domingo, 16 de novembro de 2014

Lava Jato não pode virar '3º turno eleitoral', diz ministro

• Da Austrália, Dilma pediu que o titular da Justiça revidasse críticas da oposição

• Petrobras não pode parar caso sejam comprovadas irregularidades, afirma Cardozo

Valdo Cruz e Fabiano Maisonnave - Folha de S. Paulo

BRASÍLIA, SÃO PAULO - Na primeira manifestação do governo federal após as prisões de executivos de empreiteiras na nova fase da Operação Lava Jato da Polícia Federal, o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) criticou neste sábado (15) o que chamou de tentativa de "politização" das ações.

"A oposição não pode usar as prisões para criar um terceiro turno eleitoral", disse, sem citar nomes.

Na 7ª fase da operação, foram presos até este sábado 23 executivos de grandes empreiteiras no país, acusados de participação em esquema de corrupção na Petrobras.

Em nota, o presidente do PSDB, Aécio Neves, lamentou que o governo "insista em tentar dar tratamento político a um caso e polícia".

Ao deixar um evento em São Paulo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que "a oposição, como qualquer brasileiro, só quer uma coisa: a verdade".

Na entrevista deste sábado, o ministro disse que só soube da operação às 5h30 de sexta (14), quando recebeu, em sua casa, o diretor da PF, Leandro Daiello Coimbra.
Cerca de uma hora depois, Cardozo disse ter ligado para a presidente Dilma Rousseff, que, segundo ele, deu sinal verde para uma investigação "doa a quem doer". Dilma, que participa da cúpula do G20, na Austrália, não comentou a operação da PF.

Segundo a Folha apurou, a presidente pediu a Cardozo que revidasse as críticas da oposição. Ela orientou seu auxiliar a mostrar que o governo não está na defensiva nem aceitará que a oposição tente colar na gestão petista a imagem de conivência com a corrupção.

Também neste sábado, questionado sobre a suposta participação do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, no esquema, Cardozo disse que não iria prejulgá-lo. "Eu não faço isso com amigos, não faço com inimigos. Vamos olhar os fatos e investigá-los."

O ministro afirmou que o governo não aceitará insinuações de que cria obstáculos às investigações. Mas disse que o Ministério da Justiça intervirá para que provas não sejam anuladas.

"No passado, teve delegado afastado de investigação, também teve gente filiada a partido investigando em situação de suspeição."

As operações Satiagraha e Castelo de Areia foram anuladas pela Justiça por irregularidades na obtenção de provas. A primeira, deflagrada em 2008, envolveu o banqueiro Daniel Dantas, atribuindo a ele crimes financeiros.

A segunda, no ano seguinte, apurou suspeitas de fraude a licitações entre políticos e executivos de construtoras que, agora, reaparecem na Operação Lava Jato.

Dilma manifestou à sua equipe preocupação com o risco de o escândalo, com prisões de executivos de fornecedoras da Petrobras, levar a um quadro de paralisação dentro da estatal. Por isso, Cardozo tratou do tema neste sábado, ao dizer que a estatal "não pode e não vai parar".

As nove empreiteiras pegas na Lava Jato tiveram bloqueio de R$ 720 milhões proporcional aos contratos sob suspeita. São elas: Camargo Corrêa, OAS, Odebrecht, UTC, Queiroz Galvão, Galvão Engenharia, Mendes Júnior, Engevix e Iesa.

Caso as suspeitas da PF sejam confirmadas, essas empresas ficariam inidôneas. Por lei, elas seriam impedidas de realizar negócios com o setor público. Isso incluiria a Petrobras e as obras do PAC.

As construtoras estão sendo investigadas por suspeita de pagamento de propina para obtenção de contratos. Segundo a PF, parte do dinheiro abasteceu campanhas de políticos ligados ao governo e à base aliada.

Nenhum comentário: