segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Temer reúne o PMDB para marcar liderança

• Vice-presidente defenderá reforma política e tentará evitar Eduardo Cunha na presidência da Câmara

Simone Iglesias – O Globo

BRASÍLIA -Antes de se ver emparedado por correligionários em busca de cargos no governo, o vice-presidente, Michel Temer (PMDB), buscará costurar o compromisso dos deputados e senadores de seu partido com a reforma política. Amanhã, ele receberá governadores e parlamentares eleitos, ministros e dirigentes em um jantar no Palácio do Jaburu. O objetivo é reafirmar sua liderança sobre o partido depois de sair fortalecido das urnas com a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT). Na quarta-feira, numa nova rodada, Temer reunirá o Conselho Nacional do PMDB, formado por 67 dirigentes, para definir pontos da reforma e deixar clara a posição contra a regulação da mídia.

Como forma de manter o controle, Temer decidiu que não se licenciará novamente da presidência do PMDB, exercendo a função paralelamente à vice-presidência. Ele preside a sigla desde 2001, se licenciou em janeiro de 2011 e reassumiu o cargo em julho, dias antes da convenção nacional, porque um grupo defendia o rompimento com Dilma.

Candidatura de Cunha preocupa
Além do compromisso com a reforma política, preocupa Temer e o Palácio do Planalto a candidatura do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à presidência da Câmara. Ele foi reconduzido à liderança da bancada e já tem apoio dos deputados do partido e de outras legendas. Cunha tem um histórico de conflitos com o governo Dilma. A presidente já pediu ao vice que tente evitar a eleição dele.

A direção do PMDB apresentará um cronograma para discussão da reforma política, sugerindo que, primeiro, o partido ajude a viabilizar o projeto de iniciativa popular do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral. A partir desse texto e com alterações feitas pelo Congresso, o projeto iria a referendo popular. Só em último caso, por falta de acordo e demora do Congresso, a reforma se viabilizaria por plebiscito. A fórmula foi apresentada por Temer a Dilma na quarta-feira passada. Foi a partir dali que a presidente passou a modular suas declarações sobre o tema.

- O PMDB vai incorporar a reforma política como programa de partido. Vamos adotá-la e discuti-la para que ela finalmente se viabilize - disse o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, deputado Eliseu Padilha (RS).

Nos debates dos peemedebistas, entrará ainda um ponto que coloca PT e PMDB em oposição: a regulação da mídia.

- Nós não aceitamos quebra da liberdade de imprensa. Não vamos aceitar. É um princípio. Nós, do PMDB, derrubamos uma ditadura, e a presidente Dilma também teve alguns anos presa, foi torturada para garantir a liberdade de imprensa. Nós não vamos, e creio que ela também, não vai abrir mão disso - afirmou o ministro Moreira Franco (Aviação Civil).

No Congresso, dizem os peemedebistas, não há chance desse tema prosperar, mas é preciso diálogo e permanente atenção para impedir que a regulação comece a ser operada via Executivo, por meio de decretos.

- A imprensa precisa ser independente não só da tutela estatal, mas das forças econômicas. A pretensão de abolir o direito à liberdade de expressão é totalmente imprópria. Quem regula, gosta, rejeita ou critica é o consumidor da informação. Ele é quem faz isso e somente ele. O único controle tolerável é o controle remoto - reafirmou o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

O PMDB detém o controle de cinco ministérios: Agricultura, Minas e Energia, Previdência, Turismo e Aviação Civil. A sigla brigará para mantê-los e tentará ampliar sua participação, tanto em número como em poder dentro das pastas.

A cúpula do PMDB trabalha pela manutenção de Moreira Franco e Vinícius Lages (Turismo), para que Eliseu Padilha volte à Esplanada, após ter sido ministro do governo Fernando Henrique Cardoso. Ainda quer as indicações de Josué Alencar (filho do ex-vice-presidente José Alencar) e da senadora Kátia Abreu (TO). Esses dois últimos, para alguns peemedebistas, entrariam na cota pessoal de Dilma, mas de qualquer forma, são dois nomes de peso do partido e, no ministério, podem acomodar dezenas de correligionários.

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