. "Esse é um sinal claro de piora."

Os serviços vinham respondendo por uma parcela significativa da geração de emprego formal neste ano. Até setembro, eles foram 62,6% do saldo, contra 41,4% no mesmo intervalo do ano passado e 33,1% em 2008.

O comércio manteve certo fôlego e abriu 32,7 mil vagas com carteira - patamar ainda inferior, entretanto, ao de outubro do ano passado, de 50 mil. "O Caged vem desacelerando desde 2010. O que temos visto neste segundo semestre é uma intensificação desse movimento", pondera Camargo, da Opus.

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