quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Hélio Schwartsman - Anos difíceis

- Folha de S. Paulo

Não há muita dúvida de que o caldo entornou. O escândalo de corrupção na Petrobras fica mais feio a cada dia e não está muito claro onde a coisa vai acabar. É bem verossímil a ideia, ventilada por um dos beneficiados pela delação premiada, de que as lambanças não estão restritas à petrolífera, atingindo várias obras públicas.

Não bastasse isso, as barbeiragens econômicas cometidas durante a primeira gestão de Dilma estão prestes a apresentar sua fatura. A conta deverá aparecer na forma de aumento de impostos e algum desemprego, sem mencionar a inflação que, se não explode, tampouco dá sinais de que será domada no curto prazo.

Para compor a tempestade perfeita, o preço das commodities, que, durante os anos Lula, fez nossa bonança, vai caindo de forma que parece ser consistente (aliás, essa tem sido a tendência histórica). Não serão a soja e o minério de ferro que nos salvarão desta vez. Como agravantes, pipocam no horizonte o baixo crescimento da China e a cada vez mais próxima elevação dos juros nos EUA.

É verdade que já passamos por encrencas mais agudas. Diferentemente de outras situações, o país não está na iminência de quebrar e haveria em princípio como administrar a crise por dois ou três anos até que o ajuste recessivo realizasse sua obra.

O problema aqui é que o governo Dilma 2 não parece ter muita capacidade de reação. Se, por um lado, isso é bom porque torna menos provável que a presidente volte a praticar seu ativismo econômico, por outro, pode torná-la refém de um Congresso que tem uma agenda complicada, para não dizer perdulária, e pouco compromisso com o acerto das contas públicas. O clima de animosidade política que resultou da eleição de outubro tampouco ajuda.

O único consolo, como já escrevi aqui, é que os efeitos da bagunça estourarão sobre os responsáveis por ela, o que, no longo prazo, é bom para o aprendizado democrático.

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