sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Gustavo Patu - A doméstica e a conta de luz

- Folha de S. Paulo

O que Dilma Rousseff e o PT chamam de pleno emprego e ascensão social, o Banco Central chama de inflação de serviços.

Pode-se chamar também de médicos, dentistas e professores, comerciários, garçons, manicures, pintores, frentistas, bancários, porteiros e empregadas domésticas --gente cujo padrão de vida melhorou nos últimos anos, que comprou computador pelo crediário, pôs os filhos na escola particular, viajou ao exterior aproveitando o dólar barato.

Nesta semana, o BC finalmente prometeu fazer o necessário para cumprir a sua meta de inflação, o que evita desde a primeira eleição de Dilma, em 2010. No mesmo documento, calculou que mais de um terço da alta dos preços vem dos muitos e diferentes serviços.

A oferta de empregos e o poder de compra não subiram porque as pessoas passaram a produzir mais e melhor. Foi com o impulso dos gastos do governo, que elevou o salário mínimo, o Bolsa Família, os financiamentos de casas e automóveis. É o que o BC chama de "aumentos de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade". Para a administração petista, o nome é distribuição de renda.

Mas não é só a madame que precisa de manicure, não é só rico que come em restaurante. Quem sai da pobreza também quer utilizar os serviços, contribuindo para a carestia e sofrendo com ela. A inflação se propaga e compromete o bem-estar.

Para não estragar a festa, a saída foi segurar os preços da gasolina e derrubar os da energia elétrica. Mas a mágica se esgotou: a Petrobras e a Eletrobras estão destroçadas, assim como as contas do Tesouro Nacional.

Agora será preciso aumentar a conta de luz sem conceder ganhos correspondentes ao salário mínimo da empregada doméstica. O que o BC chama de "realinhamento dos preços" e "moderação salarial", a presidente chamou, na campanha eleitoral, de tarifaço e arrocho.

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