sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Claudia Safatle - Será difícil evitar recessão em 2015

• Políticas monetária e creditícia serão contracionistas

- Valor Econômico

Após o segundo turno que reelegeu Dilma Rousseff por mais quatro anos, a avaliação do governo era que a situação da economia e os prognósticos para 2015 eram "péssimos". Hoje, com os danos causados pelas denúncias de corrupção na Petrobras e com os principais executivos das maiores empreiteiras do país na cadeia, a avaliação é que 2015 será "o superlativo de péssimo", definiu um ministro.

A esse quadro se somam um ajuste fiscal de mais de R$ 100 bilhões - para obter a meta de superávit primário de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) - e uma demanda por elevações dos juros maiores do que o Banco Central supunha, por causa da tempestade externa que se forma. Assim, será difícil evitar uma recessão em 2015.

A Petrobras é a maior contratante do país e a demanda gerada por investimentos e obras que a empresa estatal encomenda às empreiteiras representa cerca de 10% do PIB.

"Imagina se hoje há condição da OAS, da Engevix ou de qualquer outra que esteja na lista da Operação Lava-Jato fazer uma reunião de diretoria para decidir alguma coisa importante", comentou a fonte. Agrega-se aí, também, a abrupta queda do preço do petróleo no mercado internacional que vai reduzir os investimentos da estatal.

Até março vencem cerca de R$ 4 bilhões em empréstimos dos bancos para as empreiteiras. Valor que muito provavelmente será provisionado pelo sistema, reduzindo ainda mais a oferta de crédito na economia.

Na crise de 2008/2009, os bancos privados encolheram o crédito e o governo engordou os bancos públicos com transferências do Tesouro Nacional para que pudessem aumentar os financiamentos às empresas e consumidores. Esse e os demais canais de irrigação que o governo tem disponíveis para dar ânimo à atividade econômica, agora, se exauriram. As políticas monetária e creditícia serão contracionistas e a fiscal, na melhor das hipóteses, neutra.

A rápida recuperação da confiança seria uma forma de o governo se contrapor a esse cenário e adicionar elementos mais animadores. Se a nova equipe econômica acertar no tempo e na intensidade das medidas corretivas, a confiança voltará, mas não de imediato.

Foram as grandes construtoras que ganharam a maioria das concessões licitadas até agora. As investigações da Lava-Jato comprometem as obras das concessões já realizadas e o lote de licitações a ser feito no futuro.

Um colaborador próximo da presidente Dilma informou que nada que resulte em aumento do gasto público ou transferência de recursos para bancos públicos será concebido para ajudar as empreiteiras. "Com o Levy, essa hipótese não existe", acredita. Processos cujas investigações correm em separado, como é o caso da Odebrecht, ainda não estão nessa conta, completou.

O quadro traçado pelo governo é, portanto, muito complicado. As empreiteiras começam a vender parte dos seus ativos. Algumas sairão das investigações "valendo 25% do que valiam antes", arrisca-se a prever.

O ano de 2014 se encerra com estagnação econômica e retração dos investimentos. A inflação está no teto e com possibilidade de chegar a 1% em janeiro, levando o IPCA acumulado em 12 meses a furar o teto de 6,5% e migrar para a casa dos 7%. A desvalorização cambial adiciona pressão sobre os preços, embora seja uma injeção de ânimo nas exportações. A tempestade que começa a se formar no exterior vai exigir do Banco Central a prorrogação dos leilões de swap cambial e aumentos mais salgados da taxa de juros.

As contas públicas chegam ao fim do exercício sabe-se lá como - isso vai depender da decisão de se entregar este ano um déficit ou superávit primário. Para a equipe que assume o Ministério da Fazenda em janeiro, o melhor é receber as contas mais realistas possíveis. Para a equipe que sai há um esforço de preservação de biografias. Para o setor elétrico, 2014 acaba com desequilíbrios que vão precisar de conserto. Na indústria, a situação é lamentável. E a crise hídrica não está resolvida nem o risco de racionamento está afastado.

O ministro indicado da Fazenda, Joaquim Levy, está defendendo a adoção rápida das medidas de ajuste para reverter o desânimo da economia. O raciocínio dele é que com regras claras e na direção correta a resposta da economia é rápida, mesmo quando o ambiente é desfavorável. É possível, no entanto, encontrar em todo esse processo de investigação de corrupção na Petrobras, apesar dos estragos inevitáveis, razões para algum otimismo.

Ao desbaratar um megaesquema de desvio de dinheiro da estatal e punir os responsáveis, a maneira de se fazer negócios no Brasil deverá mudar. Quando o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, recomenda a destituição de toda a diretoria da estatal, algo diferente está acontecendo. É um avanço institucional importante para o país.

Uma nova tática foi desenvolvida por autoridades que despacham com a presidente Dilma Rousseff para escapar do ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante: chegar no gabinete da presidente e falar o que for importante rapidamente, de uma só vez. Isso, para não dar tempo de Mercadante adentrar no recinto e opinar sobre tudo o que estiver sendo dito.

Um dos autores desse modo de vida disse que o ministro da Casa Civil entra sem bater na porta e participa da conversa sem cerimônia, sob o olhar complacente da presidente.

Um astuto observador da rotina do Palácio do Planalto comentou que Dilma foi sequestrada por Mercadante, mas ainda não sabe.

A presidente Dilma Rousseff concedeu autonomia para Joaquim Levy, ministro indicado da Fazenda, fazer o que for preciso para consertar a economia. Levy, porém, não terá todo o tempo do mundo para fazer os ajustes e colocar o país na rota do crescimento, disse um ministro muito próximo da presidente. "Ela vai esperar pelos resultados", ponderou essa fonte, "e se eles não vierem, a conversa muda."

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