segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Ricardo Balthazar - Estratégia em xeque

- Folha de S. Paulo

As investigações sobre o esquema de corrupção na Petrobras não ameaçam apenas os políticos que receberam propina e as empreiteiras que pagaram para fazer negócios com a estatal. Ruiu também a estratégia que a presidente Dilma Rousseff defendeu na campanha eleitoral para tirar o país do marasmo em seu segundo mandato.

Desde a descoberta do pré-sal, os petistas apresentam as gigantescas reservas de petróleo encontradas no fundo do mar como um passaporte para o futuro. Dilma foi eleita em 2010 dizendo que usaria essa riqueza para desenvolver indústrias e gerar empregos, e se reelegeu prometendo extrair do pré-sal mais de R$ 1 trilhão para a educação e a saúde.

Com a Operação Lava Jato, ficou difícil cumprir a promessa. A Petrobras provavelmente levará anos para recuperar sua credibilidade na praça e a capacidade de financiar novos investimentos. O governo será obrigado a diminuir sua ambição se não aceitar rever as regras criadas para favorecer a Petrobras e a indústria nacional na exploração do pré-sal.

Os bancos também fecharam as portas para as empreiteiras sob suspeita. A OAS pôs à venda os jatinhos de seus executivos e parte dos seus negócios em infraestrutura, que incluem o aeroporto de Guarulhos e o metrô do Rio. O aprofundamento das investigações traz riscos para grupos poderosos como a Odebrecht, que participa das maiores obras da Petrobras e ainda tem a estatal como sócia na indústria petroquímica.

Lidar com essa situação exigirá de Dilma uma revisão profunda de sua estratégia e de suas convicções sobre o papel do Estado na economia. Mas a ficha ainda não caiu. No discurso que fez na quinta (18) em sua diplomação no Tribunal Superior Eleitoral, Dilma defendeu a Petrobras, disse que não mudará as regras do setor e acusou os críticos de pôr em xeque a soberania nacional. A demora da presidente para aceitar a realidade tende a amplificar o estrago que as investigações farão na economia.

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