terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Fausto Matto Grosso - "O reencontro da esquerda democrática"

- Correio do Estado (MS)

Neste mês, foi anunciada a criação de um Bloco Parlamentar na Câmara dos Deputados composto pelo PSB, PPS, PV e Solidariedade. Juntos, esses partidos possuem a segunda maior força política no parlamento, 67 deputados, somente inferior à bancada do PT, com 70 deputados. Essa articulação nacional deverá ser rebatida nas esferas estaduais e municipais, na interlocução com a sociedade e com os movimentos sociais.

PCB, hoje PPS, e PSB, ao longo da história brasileira, protagonizaram, no mais das vezes, ações convergentes que dão sentido ao projeto político que recomeçam a construir.

Em 1927, formaram o “Bloco Operário e Camponês”, que, em 1930, lançou o primeiro candidato operário à Presidência da República. Diante da ascensão do fascismo no mundo, em 1935 construíram, juntamente com outras forças democráticas, a Aliança Nacional Libertadora.

Após a ditadura Vargas, PCB (1945) e PSB (1947) são legalizados. Os socialistas buscaram se diferenciar do PCB por críticas ao modelo soviético, propondo um socialismo democrático e pluralista. Em 1947 o PCB é cassado e entra os anos 50 na ilegalidade e isolado, com uma política estreita, de extrema-esquerda, que só vai se alterar a partir de 1958, com ruptura com o stalinismo e a adoção do compromisso com a via democrática.

A despeito de divergências, PCB e PSB, partir de 1947, convergiram na construção da Frente do Recife, que logrou eleger Arraes, em 1960, prefeito do Recife e, posteriormente, Governador de Pernambuco, posição onde se encontrava quando do Golpe de 1964.

Na resistência à ditadura, os dois partidos apontaram o caminho da Frente Democrática e participaram da fundação do MDB. Em 1974, na eleição indireta para a Presidência, o MDB lança a “anticandidatura” de Ulisses Guimarães com o vice socialista Barbosa Lima Sobrinho.

Inviabilizadas as “Diretas já”, o PMDB participa da eleição contra Maluf, elegendo, no Colégio Eleitoral, Tancredo Neves e José Sarney. No governo Sarney, em 1985, o PCB reconquista a sua legalidade e o PSB se reorganiza com líderes como Antônio Houaiss, Evandro Lima e Silva, Jamil Haddad e Evaristo de Moraes Filho, entre outros.

Nas eleições de 1989, quando a disputa se faz contra Collor, o PSB participa da Frente Brasil Popular em torno de Lula, indicando a vice, o socialista Paulo Bisol. O PCB, após a candidatura presidencial de Roberto Freire, vai se juntar a essa articulação no segundo turno.

Nos estertores do Governo Collor, Evandro Lins e Silva, um dos fundadores do PSB, participou da comissão de juristas responsável pela elaboração do pedido de impeachment, cabendo ao socialista Barbosa Lima Sobrinho, representando a ABI, entregar esse documento à Câmara dos Deputados.

Os dois partidos participam do Governo Itamar, um virtual momento “parlamentarista” de salvação nacional. Freire foi líder do Governo na Câmara dos Deputados e os socialistas Haddad (Saúde) e Houaiss (Cultura) participaram do Ministério, apoiando o lançamento do Plano Real, para o enfrentamento da inflação.

Nas eleições de 1994, o PPS, sucedâneo do PCB, e o PSB estiveram juntos na coligação em torno de Lula, derrotada, no primeiro turno, por Fernando Henrique Cardoso.

A partir daí, fruto da disputa de projetos de poder, o Brasil passa a viver a polarização PT x PSDB. Essa divisão do campo de centro-esquerda levou a um sistema político onde, cada um por sua vez, esses partidos, no presidencialismo de coalizão, tiveram que governar em alianças com a direita e com o atraso fisiológico.

Assim chegamos a 2014, com PSB e PPS, no campo da oposição, articulando um projeto alternativo, primeiro com Eduardo Campos, depois com Marina Silva. Esse é o momento que Roberto Freire chamou de “reencontro da esquerda democrática”.

Agora, o Bloco da Esquerda Democrática, que incorpora também a modernidade da pauta do PV e a base sindical do Solidariedade, se apresenta como um importante polo para a aglutinação de uma grande quantidade de quadros progressistas que se acham ausentes, ou dispersos na política brasileira.

Fausto Matto Grosso é engenheiro, professor aposentado da UFMS

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