segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

OPINIÃO DO DIA: Marco Aurélio Nogueira

As manifestações têm-se sucedido. Vão de rolezinhos a espasmos cívicos e protestos contra a Copa. Em todas, as agendas são idênticas: transparência, respeito a direitos, reconhecimento, espaços de lazer, mobilidade urbana, outra política. Em todas, o despreparo policial desaba sem muito critério sobre as multidões e se faz acompanhar de uma violência "simbólica" que o reverbera e amplifica, adicionando a ele o despreparo dos manifestantes. Destaca-se a tragédia da hora, esquecem-se as mortes enfileiradas ao longo dos anos, o cotidiano pesado, a falta de perspectiva dos jovens, o ambiente sociocultural que não agrega. Joga-se luz sobre os violentos sem que se expliquem as raízes da violência e o porquê de ela estar-se convertendo em opção de vida.

Marco Aurélio Nogueira é professor titular de Teoria Política e diretor do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais da UNESP. “Vácuo e descontrole”. O Estado de S. Paulo, 22 de fevereiro de 2014

FHC em entrevista: “Quatro anos de mais do mesmo é perigoso”

O ex-presidente considera esgotado o projeto político do PT e acredita que seja necessária a entrada de ar fresco: “Chegou o momento da mudança e gente com uma nova visão”

Luis Prados / Carla Jiménez


SÃO PAULO - Pai do Plano Real, que acabou com o dragão da inflação e que completa agora 20 anos, e arquiteto, junto com o seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva, do período de maior prosperidade e democracia da história do Brasil, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (Rio de Janeiro, 1931) repassa, em conversa com o EL PAÍS, a encruzilhada brasileira neste ano de Copa do Mundo e eleições, enquanto o idílio dos mercados com o gigante sul-americano parecer ter definitivamente acabado.

De uma elegância pessoal e intelectual pouco frequente entre os políticos, o líder histórico do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) considera esgotado, apesar de reconhecer seus méritos, o projeto político do Partido dos Trabalhadores (PT), acredita que seja necessária a entrada de ar fresco nos palácios do poder – “chegou o momento da mudança, e é necessária gente com uma visão diferente” – e expressa sua preocupação de que o Brasil perca espaço no cenário internacional e na América Latina em particular.

Pergunta. Há algum tempo parece que acabou o idílio dos mercados com o Brasil, que a confiança se perdeu. O que está acontecendo?

Resposta. Exageraram sobre os sucessos, como agora estão exagerando com as dificuldades. Nem antes voávamos tão alto, nem agora estamos tão mal. Perdeu-se o ímpeto das condições externas favoráveis e das reformas anteriormente feitas, que na verdade não aprofundamos. Não percebemos que vivíamos uma janela de oportunidade, não um estado permanente. O Governo Lula teve um erro estratégico e outro de gestão. O primeiro foi a crença de que haveria um declínio do Ocidente, o que, salvo o caso da China, é discutível. Acho ótimo que as relações Sul-Sul tenham sido fortalecidas, mas não em detrimento das relações com o mundo ocidental. Além disso, houve também uma espécie de grande ilusão, como se a pedra filosofal tivesse sido descoberta, com o crédito e o consumo como chaves do crescimento. E isso é metade verdade, a outra metade é que falta investimento. Foram paralisadas as reformas e existiu também um temor metafísico das privatizações, o que paralisou o investimento em infraestruturas enquanto havia abundância de capitais.

No Brasil não há nada de socialismo

P. Pelo que o senhor diz, parece que o país está sequestrado pelos preconceitos ideológicos do PT.

R. Sim, acredito que haja algo assim. Não tanto no sentido do socialismo, mas no sentido da ingerência estatal. Aqui não há nada de socialismo. O que há é a visão de que a alavanca governamental pode tudo. Criaram realmente um casamento entre as empresas e os bancos públicos. Eu sempre digo que o que importa é que existam regras de mercado, não de negócios. Negóciosnão são algo que o governo tenha que fazer.

P. O que além do mais costuma gerar corrupção...

R. A corrupção foi mais grave antes, durante o Governo anterior. A novidade é que a corrupção agora é grupal, e antes era individual, e isso causa uma espécie de absolvição: se é para o partido, então não é pecado. Porém, o mais grave é o descrédito crescente da classe política. O Congresso dá a impressão para o povo de que não discute nada relevante, e que os temas são tratados pelo Executivo. A agenda política nacional é um pouco semelhante à do tempo do regime militar, quando o Governo anunciava projetos de impacto para a sociedade, e o Congresso era mantido à margem.

A novidade é que a corrupção agora é grupal e isso causa uma espécie de absolvição: se é para o partido, então não é pecado

P. Alguns analistas afirmam que o PT confunde partido e Estado.

R. Pois é. A diferença entre o PSBD e o PT não é a política econômica, é a política. A ideia de se a sociedade civil deve ter um papel maior ou menor. Estamos voltando a uma situação que tem raízes profundas no Brasil e no mundo ibérico. No México, quando o PRI assumiu, tinha uma frase que resumia isso, aquela de que “fora do orçamento não há salvação”. Aqui estamos nos aproximando disso. Todos querem ter um pedaço do orçamento, que não é de esquerda nem de direita. É corporativismo e clientelismo.

P. No entanto, parece haver quem queira outra coisa.

R. Sim, as manifestações populares vão nessa direção. Não têm consciência plena de seus objetivos, mas expressam um mal-estar. Não tenho certeza de que o Governo ganhará as eleições. Tem chances de ganhar, tem poder, tem recursos e tudo isso, mas há um sentimento de mal-estar que não é exatamente um sentimento antigoverno ou anti-PT. É um sentimento mais generalizado. Há tanta propaganda de que o Brasil é uma maravilha, do Brasil oficial…, mas existe o Brasil real, que tem problemas. Não é tão mau como antes, melhorou, mas as pessoas querem mais. Querem uma coisa que antes não queriam com tanta ênfase: qualidade e justiça. Não sou pessimista, mas, como pano de fundo, há uma crise mundial da democracia representativa. É uma situação delicada, que exige uma liderança com mais visão.

há um sentimento de mal-estar que não é exatamente um sentimento antigoverno ou anti-PT

P. Recentemente, a diretora do IBOPE nos dizia que há um desejo de mudança na opinião pública, mas que a oposição não conseguia representar esse sentimento.

R. Em um determinado momento, as ideias políticas precisam ter alguém que as expresse. Agora não é possível expressá-las, porque a televisão só informa sobre o Governo. Além disso, há outro fenômeno que ainda não sabemos avaliar, que são as redes sociais, que criam correntes de opinião, com as quais os partidos ainda não sabem lidar.

P. Também existe a sensação de que falta um projeto nacional.

R. É um pouco isso que ocorre. Falta alguém que formule o projeto, de maneira acessível, para a população. É preciso usar uma linguagem mais verdadeira. Aqui as pessoas estão acostumadas a um discurso que não é sincero. A crise não nos afeta, a culpa é do estrangeiro etc. Não. Temos problemas, podemos vencê-los, mas temos problemas. Tomara que algum candidato, espero que do meu partido, tenha a coragem de dizer as coisas com sensatez, de uma maneira que convença as pessoas de que há um caminho. E não é fácil, porque perdemos um bom momento para continuar ajustando o Brasil.

P. O senhor acredita que o Brasil entrará em recessão neste ano?

R. O crescimento será pequeno. Acredito que chegará o momento em que, quem quer que seja o ganhador das eleições, deverá ser feito um ajuste. Provavelmente em 2015. E, seja quem for o governante, passará por momentos difíceis, porque o ajuste sempre é duro. Não sou pessimista sobre o Brasil, porque as bases da economia são boas... Mas isso não significa que o Governo não tenha que tomar medidas. Em termos comparativos, o México está melhor agora porque está vinculado aos Estados Unidos, e os mexicanos estão fazendo algumas reformas. Demoraram muito para fazê-las, mas agora estão fazendo. Há energia e espírito para fazê-las. A Colômbia também.

P. Inclusive o Peru.

R. Sim, os países do Pacífico. O Brasil perdeu importância na América Latina. O que está acontecendo agora na Venezuela. Qual é a palavra do Governo do Brasil?

P. Houve uma declaração do Mercosul…

R. Foi uma vergonha. O Brasil não tem essa posição, não pode ter essa posição. Perde relevância assim. O Governo, desde a época do Lula, tem sido muito temeroso com o que acontece no arco bolivariano, sem se dar conta de que o outro arco, o do Pacífico, está avançando e nós estamos isolados. Acredito que chegou o momento de mudar quem manda hoje. Não digo que eles não possam voltar, nem acredito que tudo o que foi feito estava errado. Não estava. Mas chegou a hora. Quatro anos de mais do mesmo é perigoso. Ainda que nos próximos quatro anos o Governo entenda que precisa fazer coisas, fará contra o seu sentimento mais profundo, e isso não funciona bem.

P. Por que a oposição ainda não consegue se mostrar como algo distinto, como uma verdadeira alternativa?

R. Acho que faltou a convicção de que o que diziam era correto. Houve uma espécie de rebaixamento ideológico. As pessoas acreditaram muito na palavra do PT. É preciso ser mais frontal. Agora há possibilidades porque eles estão agindo mal. Agora há mal-estar, é o momento no qual todos podem escutar outra voz. Tomara que ela exista e que seja ouvida. Hoje, pela primeira vez, vamos para eleições em que setores importantes do Governo passaram para a oposição: Marina Silva e Eduardo Campos. Os dois foram ministros do Lula. Isso significa que provavelmente a diferença de votos tão forte que Dilma obteve no Nordeste e no Norte do país não irá se repetir. Primeiro porque Campos é do Nordeste, de Pernambuco, e tem força ali. Segundo porque a oposição ganhou na Bahia, em Alagoas, em Sergipe, no Piauí, no Pará e no Amazonas. Isso provavelmente diminui a votação de Dilma por lá, e de São Paulo para o Sul nós sempre ganhamos. Aécio Neves tem a vantagem de ter Minas Gerais, que é um Estado forte. A briga estará em São Paulo e, até certo ponto, no Rio de Janeiro. Há melhores oportunidades. Se serão concretizadas ou não depende não só da economia, mas da Copa do Mundo, do sentimento das pessoas, do desempenho dos candidatos. Porque em países como o Brasil, em que os partidos contam pouco, o que conta são as pessoas.

P. Que reformas são prioritárias?

R. A primeira reforma é a política. É difícil imaginar que seja possível um país funcionar com 30 partidos no Congresso e 39 ministérios, é uma receita para a paralisia do sistema. Esse sistema precisa mudar, mas não há força no interior dos partidos que se mova nessa direção. Quando fizemos a Constituição, nunca imaginamos que existiriam 30 partidos, que não são partidos, mas grupos de interesse que buscam participar do saque ao Estado.

P. Já faz 15 anos que se fala de reforma política...

R. A presidenta Dilma tentou fazê-la durante as manifestações de junho, porém não houve uma articulação, houve somente um ímpeto presidencial positivo. Acho que agora é tarde, porque já estamos em campanha eleitoral. É preciso fazê-la antes ou depois. E exige grandeza.

P. Como romper esse isolamento do Brasil na América Latina de que o senhor falou antes?

R. Deve ser rompido com ações, não com palavras, e acho que chegou o momento de uma mudança de Governo. É preciso gente com uma visão distinta. Seria positivo para o Brasil que a oposição ganhasse, não necessariamente o meu partido, mas a oposição. O Mercosul foi positivo, permitiu que ao menos Brasil e Argentina superassem sua relação de tensão, o comércio foi intensificado entre os dois países, mas se estancou. E agora é realmente uma camisa de força, porque a economia brasileira cresceu muito, superando o Mercosul. Teríamos que mudar, mas envolve outra visão estratégica. Que vai acontecer nos próximos 20 anos? Acredito que haverá uma consolidação da relação entre China e EUA, e Europa, e o tabuleiro mundial terá mais jogadores. O problema é que o Brasil tem tudo para entrar nesse jogo, mas também tem tudo para perdê-lo se não se consolidar, atuando, tomando posição na América Latina, por exemplo. Por que não dizer uma palavra sobre a Venezuela, nem a favor nem contra, mas de diálogo, de entendimento?

P. Na relação de Brasil com Cuba, o que pesa mais? A busca de benefícios ou as razões ideológicas?

R. Existem as duas coisas. O que mais me preocupa é por que as coisas não são feitas com mais clareza, por que os acordos são tão secretos. Por si só, que o Brasil esteja se posicionando no Caribe não é ruim. Nunca tive posição anticubana, nunca apoiei o embargo norte-americano. Mas o modo como as coisas são feitas dá a impressão de que há algo mais ideológico do que pragmático.

P. Foi perdida a oportunidade de se entender com Obama?

R. Acredito que sim, mas sou crítico com muitas coisas, por exemplo, com a questão da espionagem, que é inaceitável. Acho que Dilma teve razão quando não foi aos EUA naquele momento, mas eu teria adiado a viagem, e não cancelado. E, em seguida, tomou a decisão sobre os aviões de combate. Na minha época, a Força Aérea era favorável aos aviões suecos, mas por que fazer isso imediatamente depois? Não são gestos construtivos, e isso não quer dizer que o Brasil tenha que se alinhar com os EUA, mas não precisa ter uma atitude antiamericana, porque não corresponde ao mundo atual.

P. O que deve mudar no PSDB para que o Brasil se case novamente com o partido?

R. Acreditar que tem algo de melhor qualidade para oferecer ao povo. Os brasileiros querem padrão global, melhor saúde, melhor educação, melhor segurança, melhor transporte… É preciso demonstrar que é melhor modernizar em benefício do povo do que não fazer nada e fazer demagogia. O candidato deve inspirar confiança. O que falta a Dilma é essa confiança de que ela é capaz de levar o país adiante. Agora por parte dos setores altos e médios, amanhã do povo.

Fonte: El Pais

Luiz Werneck Vianna* :O reino dos interesses e a política

É preciso ser um incréu empedernido para não reconhecer a presença do fato político nas manifestações das jornadas de junho, tomando-as como um mero episódio da vida juvenil e de suas vicissitudes nas grandes metrópoles brasileiras. Sob esse viés, aqueles massivos acontecimentos, que suspenderam a marcha conhecida do nosso cotidiano com o registro da surpresa e do espanto, pertenceriam ao reino da Sociologia e da Antropologia Social. Decerto que os recursos dessas disciplinas para a observação de eventos desse tipo são, além de próprios, absolutamente necessários. Mas a eles não pode faltar, para que a narrativa seja compreensiva, uma abordagem política da cena especificamente brasileira. Sobretudo pela recusa manifesta dos personagens envolvidos em admitir a presença de partidos e personalidades políticas em seus atos de protesto. Admissão tácita de que se queria outra política.

Com as jornadas de junho, sob um governo há mais de uma década sob a hegemonia de um partido saído das fileiras da esquerda, constatou-se, à vista de todos, sua falta de vínculos com a juventude e a vida popular. E isso malgrado seus êxitos em sua política de inclusão social e de relativo sucesso, especialmente no mundo agrário, de modernização da economia. Estava ali, nas ruas, no clamor pela democratização das políticas públicas e por maior participação na definição dos seus rumos, o sintoma evidente de que nos encontramos no fim de um longo ciclo da política brasileira, qual seja, o da modernização.

Com efeito, tudo traduzido, o que a sociedade expressava era seu desconforto contra tudo isso que está aí. Desconforto provocado pela profunda dissidência entre as palavras e as coisas, assim enquanto as leis vêm assegurando inéditas garantias em termos de liberdades civis e públicas, enquanto as manifestações dos três Poderes republicanos reverenciam ideais de igualdade social, uma sociedade transfigurada por alterações de largo alcance em sua composição demográfica e estrutura de classes e ocupacionais não encontra na esfera pública, que se apresenta como uma reserva de poucos, canais a fim de que possa exigir a satisfação dessas promessas igualitárias.

A intensa energia da vida associativa, inclusive dos seus setores subalternos, e de sua rica e poliforme vida mercantil não se faz presente no sistema dos partidos, a não ser fragmentariamente. Quem vocaliza o empresariado paulista, o mais robusto do País, é a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), um órgão corporativo, assim como é a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) que exerce esse papel em nome dos interesses do agronegócio, uma das locomotivas atuais do capitalismo brasileiro. Quanto aos setores subalternos do campo, é o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), apartidário por opção, que se arvora em assumir essa representação. Os casos desse tipo se multiplicam e dispensam, porque notórios, ser listados. No caso, ainda chama a atenção a prática de boa parte dessas entidades ou de seus membros de favorecerem com doações partidos rivais nas disputas eleitorais.

Esse não é um registro trivial, uma vez que o usual em sociedades democráticas, em particular nas que vivem sob organização capitalista, é que o reino dos interesses não seja refratário - na escala em que é aqui - ao sistema de partidos. Sem eles os partidos perdem identidade e vínculos com a sociedade, tendendo a se comportar como máquinas orientadas para a sua própria reprodução. Essa patologia brasileira não é recente e, paradoxalmente, encontrou no PT antes de se tornar governo um dos principais arautos desse mal, como em suas críticas tanto ao sindicalismo nascido da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que abafaria a livre expressão dos conflitos entre o capital e o trabalho, quanto ao nacional-desenvolvimentismo, que ataria politicamente a sociedade aos desígnios do Estado.

Fora de controvérsia que os governos do PT deram nova vida a essas duas políticas, reforçando a primeira com a legislação sobre as centrais sindicais e fazendo da segunda o Leitmotiv da sua linha de ação governamental. O presidencialismo de coalizão - prática que herdou de governos anteriores, simulacro de um parlamentarismo de fantasia a camuflar a soberania do Poder Executivo sobre o Legislativo - consistiu na modelagem política que lhe permitiu o movimento de camaleão de se apresentar como novo condutor do processo de modernização brasileira. Um longo fio vermelho comunicaria a era Vargas ao PT, em comum, nesses dois tempos, o retraimento da dimensão dos interesses diante dos partidos e a sua gravitação em torno do Estado.

A diferença, é claro, estaria no cenário institucional. O ciclo de modernização desencadeado pelo PT, com o estilo decisionista intrínseco a ele, estaria obrigado à difícil convivência com a Carta Magna de 1988, expressão de uma filosofia política centrada nos ideais de autonomia do indivíduo e da sociedade diante do Estado. Como amplamente verificado, eventuais obstáculos têm sido contornados e o processo de modernização segue o seu curso. Os interesses deslocados ou mal postos diante das políticas de Estado teriam de se conformar com a alternativa de recorrer ao Judiciário - uma das raízes fundas do processo de judicialização da política deve ser procurada aí - ou, em casos extremos, às ruas, como se testemunha desde os idos de junho.

O assim chamado poder incumbente, para que esse eufemismo à moda ganhe sentido, supõe uma prévia manifestação de vontade com origem numa esfera pública democrática. Se a manifestação dessa vontade estiver viciada por um presidencialismo de coalizão que a degrade como a vontade de um só Poder, não há incumbência, mas usurpação praticada em nome de um suposto interesse geral que um governante encarnaria. Se assim, para que partidos?

*Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador da PUC-RIO.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Renato Janine Ribeiro: O econômico e o social

Difunde-se a crença de que só há ideologia à esquerda

Acompanhando o descontentamento de grandes empresários com o governo Dilma, veio-me a hipótese de que nossa política segue hoje duas lógicas totalmente diferentes, quase opostas, a da economia e a das políticas sociais. As últimas vão bem. Os dois governos petistas fizeram um bom trabalho no setor social. Mas reside na economia o descontentamento empresarial, com uma vasta lista de queixas, bem conhecidas dos leitores do Valor. Como quem apoia o governo destaca as conquistas sociais, e seus críticos realçam as falhas na economia, fica um diálogo de surdos, melhor dizendo, um não diálogo. Para ter o quadro completo, é preciso ver os dois lados.

Leio jornais, blogs, rede social. Quem defende Dilma fala dos avanços sociais obtidos desde o governo Lula. Afinal, o Bolsa Família é referência mundial. O ProUni nunca despertou queixas na oposição, até porque sua concepção é liberal: as vagas são em instituições de ensino privadas. O Mais Médicos é a bola da vez, mas os ataques a ele são basicamente ideológicos. No fundo, fora a questão política dos que se opõem a médicos cubanos devido ao regime castrista, não há muito a criticar num programa que dá atendimento a milhões de brasileiros que antes não o tinham, nem teriam, dada a recusa dos nossos médicos a irem para suas regiões, mesmo bem pagos. Para quem quiser se aprofundar, recomendo o artigo de Malu Delgado na revista "Piauí" de fevereiro.

Já quem ataca Dilma menciona o frágil desempenho da economia e o atribui a um preconceito contra a economia de mercado, a um amadorismo e, ainda, a um preenchimento de cargos por indicações políticas.

São dois discursos não só diferentes, mas opostos. É claro que eles precisam conversar entre si! Sem um bom desempenho na economia, não haverá distribuição de renda que aguente. Programas sociais não existirão sem aumentos de produtividade, ambiente favorável aos negócios e uma formação de mão de obra que a torne competitiva. Pior ainda: sem esse crescimento econômico em bases sólidas, a única forma de fazer política social será pelo "populismo", que poderíamos resumir como a arte de matar a galinha dos ovos de ouro. Em vez de distribuir os ovos, você come a galinha. Em vez de distribuir os ganhos, você gasta o principal. É claro que uma estratégia - na verdade, uma tática - dessas não é sustentável. Não tem futuro.

Esse me parece ser um receio presente nos que desconfiam de Dilma, o que não quer dizer que sejam antipetistas. Podem não ter amor pelo PT mas, visivelmente, os empresários parecem preferir Lula a qualquer nome de qualquer partido. É uma escolha pragmática, sendo essa palavra - "pragmatismo" - um grande elogio na voz dos empresários. ("Ideologia", ao contrário, causa-lhes desconfiança, mas é curioso que a maior parte deles pareça acreditar que só haja ideologia à esquerda - não atentando para a presença cada vez maior da ideologia de direita em nossa sociedade, indo do preconceito antigay até a maior parte das críticas ao programa dos médicos).

O outro lado da questão é que, se não mantiver e mesmo expandir a inclusão social, o País entrará em crise política séria. Quando se abrem as comportas da mobilidade social, não há como fechá-las. O governo do PT foi inteligente em alçar a inclusão social, que obviamente tinha começado antes, com outros presidentes, a uma política de Estado, que se tornou irreversível.

Outro partido poderia ter feito o mesmo, mas não tão bem, por não ter o apoio popular que o PT construiu. Seria mais uma dádiva do que uma conquista. Mas, em que pesem alguns titubeios, de ensaio em erro o governo construiu programas que funcionam.

Tradicionalmente, onde o Estado brasileiro funcionava pior era nas áreas sociais, terreno fértil para o paternalismo, o clientelismo, a corrupção. Hoje, com um sistema informatizado de acesso aos benefícios, as coisas andam melhor do que no tempo das cestas básicas atribuídas por indicação de prefeito ou deputado. Daí, melhores efeitos. Mas a relevância desses dois aspectos - o caráter irreversível das demandas de inclusão social e os ganhos de eficiência nos programas desta área - não me parece ser devidamente percebida pelos que criticam o desempenho do governo na economia. Só que fazem parte essencial da realidade.

Isso significa que qualquer política para a economia - que deverá incluir uma aposta firme na competitividade e em ganhos de produtividade - precisará respeitar as conquistas sociais e mesmo ampliá-las. O que torna difícil, por exemplo, a flexibilização das leis trabalhistas. Mas a educação, como tenho insistido, pode ser o ponto de encontro dos dois discursos.

O diálogo de surdos prevalece quando um lado ignora o outro. Felizmente, o Brasil não segue a trilha da Venezuela, a começar pela disposição de nossos líderes políticos a negociar, em vez de confrontar. Um país não funciona direito se está rachado e a oposição não considera legítimo o governo. Mas a inclusão social pode parar, sim. Pode parar se a produção não aumentar, se o Brasil não seguir - em parte - a agenda empresarial. E pode parar se, para adotar a agenda empresarial "in totum", direitos sociais forem revogados ou recuar o processo de ascensão social dos mais pobres.

Em suma, politicamente não há como reverter ou sequer deter a inclusão. Mas para isso a economia precisará ir melhor. Não é impossível, mas é complexo. Dilma, favorita nas eleições, dará conta disso este ano ou num eventual segundo mandato? Se não der, encerrará o período do PT na Presidência, assim como em 2002 parou o projeto de hegemonia tucana. Se conseguir, beneficiará a todos.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

Fonte: Valor Econômico

BNDES deu R$ 350 mil para evento do MST

Caixa também liberou R$ 200 mil para Mostra de Cultura Camponesa; congresso nacional da entidade teve passeata que terminou em tumulto

Eduardo Bresciani

BRASÍLIA - A Caixa Econômica Federal e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) fecharam contratos sem licitação de R$ 200 mil e R$ 350 mil, respectivamente, com entidade ligada ao Movimento dos Sem Terra para evento realizado no 6.º Congresso Nacional do MST. O evento, há duas semanas, terminou em conflito com a Polícia Militar na Praça dos Três Poderes que deixou 32 feridos, sendo 30 policiais. Houve, ainda, uma tentativa de invasão do Supremo Tribunal Federal.

A Associação Brasil Popular (Abrapo) recebeu os recursos para a Mostra Nacional de Cultura Camponesa, atividade que serviu de centro de gravidade para os integrantes do congresso do MST. As entidades têm relação próxima, tanto que a conta corrente da Abrapo no Banco do Brasil aparece no site do MST como destino de depósito para quem deseja assinar publicações do movimento social, como o jornal Sem Terra.

O contrato de patrocínio da Caixa, no valor de R$ 200 mil, está publicado no Diário Oficial da União de 3 de fevereiro de 2014. Foi firmado pela Gerência de Marketing de Brasília por meio de contratação direta, sem licitação. A oficialização do acordo do BNDES com a mesma entidade foi publicada três dias depois. O montante é de até R$ 350 mil. A contratação também ocorreu sem exigência de licitação e foi assinada pela chefia de gabinete da presidência do banco de fomento.

A Mostra Nacional de Cultura Camponesa, objeto dos patrocínios, ocorreu na área externa do ginásio Nilson Nelson, em Brasília. O congresso teve suas plenárias na área interna. Os dois eventos tiveram divulgação conjunta e o objetivo da mostra era mostrar os diferentes produtos cultivados pelos trabalhadores rurais em assentamentos dentro de um discurso do MST da valorização da reforma agrária.

Marcha. O congresso foi realizado de 10 a 14 de fevereiro e reuniu 15 mil pessoas. No dia 12, uma marcha organizada pelo movimento saiu do ginásio e percorreu cerca de cinco quilômetros até a Esplanada dos Ministérios. O objetivo declarado era a entrega de uma carta ao secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, com compromissos não cumpridos pela presidente Dilma Rousseff na área da reforma agrária.

No decorrer da passeata, o grupo de sem-terra integrou-se a petistas acampados em frente ao STF desde as prisões do mensalão, ameaçando invadir a Corte. Na presidência dos trabalhos, o ministro Ricardo Lewandowski suspendeu a sessão que ocorria no momento.
Um cordão de isolamento feito por policiais e seguranças da Corte impediu os manifestantes de avançar em direção ao Supremo. Eles então se dirigiram ao outro lado da Praça dos Três Poderes, rumo ao Palácio do Planalto. Quando os sem-terra romperam as grades colocadas na Praça o conflito começou.

Manifestantes atiravam cruzes que faziam parte da marcha, pedras e rojões contra a polícia, que usou bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e balas de borracha contra os militantes. Ao todo, 30 policiais e dois manifestantes ficaram feridos.
No dia seguinte ao conflito, a presidente Dilma Rousseff recebeu líderes do movimento para debater a pauta de reivindicações, atitude que sofreu críticas de parlamentares da oposição e ligados ao agronegócio.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Alimentos nas alturas - Dentro e fora de casa, comida eleva a inflação

De mocinhos a vilões da inflação

Caio Cigana

Os alimentos foram a âncora verde no começo do Plano Real, na década de 1990. Porém, de 2007 para cá, os preços subiram bem mais do que a média da inflação. No acumulado dos últimos sete anos, o IPCA avançou 45,9% enquanto os alimentos chegaram a 79,1%

Os dados esmiuçados dos índices de inflação comprovam a percepção do empresário André Azevedo Ervalho. Deixou de ser surpresa encontrar preços de alimentos maiores do que a última ida às compras.

– Acabei de pagar R$ 4 por um pé de alface – ilustrava Ervalho na sexta-feira, na saída de uma banca do Mercado Público, na Capital.

Considerados a âncora verde do Plano Real nos primeiros anos da estabilização da economia, os alimentos passaram de mocinhos a vilões nos últimos sete anos e cada vez mais corroem o poder de compra da população. Os dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculados pelo IBGE e considerados a inflação oficial do país, não deixam dúvidas. No período de 12 anos entre 1995 e 2006, apenas três vezes os preços do grupo alimentação e bebidas, que inclui despesas dentro e fora do domicílio, foram superiores ao índice geral do IPCA. A partir de 2007, a situação se inverte. Nesse período, o IPCA avançou 45,9%, enquanto alimentos dispararam 79,1%. Ou seja, 72,3% a mais que a média da inflação.

Cenário semelhante é detectado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), responsável pelo Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S). Os gêneros alimentícios, que incluem só produtos adquiridos no varejo para refeição em casa, subiram 43,7% a mais do que o índice geral nos últimos seis anos. Alguns itens ficaram mais indigestos. Nas hortaliças e legumes, a alta foi 91,6% maior. No caso da carne bovina, 63,5%.

Impacto na renda
Os números também surpreenderam o economista Marcio Silva, coordenador do escritório da FGV em Porto Alegre, que fez os cálculos do IPC-S para ZH:

– Não esperava uma diferença tão grande (em relação à inflação). E o problema é que isso atinge as classes mais baixas, que comprometem parcela maior da renda com alimentos.

Para especialistas em inflação e agronegócio, a explicação para o brasileiro gastar cada vez mais para se alimentar é simples. De um lado, crescimento do consumo global de comida, puxado pela expansão vertiginosa da economia chinesa nos últimos anos e pelo avanço da renda de outros países emergentes, como o próprio Brasil. Do outro, uma produção que não avançou no mesmo ritmo do apetite. Para completar, maior uso de grãos para biocombustíveis.

– A partir de 2007 ficou claramente definido que o mundo teria esse déficit de oferta em relação à demanda mundial de alimentos – afirma José Vicente Ferraz, diretor técnico da consultoria Informa Economics FNP.

Nos primeiros anos do real, a relativa igualdade da cotação da moeda brasileira com o dólar também desestimulava as exportações, ao mesmo tempo que facilitava as importações.

– A agricultura é hoje voltada à exportação. Isso expulsou a produção que era destinada ao mercado interno. Várias commodities agrícolas subiram muito no Exterior, contaminando os preços domésticos – diz Emerson Marçal, coordenador do Centro de Macroeconomia Aplicada da Escola de Economia da FGV de São Paulo.

Embora ninguém espere comida mais barata, a trajetória dos preços dos alimentos nos próximos anos e décadas ainda causa divisão. Há quem acredite em estabilidade, fruto de fatores externos como crescimento menor da China e da própria desaceleração da economia brasileira. Mas também há apostas na continuidade da escalada das cotações pela incapacidade de o mundo elevar a produção no mesmo nível do crescimento do consumo.

– Os estudos que apontam para 2020 ou 2050 indicam que os alimentos ficarão mais caros – sentencia Ferraz.

Fonte: Zero Hora (RS)

Reunião para abafar a crise

Michel Temer, Aloizio Mercadante e Ideli Salvatti tentarão acalmar descontentes que prometem votar projetos de aumentos de gastos caso o Planalto não mude a estratégia de relacionamento com os integrantes da base

Paulo de Tarso Lyra

Presidente Dilma espera que seus articuladores políticos descubram uma saída para evitar mais problemas

O vice-presidente Michel Temer e os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Ideli Salvatti (Secretaria de Relações Institucionais) tentam, a partir de hoje, conter um foco de rebelião de aliados da Câmara que envolve cerca de 250 parlamentares. Com a presidente Dilma Rousseff viajando para Bruxelas, caberá ao trio tentar diminuir a insatisfação de líderes de partidos como o PR, PTB, PP e PMDB, que decidiram, na semana passada, compor um bloco informal para pressionar o Planalto e isolar o PT.

Ainda em Roma, para onde viajou para assistir à nomeação de dom Orani Tempesta como novo cardeal da Cúria Romana, Dilma Rousseff tentou demonstrar pouca preocupação com as pressões dos ainda aliados. "Acho que tem muito de especulação. E eu não vou, de fato, me manifestar sobre especulação. Vamos ver o que acontece de fato", disse ela.

O anúncio do encontro mostra, na verdade, que Dilma não pretende esperar "para ver o que acontece de fato". Além de ser o presidente em exercício do país durante a viagem de Dilma ao exterior, Temer foi escolhido para ser um dos interlocutores porque, na linha de frente do bloco rebelde, está o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ). Cunha confirmou ao Correio ter sido convidado por Temer para uma conversa, no fim da tarde de hoje, no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente. "Nós podemos conversar, não há nenhum problema nisso. Mas isso não vai mudar em nada a nossa opinião e a nossa decisão (em formar o bloco)", assegurou o líder peemedebista.

Uma das formas encontradas pelo grupo para chantagear o Planalto será acelerar a votação de projetos que trancam a pauta da Casa para incluir outros temidos pelo governo, como o piso único dos agentes comunitários de Saúde e a Proposta de Emenda à Constituição que equipara os vencimentos de policiais e bombeiros de todo o país aos salários pagos aos mesmos profissionais no Distrito Federal. "Esse pode ser o primeiro desafio do grupo. Destrancar a pauta para o Legislativo legislar", disse um dos principais caciques do grupo.

Cunha garantiu que não existe qualquer intenção de trazer o PT para o bloco dos insatisfeitos, embora os petistas também estejam esbravejando pelos cantos do Congresso contra a presidente Dilma Rousseff. As duas turmas, inclusive, expuseram as queixas no mesmo dia — quarta-feira passada — no mesmo prédio da Asa Norte, embora em andares diferentes: os petistas estavam no primeiro andar e os demais insatisfeitos, no terceiro andar de um edifício reservado a apartamentos funcionais de deputados.

Petistas
O quartel-general dos petistas foi o apartamento do vice-presidente da Câmara, André Vargas (PR) — o mesmo que repetiu o gesto de punho fechado dos mensaleiros como uma provocação ao presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa. A reclamação do grupo é da pouca representatividade do PT da Câmara nas decisões de governo. Desde a saída de Luiz Sérgio da Secretaria de Relações Institucionais, eles tentam emplacar um deputado no ministério. Primeiro, foi o ex-líder do governo na Câmara Cândido Vaccarezza (SP). Depois, o ex-presidente da Câmara Marco Maia (RS), seguido pelo atual líder do governo na Casa, Arlindo Chinaglia (SP). A última tentativa foi o ex-ministro da Previdência e ex-presidente do PT Ricardo Berzoini (SP).

Os integrantes dos demais partidos queixam-se que a presidente Dilma resolveu os problemas dos ministros petistas que serão candidatos em outubro — Alexandre Padilha (São Paulo), Gleisi Hoffman (Paraná) e Fernando Pimentel (MG) — e ainda não sabe como fazer as substituições dos demais ministros que também deixarão os cargos para concorrer nas eleições deste ano.

Como mostrou a coluna Brasília-DF de ontem, esses ministros começaram a reclamar a interlocutores da presidente Dilma sobre a demora. Como a Copa do Mundo será no Brasil, eles sabem que os meses de junho e julho — quando começam efetivamente as campanhas — serão mortos do ponto de vista da atenção do eleitorado. Por isso, precisariam deixar a Esplanada o mais rápido possível para percorrer os redutos eleitorais e se tornarem mais conhecidos pela população.

Fonte: Correio Braziliense

36 milhões na dança do emprego este ano

Demissões e pedidos de dispensa devem chegar a 36 milhões no país este ano. Cenário ilustra a alta rotatividade, entre as maiores do mundo, e pesa nos gastos com o seguro-desemprego

Victor Martins, Rodolfo Costa e Pedro Rocha Franco

BRASÍLIA e BELO HORIZONTE– Trinta e seis milhões de brasileiros serão demitidos em 2014 ou pedirão as contas, o equivalente a quase metade da força de trabalho do país. Apesar do número elevado, o dado não reflete uma crise aguda não prevista. Esse contingente, em um curto espaço de tempo, será recolocado no mercado, um público que deixou o Brasil entre os países com as maiores taxas de rotatividade no mundo. Em algumas carreiras, esse índice chega a 150% — ou seja, o quadro de funcionários de uma empresa, em determinados ramos, pode ser renovado 1,5 vez por ano.

Para a maioria, a recontratação ocorre exatamente no mês em que acaba o benefício do seguro-desemprego. No entanto, a coincidência entre o fim da assistência e a recolocação no mercado não é obra do acaso. "Os auxílios financeiros transformaram-se em estímulo à demissão", diz José Márcio Camargo, economista-chefe da Opus Investimentos. Mesmo com a economia vivendo o pleno emprego — quando a maioria da população economicamente ativa tem um posto —, as despesas do governo com o benefício a trabalhadores sem ocupação dispararam: fecharam o ano passado em R$ 44,2 bilhões.

"Toda vez que o trabalhador é demitido, recebe uma quantia elevada comparada ao salário. Para alguém pouco qualificado, ganha-se mais sendo demitido", explica Camargo. "O número de trabalhadores que consegue um posto no mês em que acaba o seguro-desemprego é elevadíssimo. Os dados claramente sustentam essa hipótese de que os benefícios têm responsabilidade direta na alta rotatividade", observa. Camargo pondera ainda que a maioria das demissões ocorre antes de o empregado completar um ano no cargo. "Para demitir depois de 12 meses de contratação, fica mais difícil. Tem de fazer o processo acompanhado pelo sindicato e a burocracia é maior. O patrão, percebendo o interesse do trabalhador em sair, faz isso antes de completar um ano", relata.

Estímulos. O economista e ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman avalia que o mercado de trabalho aquecido também favorece a rotatividade. "A pessoa sabe que pode sair, ficar fora e, depois, voltar. Ele pega o seguro-desemprego nesse meio-tempo. Se o mercado não está tão bom, tem-se medo de perder o posto e aí ninguém arrisca", argumenta. Marcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo, alerta que o número de pessoas demitidas em um ano, o equivalente a aproximadamente 40% da força de trabalho, é um número demasiadamente elevado. Nos Estados Unidos, uma economia cujas relações trabalhistas estão entre as mais flexíveis, a taxa é a metade da brasileira.

O pesquisador explica ainda que, de cada três demissões no Brasil, duas ocorrem por decisão da empresa e uma, a pedido do próprio empregado. "Em qualquer lugar do mundo a expansão do emprego é acompanhada da redução dos gastos do seguro-desemprego no Brasil é o contrário", diz. Pochmann pondera que a rotatividade permite ainda que as empresas troquem trabalhadores mais caros por outros de salário menor.

José Silvestre Prado de Oliveira, coordenador de relações sindicais do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), explica que essa troca excessiva de trabalhadores ocorre em função dos baixos salários. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que mais de 60% dos postos gerados são para funções que pagam até três salários mínimos, valor muito próximo do teto do seguro-desemprego. "A rotatividade é um malefício para o trabalhador", defende Oliveira. "Além de achatar os salários, impede que as empresas invistam na qualificação do funcionário", alerta.

Sistema. Para Pochmann é preciso repensar o sistema de contratação. "Com o tempo que o trabalhador fica no posto, fica inviável investir em qualificação", ressalta. Ele, no entanto, é contrário a projetos que elevam o custo de demissão. Se ficar mais caro, argumenta Pochmann, o custo vai ser incorporado aos preços e o consumidor, no fim, é quem pagará a conta dessa elevação.

Entre os setores de maior rotatividade, a construção civil se destaca. É onde os trabalhadores mais mudam de emprego. No segmento que atua com edifícios, de cada 10 empregados, nove serão demitidos em até um ano. Em infraestrutura e serviços especializados, oito.

Flávio Gomes, de 23 anos, atua na construção civil. Desde 2012, passou por três empregos e, agora, vai parar de trabalhar para terminar os estudos. O cotidiano desgastante como auxiliar de topografia se tornou uma barreira para que ele concluísse o 9º ano do ensino fundamental. "Tinha que atender em vários lugares. Se vinha algum pedido para a empresa, não tinha como deixar de atender. Sempre me atrasava para chegar à aula", explica. "Entrava na sala por volta das 20h e assim eu perdia praticamente todo o primeiro período. Por sorte, os professores me ajudaram."

Em 2012, Flávio Gomes trabalhou por seis meses em uma empresa de manutenção e montagem de máquinas de obra e depois como servente de pedreiro, por oito meses. "Tendo serviço e conseguindo me sustentar, está bom para mim. Mas do jeito que as coisas estavam indo não estava legal", conta. "Só tem futuro bom quem estuda. Tudo o que eu quero é crescer e ter um trabalho melhor", desabafou.

Frustração com baixos salários
Segundo uma pesquisa da Robert Half, maior empresa de recrutamento especializado do mundo, a rotatividade no Brasil, entre 2010 e 2013, cresceu 82%. No restante do planeta, esse avanço foi bem menor, de 38%. Parte desse movimento se explica também pela disputa por profissionais qualificados. "Apesar de a economia não estar tão aquecida quanto o esperado, as empresas não pararam de contratar, principalmente se nos referirmos à mão de obra especializada", destaca o levantamento. Esse mesmo estudo indica ainda que entre os principais motivos para deixar o trabalho estão baixa remuneração, falta de reconhecimento e desmotivação.

Com salários próximos do mínimo, o serviço de call center também está entre os que apresentam altas taxas de turnover. Por mês, 6% dos contratados da AeC pedem demissão e precisam ser substituídos – a média do setor é de 8%. Isso se explica também pelo fato de que três em cada cinco profissionais estão no primeiro emprego. Tanto é que o principal motivo para a saída é outra oportunidade de emprego. O segundo é a conciliação do horário de trabalho com os estudos. "O mercado, embora estagnado, para o primeiro emprego na faixa de salário mínimo ainda está aquecido", afirma o diretor de Recursos Humanos da AeC, Warney Araújo. Além da questão salarial, a média de idade dos contratados, entre 18 e 23 anos, agrava o fenômeno. "Incomoda toda empresa por impedir a sequência de trabalho de qualidade", diz.

A solução do setor tem sido a migração para o interior, com a criação de unidades em municípios de porte médio, onde a taxa de desemprego é maior que a da capital. Em Minas, Montes Claros e Governador Valadares já têm unidades da AeC; Campina Grande, na Paraíba, e Mossoró, no Rio Grande do Norte, também. E, segundo Araújo, não há discrepância entre a mão de obra do interior e da capital.

Na administração pública, a situação é oposta. Em função de salários maiores e da dificuldade em demitir um trabalhador, de cada 10, apenas um sai antes de completar 12 meses. Como a regra trabalhista para o segmento é diferente, comparada à que se aplica ao restante dos trabalhadores, a demissão é algo burocrático e demorado. Na maioria dos casos, exige um processo administrativo que pode durar anos e antes de o servidor perder o posto a disputa pode parar na Justiça. No ano passado, de cerca de 2 milhões de funcionários públicos federais, apenas 450 perderam o cargo — o equivalente a 0,02% do efetivo total.

No agronegócio, em função do período de safra, a troca de trabalhadores é intensa. De cada 10, sete vão receber as contas e ir para casa antes de completar um ano. "No período de safra, contrata-se mais. Na entressafra, demite-se", afirma José Silvestre, do Dieese. No segmento de serviços, a rotatividade também é elevada, cerca de 40%, ou seja, de cada 10, quatro vão ser demitidos em um ano.

Fonte: Estado de Minas

Paulistas comandam campanha de Aécio

Raquel Ulhôa

BRASÍLIA - Com o lançamento de sua pré-candidatura previsto para o fim do mês de março, em São Paulo, Aécio Neves (PSDB-MG) está prestes a concluir a formação da equipe que vai trabalhar em sua campanha eleitoral. Ainda há indefinições, mas os nomes que estão praticamente definidos mostram o peso de São Paulo e a influência do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para a candidatura à Presidência da República. Há até pessoas próximas ao ex-governador José Serra.

O comando político estará a cargo de parlamentares tucanos, pelo menos enquanto não há alianças formalizadas com outros partidos: os senadores Aloysio Nunes Ferreira (SP) e Cássio Cunha Lima (PB) e os deputados Duarte Nogueira (SP) e Carlos Sampaio (SP). Líder da bancada no Senado, Aloysio Nunes é amigo de Serra e aproximou-se de Aécio no Senado. É um dos nomes cotados para ocupar a vaga de vice-presidente na chapa, assunto ainda em aberto.

A missão de Duarte Nogueira será fazer ligação da eleição nacional com a de São Paulo, planejando atividades em comum com o governador Geraldo Alckmin, entre outras coisas. Já Carlão - como Carlos Sampaio é conhecido -, promotor de justiça, vai coordenar o grupo de advogados responsáveis pelas ações jurídicas da campanha.

A equipe de campanha será dividida em colegiados. Um deles será responsável pela comunicação. Outros grupos, separados por temas (segurança pública, saúde, agronegócio e política externa, por exemplo), estarão encarregados de ajustar a relação do candidato com os setores da sociedade. Esses grupos também darão subsídios para as falas de Aécio e outros tucanos em entrevistas, debates e palestras.

Esses colegiados setoriais também vão contribuir para a elaboração do programa de governo, tarefa que terá coordenação do governador Antonio Anastasia (MG). Ele deixará o governo para disputar o Senado. Até julho, a principal missão de Anastasia será comandar o plano de governo.

Uma das áreas prioritárias na campanha tucana será a segurança pública. Para cuidar do núcleo encarregado do assunto, o senador convidou o sociólogo Claudio Beato, diretor do Centro de Estudos em Criminalidade e Segurança Pública da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

O agronegócio ficará nas mãos de João Sampaio - presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Federação das Indústrias de São Paulo (Cosag-Fiesp) e ex-secretário estadual de Agricultura no governo José Serra - e do ex-ministro Alysson Paulinelli.

Convidado para atuar na campanha de Aécio, por indicação de FHC, Sampaio conversou com Serra, que não apresentou objeção. Paulinelli, mineiro, foi ministro da Agricultura de 15 de março de 1974 a 1979 (governo Ernesto Geisel), presidiu a Confederação Nacional da Agricultura e foi deputado federal por Minas pelo ex-PFL.

Ministro da Saúde no primeiro governo Fernando Henrique Cardoso, Barjas Negri estará à frente do grupo da campanha de Aécio responsável pelos assuntos relativos à saúde. Barjas foi secretário-executivo no ministério na gestão de Serra e o substituiu no cargo. Os dois têm boa relação e a competência de Negri é elogiada pelo ex-governador. Economista, foi coordenador de políticas sociais e planejamento do Estado de São Paulo na gestão Franco Montoro.

Foi na equipe econômica de FHC que o presidenciável tucano buscou alguns dos principais colaboradores de sua campanha na área econômica. É considerada certa a participação de Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, Edmar Bacha, integrante da equipe econômica que instituiu o Plano Real (no governo Itamar Franco), e José Roberto Mendonça de Barros, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda entre 1995 e 1998.

Também integram o núcleo formado por Aécio os economistas Samuel Pessoa, professor da Fundação Getulio Vargas (RJ) e chefe do Centro de Crescimento Econômico do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), e Mansueto de Almeida Júnior, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea e ex-coordenador-geral de Política Monetária e Financeira na Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda (1995-97). Foi assessor econômico do ex-senador Tasso Jereissati (CE), político próximo de Aécio.

Os temas relacionados à questão ambiental já estão sendo tratados pelo engenheiro e consultor José Carlos Carvalho - também ex-ministro de FHC (Meio Ambiente) e ex-secretário do Meio Ambiente de Minas Gerais no governo de Aécio - e o ex-deputado Fábio Feldman, ex-secretário estadual de São Paulo (governo Mário Covas). Carvalho e Feldman reuniram dezenas de representantes do setor com o senador. Apresentam propostas para o plano de governo e para o partido na área ambiental.

Para orientar a campanha nas questões de política externa, Aécio convocou Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Londres e em Washington (governo FHC) e presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da Fiesp, e Celso Lafer, ex-ministro das Relações Exteriores no governo FHC.

Para não se submeter às decisões de um único marqueteiro na disputa pela Presidência da República, Aécio decidiu formar um colegiado com profissionais da área de comunicação e marketing político de diferentes agências ou independentes. O publicitário Paulo Vasconcelos, que atuou em campanhas do PSDB de Minas Gerais, inclusive de Aécio, é um nome tido como certo para estar à frente desse grupo.

Ainda na área da comunicação, a campanha contará com um núcleo específico para as ações na internet, que vai trabalhar sob a coordenação do ex-deputado Xico Graziano, diretor do Instituto Fernando Henrique Cardoso. Ele atuou na campanha de Serra ao Palácio do Planalto em 2010, mas se afastaram.

O deputado Eduardo Barbosa (PSDB-MG) e a ex-deputada Rita Camata (ES) vão coordenar um grupo que vai discutir e propor ações na área social, como educação, assistência e inclusão. Eles comandam um núcleo social do PSDB, responsável pelo Portal Social do Brasil, criado para ser canal de discussão com a sociedade na área de políticas públicas.

Andrea Neves, irmã do senador, será uma espécie de consultora, sobretudo na área de comunicação, mas sem função específica. Houve especulações de que ela coordenaria a campanha, o que foi negado pelo grupo próximo do senador.

Fonte: Valor Econômico

Senador do PSB diz que Eduardo Campos irá ao 2º turno

Rodrigo Rollemberg classificou de "muito positivo" o patamar alcançado por Campos nas pesquisa

Aliados de Eduardo Campos se dizem cada vez mais convictos de um segundo turno

Agencia Estado

Um dos aliados mais próximos do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), o senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) afirmou há pouco que a pesquisa Datafolha divulgada hoje "aumenta a convicção" de que o presidenciável do PSB irá para o segundo turno. "Acho que estamos no caminho certo e (a pesquisa) aumenta a minha convicção que vamos ter a eleição em dois turnos e que o Eduardo vai para o segundo turno", resumiu Rollemberg ao Broadcast Político, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.

De acordo com o levantamento publicado hoje pelo jornal Folha de S.Paulo, Eduardo Campos aparece com 12% das intenções de voto, versus 11% marcados no final de novembro do ano passado e 15% em outubro. A presidente Dilma Rousseff (PT) tem 47% das intenções de voto e o senador mineiro Aécio Neves, presidenciável do PSDB, chega a 17%. Com esse quadro, Dilma seria reeleita ainda no primeiro turno, caso o pleito fosse hoje.

O senador Rodrigo Rollemberg classificou de "muito positivo" o patamar alcançado por Campos nas pesquisas, pelo fato de ele ser menos conhecido pela população. Os indicadores, previu Rollemberg, ficarão mais favoráveis ao pré-candidato pessebista a partir da confirmação da ex-senadora Marina Silva como sua vice e com a descompatibilização do cargo de governador, momento em que Campos poderá andar mais pelo País e se tornar mais conhecido. "Na hora que fechar a chapa com a Marina, quando se descompatibilizar do governo e quando um número maior de pessoas perceberem que ele é candidato, naturalmente será beneficiado com isso", disse.

Para ele, a pesquisa deixou claro também que uma "grande parcela" da população quer mudanças no País e quem mais vai se identificar com esse sentimento será a chapa Eduardo Campos-Marina. "Eu percebo isso nitidamente, que há um desejo muito forte de alternância de poder. Acho que o governo não está bem, os indicadores econômicos não estão bons e o perfil de pouco diálogo da presidente não ajuda. Você tem um esgotamento e um desejo de mudança", afirmou o senador.

Mesmo com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, marcando 14% das intenções de voto num dos cenários testados pela pesquisa, Rollemberg disse acreditar que ele não sairá candidato. "É natural por uma exposição grande, mas não se sustenta. É uma candidatura sem partido sem base social. Acho que temos que analisar o quadro que realmente vai ser o quadro na eleição", concluiu.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Por mais tempo na TV, Campos atua para tirar PP da base de Dilma

Murillo Camarotto e Cristiano Zaia

RECIFE e BRASÍLIA - No intuito de reforçar sua candidatura presidencial nos Estados e, se possível, aumentar seu tempo no programa eleitoral de rádio e televisão, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), está trabalhando para tirar o PP da base de sustentação do Palácio do Planalto. Campos e o presidente nacional do PP, o senador Ciro Nogueira (PI), têm conversado com frequência e jantaram no mês passado no município de São Lourenço da Mata, onde foi construído o estádio que receberá os jogos da Copa do Mundo em Pernambuco.

O encontro foi intermediado pelo prefeito da cidade, Ettore Labanca (PSB), que tem livre acesso a Campos e é amigo do deputado federal Eduardo da Fonte, eleito em 2010 com a maior votação de Pernambuco e líder do PP na Câmara. Parte das negociações envolviam a indicação do parlamentar para a disputa pelo Senado na chapa que será encabeçada pelo PSB em Pernambuco. A vaga, no entanto, acabou ficando com o ex-ministro Fernando Bezerra (PSB).

Isso não quer dizer que as negociações estejam encerradas. Outras alianças estaduais, como no Rio Grande do Sul, estão apalavradas, e um eventual acordo nacional ainda está na pauta. Ocupante do Ministério das Cidades, o PP segue por enquanto ao lado da presidente Dilma Rousseff, mas Eduardo da Fonte tem um encontro marcado para a segunda quinzena de março com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem espera ouvir qual será o espaço dedicado ao PP na coligação nacional.

Segundo informou uma fonte que preferiu não ter seu nome publicado, o presidente nacional do PP disse recentemente ao governador do Piauí, Wilson Martins (PSB), que a vontade de apoiar Campos estava "no corpo todo", mas que as circunstâncias o impediam. Ciro Nogueira indicou a esposa, a deputada federal Iracema Portela (PP-PI), para candidata a vice-governadora do senador Wellington Dias (PT), que vai tentar voltar ao governo do Piauí.

Paralelamente à negociação nacional, PSB e PP trabalham em acordos estaduais. No sábado, em Porto Alegre, Campos participou do seminário regional da coligação de seu partido com o Rede Sustentabilidade e o PPS, mas, em uma agenda paralela, reforçou o apoio à candidatura da senadora Ana Amélia (PP-RS) ao governo gaúcho.

O PSB oferece o nome do deputado federal José Stedile (RS), irmão do líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), João Pedro Stedile, para candidato a vice de Ana Amélia. Em troca, o PP apoiaria candidaturas do PSB à Câmara, como a do atual vice-governador do Rio Grande do Sul, Beto Grill.

A costura vem sendo feita há meses pelo deputado federal Beto Albuquerque (PSB-RS), um dos principais estrategistas da candidatura presidencial de Campos. "Estamos conversando com o PP onde há afinidades e queremos essa coligação nos Estados", afirma o parlamentar.

Ana Amélia, por sua vez, se limita a dizer que as conversas têm sido cada vez mais frequentes, apesar de admitir que o PP gaúcho também foi procurado pelo PSDB para apoiar a candidatura presidencial do senador mineiro Aécio Neves. "No cenário gaúcho, a posição é não apoiar a presidente Dilma [Rousseff], e o acordo com o PSB, neste e em outros palanques, não está descartado", disse Ciro Nogueira.

Apesar do alinhamento nacional com o PT, o presidente do PP liberou as negociações estaduais. No Piauí, onde Nogueira é mais conhecido, o entendimento é que ele pode comandar a operação de abandono do barco petista a qualquer momento. "Basta ele ver que começou a entrar água e pula fora", disse uma pessoa com trânsito no meio político piauiense.

Excluído da chapa majoritária em Pernambuco, o PP deve lançar a vereadora do Recife Michele Collins, ligada à comunidade evangélica, para o governo estadual, em uma aliança com o Pros. Eduardo da Fonte vai disputar novamente a Câmara, no intuito de obter uma votação expressiva o suficiente para carregar outros parlamentares do partido. O PP quer eleger 55 deputados federais. Hoje são 40.

A aproximação com o PP encontra resistência entre os atuais aliados de Campos (Rede e PPS). Em uma campanha publicitária recente, por exemplo, Ciro Nogueira disse que o PP assumia publicamente o caráter conservador da legenda.

Repercutiu mal entre os militantes do Rede Sustentabilidade um vídeo no qual o deputado federal gaúcho Luís Carlos Heinze (PP) diz a produtores rurais que quilombolas e índios representam "tudo que não presta". Dirigentes do PPS veem com ressalva o fato de o PP ter em seus quadros lideranças identificadas com a extrema direita, como o deputado Jair Bolsonaro (RJ). (Colaborou Fabio Brant, de Brasília)

Fonte: Valor Econômico

Projeção para o PIB em 2014 caiu para 1,67% e alta da inflação

Na semana na qual será conhecido o PIB de 2013, projeção pera o PIB em 2014 caiu para 1,67% em relatório Focus; para a reunião do Copom, expectativa é de alta do juro para 10,75%

Laís Alegretti e Murilo Rodrigues Alves

BRASÍLIA - Na semana em que será conhecido o Produto Interno Bruto (PIB) do ano passado, a previsão de crescimento da economia brasileira em 2014 caiu de 1,79% para 1,67% na pesquisa Focus do Banco Central. O PIB de 2013 será divulgado na quinta-feira, 27.

Para 2015, a estimativa de expansão também recuou, de 2,10% para 2%. Há quatro semanas, as projeções eram, respectivamente, de 1,91% e 2,20%.

A projeção para o crescimento do setor industrial em 2014 caiu de 1,93% para 1,87%. Para 2015, economistas preveem avanço industrial de 3,00%, ante 2,89% da pesquisa anterior.

Os analistas reduziram a previsão para o indicador que mede a relação entre a dívida líquida do setor público e o PIB em 2014 de 34,80% para 34,70%. Para 2015, segue em 35,00% há dez semanas.

Inflação. A projeção de inflação medida pelo IPCA para 2014 subiu de 5,93% para 6%, de acordo com a pesquisa Focus. Para 2015, a projeção segue em 5,70%. Há quatro semanas, estava em 5,70%. A previsão de inflação para os próximos 12 meses subiu de 6,05% para 6,11%, conforme a projeção suavizada para o IPCA.

Nas estimativas do grupo dos analistas consultados que mais acertam as projeções, o chamado Top 5 da pesquisa Focus, a previsão para o IPCA em 2014 no cenário de médio prazo subiu de 5,86% para 5,89%. Para 2015, a previsão dos cinco analistas se manteve em 5,80%. Há um mês, o grupo apostava em altas de 6,20% para 2014 e 6,00% para 2015.

Entre todos os analistas ouvidos pelo BC, a mediana das estimativas para o IPCA em fevereiro caiu de 0,63% para 0,60%. Para março, a projeção subiu de 0,50% para 0,64%.

Juro. Os economistas consultados pelo Banco Central mantiveram a previsão para a taxa Selic ao final de 2014 em 11,25%. Para 2015, a mediana seguiu em 12,00% ao ano.

A previsão para a taxa que será definida na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de fevereiro, que ocorrerá nesta semana, segue em 10,75% ao ano.

A previsão para a Selic média se manteve em 10,97% ao ano para 2014 e subiu de 11,79% para 11,80% para 2015. Há quatro semanas, estavam em 10,75% e 11,50% ao ano, respectivamente.

Nas estimativas do grupo dos analistas consultados que mais acertam as projeções, o chamado Top 5 da pesquisa Focus, a previsão para a Selic no fim de 2014 segue em 11,75% ao ano. Para 2015, segue em 12,25% ao ano.

Dólar. A mediana das projeções para a taxa de câmbio no final de 2014 subiu de R$ 2,48 para R$ 2,50 nas estimativas dos analistas. Há quatro semanas, a projeção era de R$ 2,45. Para o fim de 2015, a mediana se manteve em R$ 2,55. Há quatro semanas estava em R$ 2,50.

Na mesma pesquisa, o mercado financeiro manteve a previsão para a taxa média de câmbio em 2014 em R$ 2,45. Para 2015, a projeção segue em R$ 2,50. A pesquisa também mostra que, para o fim de fevereiro e março, a estimativa segue em R$ 2,40.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Mais de 500 foram presos nos protestos da Venezuela, denuncia ONG

Segundo levantamento da Foro Penal Venezuelano, 401 foram detidos sem uma acusação formal

Luiz Raatz,

CARACAS - Após quase 20 dias de protestos da oposição e de estudantes contra o governo do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, pelo menos 539 pessoas foram presas pelas forças de segurança, 401 delas sem acusação formal. O levantamento foi divulgado neste domingo, 23, pelo Foro Penal Venezuelano, ONG de direitos humanos crítica ao chavismo que presta assistência jurídica aos manifestantes venezuelanos. Além disso, a entidade contabiliza nove mortos - sete vítimas de violência policial e dois de acidentes decorrentes de barricadas feitas por manifestantes - e 19 jornalistas detidos, além de casos de tortura e extorsão por parte das autoridades. Não há registros de desaparecidos.

"Nós só pedimos que os responsáveis por esses abusos sejam punidos. O governo venezuelano deve identificar os chefes das unidades militares responsáveis pelos abusos", disse o diretor do Foro Penal Venezuelano, Alfredo Romero. "O Estado é cúmplice desse crime de lesa-humanidade."

A ONG apresentou em entrevista coletiva uma série de fotos e laudos médicos de abusos cometidos contra manifestantes. O caso mais chocante é o do estudante Juan Manuel Carrasco, que teria sido violado por um fuzil. A cópia do laudo usado no processo diz que a vítima apresentava um quadro hemorragia intestinal severa, dores abdominais e lacerações internas.

O governo venezuelano nega as acusações de abusos. "Aqui na Venezuela não se tortura. Para haver tortura é preciso dar a ordem e eu não dei essa ordem", disse Maduro em discurso na sexta-feira. "Esse é um governo que respeita os direitos humanos", declarou a Procuradora-Geral da República, Luisa Ortega.

Mais cedo, a Divisão Antihomicídios da Polícia Científica de Caracas identificou cinco membros do Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin) suspeitos de envolvimento na morte do estudante Bassil da Costa, nos protestos de 12 de fevereiro e de ferir mais dois manifestantes. Ele foi morto depois de participar de uma manifestação contra o governo. Os agentes foram identificados como José Miguel Domínguez Ramírez, José Giovanni Valladares López, Edgar José Lara Gómez, Andry Joswua Jaspe López e Jonathan José Rodríguez Duarte. Os suspeitos foram identificados com a ajuda de vídeos e fotos feitos por jornalistas e manifestantes. Depois da morte de Da Costa, Maduro ordenou trocar a cúpula do Sebin.

A entidade jurídica, no entanto, afirmou que o governo chavista vale-se da tática de prender os estudantes sem acusação como forma de intimidação, para tentar coibi-los a protestar outras vezes. "Muitas vezes exigem dinheiro para libertá-los ou os agridem na prisão", disse o advogado Gonzalo Himiob. "Houve um caso de um estudante que se apresentou com hematomas ao juiz depois de ter dado entrada na cadeia com saúde. Foi liberado."

Repressão. Nos últimos dias, ao menos duas manifestações foram reprimidas com violência pela Guarda Nacional Bolivariana no bairro de Altamira, na zona leste de Caracas. Na última delas, no sábado, a reportagem flagrou quatro prisões feitas por homens da Polícia Nacional Bolivariana na Avenida Francisco de Miranda. Os estudantes foram algemados e levados de moto pelos guardas. Também na manifestação da noite de sábado, na qual quatro estações do metrô foram fechadas, a prefeitura de Chacao atendeu 25 feridos pelas bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha.

No ato de quarta-feira, estudantes e jornalistas foram cercados em edifícios residenciais de Altamira, enquanto a GNB atirava bombas de gás contra eles. No fim da noite, motorizados armados percorriam em alta velocidade a Avenida Francisco de Miranda atirando para o alto. "Quando os motorizados vêm em bando você sabe que é melhor correr", disse a estudante de comunicação social Aranxtsa Pomonty ao Estado. Ela contou que teve de se esconder por horas em um prédio para não ser presa.

No sábado, voltou à praça para protestar. Depois de dois dias relativamente calmos, a GNB voltou a reprimir os atos da oposição com mais violência. Mais cedo, uma marcha convocada pela Mesa de Unidade Democrática (MUD) tinha reunido dezenas de milhares de pessoas em Caracas. Os guardas avançaram contra as barricadas com tiros de borracha e bombas de gás lacrimogêneo. Parte dos estudantes, que fugiram pela Avenida Francisco de Miranda, tentou conter o avanço da polícia com barricadas de lixo queimado. Foi quando passaram os motorizados atirando para cima. O resto dos manifestantes correu na direção do centro. Alguns foram presos.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Aécio Neves: Diplomacia à deriva

O Brasil perdeu mais uma oportunidade histórica de se colocar à altura de seu papel de liderança no continente.

Com a crise política, econômica e social na Venezuela e a escalada crescente da violência e a ameaça real à estabilidade institucional do país, esperava-se do governo brasileiro uma ação diplomática pró-ativa e firme, coerente com a tradição centenária do Itamaraty, pautada no respeito aos direitos humanos, à defesa da liberdade e da democracia.

Ao assinar as notas do Mercosul e do Unasul que emprestam respaldo ao presidente Nicolás Maduro, o Brasil ignora as respostas que o governo venezuelano tem dado às manifestações de protesto, com flagrante repressão contra toda e qualquer oposição ao regime e o cerceamento ostensivo à liberdade de expressão. Soma-se à vocação autoritária do chavismo uma grave instabilidade econômica, com a maior inflação da América Latina (57%) e a menor taxa de crescimento (1,1%). Arruinado pela má gestão, o país expõe seus cidadãos a uma rotina de escassez de alimentos e de energia.

No lugar de oferecer colaboração institucional para a promoção do diálogo entre as forças políticas em conflito, o Brasil submete sua política externa às conveniências ideológicas, deixando de representar os interesses permanentes do Estado brasileiro para defender o ideário do governo de plantão.

Longe de ser um fato isolado, a posição se inscreve no rol de desacertos desde que o governo impôs à atuação da Chancelaria o viés partidário. Nunca é demais lembrar episódios como a aceitação dócil da expropriação das refinarias da Petrobras em Santa Cruz, em 2006; a deportação dos boxeadores cubanos nos Jogos Pan-Americanos de 2007 e o tratamento dado ao senador boliviano exilado na Embaixada em La Paz. Onde está a coerência com a atitude adotada na crise paraguaia, em que foi invocada a cláusula democrática do Mercosul? Por afinidades ideológicas, o Brasil está deixando de assumir suas responsabilidades internacionais também na questão dos direitos humanos.

A partidarização da política externa tem consequências também na política de comércio exterior. As crises na Venezuela e na Argentina, pela passividade da reação do Itamaraty, estão trazendo prejuízos à credibilidade do governo brasileiro e às empresas nacionais que encontram barreiras para exportar e grandes dificuldades para receber seus pagamentos.

O mundo desconfia do Brasil, e não é à toa. Pouco adianta a presidente da República reafirmar no concerto internacional a posição do Brasil como país aberto, democrático, que respeita as regras internacionais, se, na prática, damos guarida a governos autoritários que desprezam a democracia e o Estado de Direito.

Aécio Neves é senador (MG) e presidente nacional do PSDB

Fonte: Portal do PSDB & Folha de S. Paulo

Luiz Carlos Azedo: A conspiração de Lula

A presidente Dilma Rousseff deve se encontrar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na próxima quarta-feira. A relação entre os dois anda cada vez mais tensa. Lula concorda com a tese de que as intervenções excessivas do governo nas relações com o mercado deterioraram o ambiente econômico e afugentaram os investidores. No ano passado, havia sugerido que Dilma mudasse a equipe econômica, substituindo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, pelo ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles. A presidente da República ficou de pensar no assunto e depois disse não, preferiu manter o atual ministro da Fazenda no cargo.

A atual política econômica foi concebida por Dilma, Mantega e pelo ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante; com Meirelles na Fazenda, novamente seria "blindada" pelo mercado, com o ex-presidente Lula de avalista. Desde o "não" de Dilma, porém, o ambiente econômico piorou e a conspiração entre grandes empresários a favor do "Volta, Lula!" não parou de crescer. A adesão dos petistas à tese já é majoritária, com exceção dos que estão no governo. O ex-presidente da República, porém, na semana passada, resolver puxar o freio de mão e evitar novas reuniões com empresários. Dilma é refém de Lula. O ex-presidente se comprometeu a apoiá-la, mas, se houver risco de perder a eleição, tudo muda.

A propósito, as pesquisas de opinião do fim de semana deram certo fôlego a Dilma Rousseff: mantiveram seu favoritismo nas eleições deste ano. Entretanto, não garantem uma vitória no primeiro turno. As avaliações do governo e de seu desempenho estão estagnadas. Nada garante que a situação do país vá melhorar daqui até as eleições. Analistas avaliam que a projeção de 2% de crescimento do PIB para 2014 é considerada otimista e sujeita a chuvas e trovoadas, principalmente por causa da alta dos juros, da redução dos financiamentos do BNDES, dos cortes no Orçamento da União e da crise na Argentina. Além disso, o desgaste do governo por causa da Copa do Mundo é maior do que se imaginava. Virou mais uma incógnita do ponto de vista eleitoral.

É dura a vida de Dilma como candidata à reeleição. Mesmo tendo a vantagem estratégica — em relação aos adversários Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) — de fazer pré-campanha no exercício do cargo de presidente, com a agenda de viagens aos estados turbinada e a própria imagem anabolizada por maciça propaganda oficial.

Uma reforma incruada
A reforma ministerial continua incruada. Até agora só avançou para os lados do PT, ou melhor, para os lados do ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que foi guindado ao cargo e ainda controla os dois ministérios que ocupou anteriormente, Ciência e Tecnologia e Educação (para os quais indicou técnicos de sua confiança, os ministros Marco Antônio Raupp e José Henrique Paim, respectivamente). A reforma ministerial empacou devido à resistência do PMDB, que deseja mais participação no governo e cobra apoio eleitoral do PT nos estados, principalmente no Rio de Janeiro e no Ceará, o que não deve acontecer.

O vice-presidente Michel Temer deve ter uma conversa com Mercadante e a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, no Palácio do Jaburu, ainda hoje. Aliado leal da presidente Dilma, está se enfraquecendo com os demais caciques do PMDB por causa da reforma. A conversa é preparatória do seu encontro com Dilma amanhã, para fechar o acordo de participação no governo. Os ministros Edison Lobão (MA), de Minas e Energia, e Garibaldi Alves (RN), da Previdência, ambos senadores, e Moreira Franco, da Secretaria de Aviação Civil, pretendem ficar onde estão. Os problemas são Agricultura e Turismo, cujos titulares, os deputados Antônio Andrade (MG) e Gastão Vieira (MA), estão voltando para a Câmara. O Ministério da Integração Nacional foi pleiteado pela legenda para fortalecer suas posições no Nordeste.

A aposta de Dilma com o PMDB é alta. Acredita que convencerá o líder da legenda no Senado, Eunício de Oliveira (CE), a aceitar o cargo de ministro da Integração Nacional em troca da retirada de sua candidatura ao governo do Ceará. Essa seria única forma de entregar a pasta ao PMDB e não ao governador Cid Gomes (Pros) e seu irmão Ciro (Pros), como foi prometido. Até agora, Eunício não deu sinais de que vai jogar a toalha. Caso volte atrás, será mais fácil resolver o problema da bancada do PMDB na Câmara, que articula um "blocão" independente com outros aliados descontentes para pressionar o Palácio do Planalto.

As pastas da Agricultura e do Turismo seriam suficientes para neutralizar a rebeldia do líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), junto da maioria da bancada. A relação Palácio do Planalto com a bancada peemedebista do Rio de Janeiro, porém, já é leite derramado, por causa da consolidação da candidatura do senador Lindbergh Faria (PT-RJ) ao Palácio Guanabara, contra Luiz Fernando Pezão (PMDB), o candidato do governador Sérgio Cabral (PMDB).

"É dura a vida de Dilma como candidata à reeleição. Mesmo tendo a vantagem estratégica — em relação aos adversários Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) — de fazer pré-campanha no exercício do cargo"

Fonte: Correio Braziliense

Valdo Cruz: Inimigo mora ao lado

A pesquisa Datafolha mostra que hoje, insisto, hoje, o maior "adversário" da presidente Dilma Rousseff continua sendo seu criador, o ex-presidente Lula.

Em termos gerais, o levantamento traz boas notícias para a petista. Ganha no primeiro turno de seus oponentes, e eles, até agora, não conseguem encarnar o desejo de mudança da maioria da população.

Aí começam os sinais de alerta para a presidente. Os entrevistados apontam Lula, que aparece na frente de Dilma na pesquisa, como o melhor "candidato" para mudar o rumo do próximo governo em 2015.

Algo que seus pretensos aliados políticos e empresariais não se cansam de repetir. E não só mais reservadamente, cada vez mais explicitamente. O coro "volta, Lula" nunca esteve tão forte como agora.

Tão forte que há um clima de rebelião no ar, captado pelo ex-presidente em conversas com interlocutores, ao quais insistiu que não há hipótese de vir a substituir Dilma.

A pesquisa acendeu também um sinal amarelo sobre a avaliação do governo. Apesar de ela ter ficado estável, subiu o número de eleitores que considera o governo ruim e péssimo. Um primeiro aviso de que o vento pode mudar ali na frente.

O cenário de incertezas na área econômica, com os problemas do setor elétrico, vizinhos aos frangalhos e inflação ainda alta, pode minar o capital político presidencial.

Se o vento mudar, hoje ainda uma hipótese, o maior "adversário" pode deixar de ser Lula. Com a proximidade da campanha e uma economia fraca, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) têm chances de incorporar o desejo de mudança e conquistar o eleitorado.

Aí, tudo indica, o PT terá perdido o timing da troca de candidatos. Lula entraria em campo num clima de que sua criatura fracassou. Neste caso, ao contrário do que o petista tem dito a seus interlocutores, talvez Dilma Rousseff precise mudar já. E não esperar apenas 2015.

Fonte: Folha de S. Paulo