segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Dilma Rousseff resistirá?

• Talvez. Para melhorar sua articulação política e, no limite, blindar-se contra um pedido de impeachment, ela manterá sua dependência de Lula

Alberto Bombig – Época

No início de 2014, quando a presidente Dilma Rousseff liderava com folga as pesquisas eleitorais, assessores dela gostavam de dizer reservadamente, a jornalistas e a empresários, que o segundo mandato de Dilma no Palácio do Planalto sepultaria a sombra de seu padrinho político e antecessor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em julho, com o início oficial da campanha eleitoral, a reeleição de Dilma mostro use mais complicada. As dificuldades da campanha se agravaram com o mau momento da economia, e o PT começou a trabalhar com um cenário provável de derrota de Dilma, fosse para Marina Silva (PSB) ou para Aécio Neves (PSDB). Em meio ao desespero, a solução foi recorrer justamente a ele, Lula, para bater pesado nos adversários do petismo e se transformar, pela segunda vez, no fiador de sua afilhada.

Essa "dívida de gratidão" já seria suficiente para manter Lula como uma peça importante do segundo mandato de Dilma . Há ainda outro fator determinante na relação do padrinho com a afilhada. O petrolão colocou sob alerta a base de apoio ao governo no Congresso . Vários políticos foram citados pelo ex-diretor e delator Paulo Roberto Costa como beneficiários do esquema de desvios de verbas. Entre eles, líderes de partidos. Já no início de 2015, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deverá enviar ao Supremo Tribunal Federal (STF) a lista oficial com os pedidos de abertura de inquérito. A oposição planeja entrar com pedidos de cassação de mandato assim que esses inquéritos forem instaurados. Dilma terá de evitar a aproximação do escândalo da rampa do Planalto (h á ministros e ex-ministros citados) e o esfacelamento do bloco de apoio ao governo no Legislativo. No limite, o risco máximo para Dilma é a oposição, liderada pelo PSDB, reunir forças e estofo jurídico para um pedido de impeachment. Tanto esse cenário causa temor a Dilma que, na última segunda-feira, dia 22, ela declarou que "essa história de impeachment não cabe no Brasil nesta década", uma referência ao processo que em 1992 afastou Fernando Collor.

É justamente esse contexto de turbulência e incerteza que duplica o poder de Lula. Dilma jamais foi uma grande articuladora política – nem fez questão de ser. O primeiro mandato dela apresentou uma série de trapalhadas nessa área e, a julgar pela dificuldade dela para montar o novo ministério, o segundo mandato tem tudo para repetir o desastre. O PMDB, parceiro preferencial do PT, está mais fortalecido por ter sido determinante, no início de dezembro, pela aprovação da Medida Provisória que, na prática, alterou a meta de superavit primário e salvou o balanço final das contas públicas. Os petistas, liderados por Lula, consideram ter sido fundamentais para a reeleição de Dilma, pois não pouparam esforços para defender sua candidatura nas ruas, nas redes sociais, nos sindicatos e nas empresas públicas. Em privado, líderes desses dois partidos reclamam do tratamento que receberam do Planalto nos últimos quatro anos e querem mais interlocução e mais espaço.

O problema central é que o petrolão atingiu em cheio PT e PMDB, além do PP, nos últimos anos uma espécie de sigla satélite do Planalto, disposta a tudo em troca de cargos e de verbas. Muitos dos nomes indicados por esses partidos para compor o novo governo podem estar, direta ou indiretamente, ligados ao esquema de corrupção. Começar um novo mandato e logo ser obrigada a demitir um ministro ou um chefe de estatal por causa de suspeitas de irregularidades mergulharia a nova gestão numa crise logo de cara.

As nomeações de Dilma podem travar ainda mais sua articulação política. Ciente das dificuldades dela e também de olho n a possibilidade de ser o candidato do governo e do PT à sucessão em 2018, Lula passou o final de 2014 em atividade. Nos próximos meses, somente ele será capaz de acalmar os aliados, que ainda suspiram de saudades, e de manter os petistas sob controle. Lula esteve em Brasília para reuniões com a afilhada e interferiu de maneira decisiva na escolha de Joaquim Levy para a Fazenda. Divulgou um vídeo na internet dando conselhos a Dilma e dizendo que "o povo quer ser mais ouvido". Essa deverá ser a maneira de Lula capitalizar a dependência que Dilma terá dele no início do novo mandato, ora se aproximando para defendê-la dos inimigos, ora passando "pitos" públicos nela, para manter certa distância regulamentar de um eventual fracasso de Dilma II.

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