segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Perfil ortodoxo gera críticas no PT ao escolhido para a Fazenda

• Ex-secretário do Tesouro entrou em conflito com Mantega em 2006 por visão sobre salário mínimo

• Petistas veem contradição na escolha de Levy após campanha de Dilma afirmar que Aécio cortaria mínimo

Andréia Sadi - Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Convidado para assumir o Ministério da Fazenda, Joaquim Levy coleciona críticas de ministros atuais de Dilma Rousseff e tem sido alvo de petistas, que nos bastidores tentam reverter a indicação. Eles argumentam que Levy tem perfil liberal e é contra a política de valorização do salário mínimo.

Um dos principais adversários de Levy no governo Lula foi justamente Guido Mantega, então presidente do BNDES e hoje titular demissionário da Fazenda.

Em março de 2006, Mantega acusou Joaquim Levy, então secretário do Tesouro Nacional, de ter uma visão "conservadora, não sintonizada com a política social do governo Lula".

Os programas sociais são a principal vitrine dos 12 anos dos governos Lula e Dilma.

Na ocasião, Mantega contestou um estudo elaborado por Levy, hoje no Bradesco, que apontava o aumento do salário mínimo como o responsável por parte substancial do crescimento do gasto público em 2005. O estudo foi divulgado no site do ministério da Fazenda.

"Estão equivocados. Este governo tem por objetivo elevar o valor do salário mínimo e executar os programas sociais. Isso é o que diferencia este governo. Nenhum burocrata pode impedir que o presidente o faça. Quem for contra está em outro governo", atacou Mantega em uma entrevista para o jornal "O Estado de S. Paulo" em 2006.

Na sexta, Dilma convidou Joaquim Levy, Alexandre Tombini e Nelson Barbosa para integrarem a sua nova equipe econômica.

Proximidade com PSDB
Uma ala do PT quer reverter a escolha de Levy para a Fazenda alegando sua proximidade com a política econômica do PSDB de Aécio Neves. Eles lembram, reservadamente, que a indicação pode representar uma contradição em relação às críticas feitas por Dilma durante a campanha eleitoral.

Dilma criticou a escolha de Aécio por Armínio Fraga, presidente do BC no governo FHC, que ficaria à frente da Fazenda. A presidente chegou a dizer que Fraga "não gosta do salário mínimo".

"Ele acha que, no Brasil, para resolver os problemas, eles têm de reduzir o salário mínimo porque está excessivo. Isso é um escândalo", afirmou a presidente.

Na TV, Dilma explorou uma frase de Aécio, segundo a qual, se eleito, tomaria medidas "impopulares". A peça dizia que poderia isso significaria "eventuais cortes na educação, saúde e em programas sociais".

A indicação de Levy, revelada pela Folha na sexta (21), foi bem recebida pelo mercado. A Bolsa subiu 5% e dólar caiu 2,08% para R$ 2,519.

Isto é Joaquim Levy
"Qual é, afinal, o objetivo fiscal do governo? É diminuir a dívida? Ou é imprimir uma trajetória para o gasto corrente? Algo que dê uma visibilidade de três, quatro, cinco anos. Acho que isso é o mais importante"
Em entrevista ao "Valor Econômico", em novembro de 2013

"Quanto mais sólido o desempenho fiscal, menor vai ser a carga em cima dos juros e eventualmente melhor para as ações"
Em entrevista à "Isto É Dinheiro", em janeiro de 2014

"Ao mudar a base da folha de pagamento para o faturamento, você precisa ficar ajustando a alíquota para cada setor, e pode até errar e acabar aumentando o custo de alguns. Em tributação, você não pode improvisar"
Em entrevista à Folha em agosto de 2013

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